Se, por um lado, os preços da soja não colaboraram, por outro, o desempenho trazido pelas sementes de girassol e pelo biodiesel foram importantes para alavancar os resultados da Caramuru Alimentos, uma das maiores processadoras de grãos e produtora de óleos vegetais do País, no segundo trimestre deste ano.

A companhia registrou lucro líquido de R$ 174,1 milhões, alta de 73,7% sobre os R$ 100,2 milhões de um ano antes, de acordo com balanço divulgado na noite de quinta-feira, dia 14 de agosto. Os números reforçaram a tese do novo CEO da companhia, Marcus Thieme, que assumiu o cargo no começo deste ano, de que é preciso diversificar cada vez mais os negócios da empresa.

Nos dados divulgados pela Caramuru, ficou clara, por exemplo, a expansão do girassol no portfólio de commodities obtidas.

O girassol é uma cultura de inverno plantada após a soja na maioria dos casos e já é esperado que traga bons resultados no segundo trimestre do ano.

Mas chama a atenção o fato de que a originação de sementes cresceu 21,2% no período, de 22,9 mil para 27,7 mil toneladas, enquanto a comercialização de óleo de girassol aumentou 21,7%.

Para o ano, a companhia tem como meta atingir 70 mil toneladas de originação de girassol neste ano, 37,8% a mais que o volume do ano passado, que foi de 50,8 mil toneladas, resultado prejudicado por condições climáticas piores.

A soja, por sua vez, continua sendo a commodity mais representativa da companhia, respondendo por quase todo o volume de originação no segundo trimestre – 386,1 mil toneladas de um total de 417,8 mil toneladas –, mas apresentou queda de 36,5% em relação ao mesmo período de 2024. O milho teve recuo ainda mais acentuado, passando de 242,6 mil toneladas para apenas 3,9 mil toneladas.

No segmento de biocombustíveis, o desempenho foi positivo: a receita subiu 13,9%, de R$ 516,2 milhões para R$ 588 milhões. No primeiro semestre, houve um aumento de 22,7% nos preços e de 17,8% no volume comercializado.

Os resultados confirmam a visão de futuro apresentada por Thieme durante um painel com outros executivos em evento da agência de preços Fastmarkets, em São Paulo, também na quinta-feira. Ele destacou, em sua fala, as oportunidades que o girassol e o biodiesel oferecem à Caramuru.

Ao AgFeed, ele explicou que essa estratégia amplia a base de originação, incorporando mais um produto ao processo de esmagamento. “O girassol tem um teor de óleo maior que o da soja, o que nos garante uma vantagem adicional”, afirmou o CEO.

Thieme disse também que o aumento do cultivo das sementes de girassol também favorece o produtor. “Para ele, o girassol é também um hedge”, afirmou.

“Se o produtor se atrasou um pouco na janela de plantar o milho, ele pode plantar o girassol. Já temos muitos dados mostrando que a produtividade do girassol tem sido muito melhor, trazendo também rentabilidade para o produtor, se ele consegue encaixar isso dentro de uma janela correta”, afirmou.

Com isso, a empresa planeja ampliar a capacidade de esmagamento de girassol de sua planta de Itumbiara (GO), embora Thieme afirme que ainda não há prazo para isso acontecer.

“Por enquanto a gente está definindo, não tem nada aprovado no conselho, mas está nos nossos planos”, disse o CEO da Caramuru, sem dar mais detalhes.

Hoje, a unidade pode produzir 600 toneladas diárias de óleo refinado de soja e processar 500 toneladas mensais de óleos especiais de milho, girassol e canola.

No biodiesel, a companhia, uma das maiores produtoras do biocombustível no país, vem sendo beneficiada pelos aumentos de mistura obrigatória de biodiesel no diesel.

Em março do ano passado, a mistura subiu de 12% para 14% e, mais recentemente, passou a 15%, mudança efetivada no último dia 1º de agosto. “A gente tem agora mais volume de biodiesel e com preços melhores”, avaliou Thieme.

Além dos preços melhores, um investimento feito pela Caramuru deve ajudar também a companhia a melhorar suas margens com o biocombustível.

A empresa está fazendo a ampliação de sua planta de processamento de soja em Ipameri (GO), passando de 450 mil toneladas esmagadas por ano para 940 mil toneladas, ao custo de R$ 208 milhões.

“Antes a gente transferia da nossa planta de Itumbiara ou comprava no mercado o óleo que a gente precisava para produzir o biodiesel. Agora estamos ampliando a planta de Ipameri para ela ser autossuficiente”, explicou Thieme.

Atualmente, cerca de 35% da receita da Caramuru vem dos biocombustíveis, disse Thieme.

Os negócios devem crescer com um novo investimento: a empresa anunciou, ainda no ano passado, a instalação de uma usina de etanol de milho em joint-venture com a cooperativa Biocen, do Mato Grosso.

Sediada em Nova Ubiratã (MT), a planta terá capacidade de processar 600 mil toneladas de milho ao ano, produzindo 280 milhões de litros de etanol e 175 mil toneladas de DDG. O começo de operação da unidade industrial está previsto para o começo de 2026.

Os números do balanço

Entre abril e junho, a receita líquida da Caramuru recuou 2,5%, de R$ 2,0 bilhões para R$ 1,9 bilhão. A queda foi puxada pela redução de 26% na receita de commodities, para R$ 479 milhões, principalmente devido ao recuo de 51,5% nas vendas de soja em grão, reflexo da sazonalidade.

A receita de commodities diferenciadas, como glicerina refinada e proteína concentrada de soja não transgênica, também teve retração, chegando a 3,9%, para R$ 663,1 milhões

O resultado enfraquecido vindo das commodities foi atenuado pelo crescimento da receita auferida com produtos de consumo e outros, que subiu 38,8% no período, indo de R$ 188,5 milhões para R$ 261,8 milhões, e também do biocombustíveis.

Esses negócios da Caramuru foram beneficiados por preços médios de venda e volumes de comercialização melhores na primeira metade do ano.

No caso dos produtos de consumo, o preço médio de venda subiu 11,4% no primeiro semestre de 2025, e os volumes de vendas subiram 15,9%.

O Ebitda ajustado (sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia melhorou no segundo trimestre, subiu 51,6%, de R$ 172,1 milhões para R$ 261,0 milhões, com margem passando de 8,4% para 13,1%.

A dívida líquida da companhia cresceu 30,5% entre o segundo trimestre do ano passado e o mesmo período deste ano, passando de R$ 1,9 bilhão para R$ 2,4 bilhões, mas a alavancagem, que é a relação entre dívida líquida e Ebitda, caiu 37,9%, passando de 5,58x para 3,46x.

Resumo

  • Ao AgFeed, o CEO da Caramuru, Marcus Thieme, disse que investimentos em girassol e biocombustíveis reforçam estratégia de diversificação dos negócios da companhia
  • Lucro líquido subiu 73,7% no segundo trimestre, para R$ 174,1 milhões, impulsionado por biocombustíveis e sementes de girassol
  • Receita com biodiesel avançou 13,9%; a originação de sementes de girassol cresceu 21,2%, enquanto soja e milho registraram forte queda