Santos (SP) - “Todos os terminais do porto têm pelo menos um projeto de crescimento, seja em ampliação de capacidade ou criação de novas instalações”.

A premissa de Rodrigo Anselmo, gerente comercial da área de portos, terminais e indústrias da Kepler Weber, revela um pouco da ambição de diversificação de receitas que a empresa tem vivido nos últimos anos.

A fala, direcionada a jornalistas e analistas do mercado financeiro durante um evento da empresa no Terminal XXXIX (T39), no Porto de Santos, nesta semana, mostra como a companhia, quase centenária, olha para o futuro: diversificando receitas com menos exposição ao preço das commodities.

A Kepler Weber está presente em toda a cadeia do agro. Como relembrou o CEO, Bernardo Nogueira, apesar de mais associada aos silos vistos em fazendas e agroindústrias, o segmento de portos e terminais tem crescido com intensidade nos últimos anos.

De 2019 a 2023, enquanto a receita do segmento de fazendas cresceu 143%, a outra operação à beira mar avançou 163%.

No primeiro semestre deste ano, a receita líquida total da Kepler Weber atingiu R$ 708 milhões. Desse total, R$ 84 milhões, cerca de 11,8% do total, vieram do segmento de Portos e Terminais.

Considerando o ano fechado de 2023, da receita de R$ 1,5 bi no ano da Kepler, R$ 94,6 milhões (6,7%) vieram das vendas para esse segmento específico. Além do resultado de 2024 até agora já chegar bem próximo ao ano completo do ano passado, a representatividade aumentou no mix de receitas.

O avanço nas receitas da Kepler quando o assunto são portos e terminais mostra que o apetite para melhorar as estruturas de escoamento para fora do País está crescendo.

Com os desafios da logística brasileira em escoar safras cada vez maiores, diversas empresas têm anunciado investimentos no Porto de Santos, o maior do País.

Só nos últimos quatro meses, a Bunge e a japonesa Zeh-No Grain pagaram R$ 600 milhões em metade de um terminal local, a CLI investiu R$ 565 milhões para melhorar o escoamento de açúcar e grãos e a Rumo criou uma Joint Venture com a CHG CHS para criar um novo terminal portuário em com a capacidade para movimentar 9 milhões de toneladas de grãos e 3,5 milhões de toneladas de fertilizantes anualmente.

Fora do litoral paulista, o mercado acompanha movimentos expressivos no Arco Norte e até em estados sem produção agrícola, como é o caso do Rio de Janeiro e do Porto do Açú, com projetos de transporte de produtos do agronegócio brasileiro.

Nogueira vê que a Kepler tem surfado nessa onda positiva dos portos, com destaque para o Porto de Santos. Por lá, a empresa estima que está presente em 60% das correias transportadoras existentes e em 88% do armazenamento de grãos sólidos.

Na baixada santista, Cutrale, Cargill e Caramuru são só alguns exemplos de empresas que foram clientes da Kepler no segmento de portos e terminais. De acordo com o CEO, esse crescimento acompanha também os esforços que a Kepler tem feito em otimização de produtos.

“As empresas demandam por mais volume e movimentação por hora. Se há 15 anos um secador tinha uma capacidade de 50 toneladas por hora, hoje a movimentação é de até 300 toneladas por hora. As correias transportadoras triplicaram de volume, e o custo de tudo é proporcional ao aumento de capacidade”, disse o executivo.

O destaque, segundo Nogueira, é o KW Robust, que foi instalado no T39 há dois anos e tem capacidade de transportar 2 mil toneladas de produtos a cada 60 minutos.

No terminal, que é de propriedade da Caramuru e da Rumo, a Kepler instalou esse transportador enclausurado que evita emissão de particulados. “A população de Santos tem crescido e chegado cada vez mais perto do Porto. Com nosso equipamento enclausurado, a operação não emite poeira ou outras partículas”.

Por lá, atualmente existe um armazém com capacidade para 135 mil toneladas e dois silos que comportam 61 mil toneladas cada. Até agora, no ano, o T39 já recebeu 4,9 milhões de toneladas de grãos e farelo de soja, o principal produto que passa por lá.

Antes de ser 50% da Rumo e 50% da Caramuru, a estrutura pertencia a um consórcio que envolvia ADM e LDC; Em 2021, o novo contrato de arrendamento foi aprovado para os atuais proprietários.

De acordo com Sérgio Santos, gerente de engenharia do terminal, para os próximos anos, o T39 prepara a criação de um novo berço (que permite receber mais um navio), para dobrar sua capacidade para 14 milhões de toneladas por ano.

Fora de Santos, Nogueira cita que a empresa tem grandes projetos no Arco Norte e na Bahia. Espalhados pelo país, a empresa atende Bunge, Amaggi, LDC. “Todos os principais players logísticos são clientes Kepler de longa data”.

Em sua visão, o segmento que hoje representa cerca de 7% do resultado anual da empresa deve crescer e variar até 12% nos próximos anos. “Vejo esse crescimento muito em função do potencial de portos em todo o País. Mas todas as áreas do negócio vão crescer, com portos crescendo mais rápido”.

Em seus cálculos, hoje existe um déficit de armazenagem de cerca de 100 milhões de toneladas, o que acaba gerando uma grande pressão nos momentos de colheita e fretes.

“Isso torna o investimento em armazenagem num investimento com retorno ainda mais rápido para todos na cadeia, desde agricultor, cooperativa e indústrias até portos”, resume Bernardo Nogueira, CEO da Kepler Weber.

O descolamento da soja

Esse movimento de diversificação na Kepler fez Nogueira perceber que a empresa tem se “descolado do preço da soja”.

Hoje, 30% do resultado da companhia está ligado à vendas diretas para produtores. Com uma exposição maior a agroindústrias e operações mais complexas, o cenário macro de diminuição no preço das commodities tem afetado pouco os resultados da companhia.

“No passado, o ritmo das nossas vendas diminuía quando o preço da soja caía. Percebemos, pelos resultados de 2024, que a demanda por armazenagem segue sólida e robusta e esses 70% de outros clientes são menos influenciados por esse preço”, afirmou Nogueira.

Esse descolamento possui três razões para o executivo. Primeiro, o déficit natural de armazenagem do País, que ano após ano aumenta o tamanho de suas safras.

Outro ponto é que ele considera que, no geral, produtores rurais possuem mais condições financeiras do que há 20 anos, o que os ajuda a pensar em novos investimentos.

Ele explica que, de 2000 até meados de 2015, o agricultor estava focado no aumento de área e em desbravar novas fronteiras como o Matopiba.

Pensando numa pirâmide, Nogueira vê que investimentos em compra de terra, correção de solo e aquisição de equipamentos eram as prioridades da base do produtor. “Hoje ele olha para investimentos que o ajudem a ficar mais competitivo, o que inclui armazenagem”.

Por fim, existe uma oportunidade de aumentar não só a capacidade, mas a eficiência do serviço de armazenagem.

“A exportação cresce e, com isso, aumenta a demanda por mão de obra e as normas ambientais. Há oportunidade de adequar e fazer retrofit em parques instalados antigos”.

O CEO vê que a empresa caminha para um ano de 2024 marcante, sendo, segundo ele, o sétimo consecutivo de resultados consistentes. 2025 também deve ser bom. Apesar de cedo, ele afirma que as vendas para o próximo ano já estão sendo feitas nesse momento.