O segmento de cana-de-açúcar está em um momento de transição. O aumento da oferta global de açúcar já pressiona os preços nos mercados internacionais, e o etanol ainda tenta lidar com os impactos da crescente participação do milho como matéria-prima.

Os efeitos dessa transição já aparecem na safra 25/26, que já está praticamente finalizada, e devem continuar presentes no período 26/27, segundo analistas e produtores. Com a moagem de cana voltando a crescer, depois dos desafios climáticos enfrentados nos últimos anos.

A projeção do Ministério da Agricultura é que a moagem feche 2025 em torno de 600 milhões de toneladas de cana. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) projeta 590 milhões de toneladas.

Nem o governo nem a Única já têm projeções oficiais para a safra 26/27. No entanto, o analista Andy Duff, estrategista global de açúcar e etanol do Rabobank, afirma haver “um consenso” de que a safra será grande, de pelo menos 620 milhões de toneladas.

Esse cenário tem impacto nos preços dos dois principais produtos retirados da cana. No caso do açúcar, a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) afirma que a cotação do açúcar nos contratos para março, abaixo de 15 centavos de dólar por libra/peso (USc/lbp) estão “muito próximos ou até abaixo do custo de produção”, afirma José Guilherme, CEO da entidade.

A Índia é o ponto-chave nessa nova realidade para o açúcar, que registra uma queda acumulada de 24% em 2025.

Um dos maiores produtores globais, juntamente com o Brasil, o país produziu mais de 4 milhões de toneladas nos dois primeiros meses da safra 25/26, iniciada em outubro. O volume representa um aumento de 42% em relação ao mesmo período da safra anterior, segundo dados da Associação Indiana de Fabricantes de Açúcar e Bioenergia (Isma, na sigla em inglês).

Esse cenário permitiu que a Índia retomasse as exportações de açúcar, sem comprometer a oferta local. Tendência que deve continuar durante o ano de 2026, já que a projeção do Rabobank é que o país produza 31 milhões de toneladas até o fim da safra, 5 milhões de toneladas a mais que na safra anterior.

O milho no meio do caminho

Quanto ao etanol, tanto a Orplana quanto os analistas destacam que um dos pontos mais importantes na precificação de mercado é a crescente produção do combustível originado do milho.

A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) estima que a safra 25/26 vai terminar com uma produção muito próxima de 10 bilhões de litros do produto. No período 24/25, foram 8,2 bilhões de litros.

A entidade faz também uma projeção de longo prazo, estimando uma produção de 16,6 bilhões de litros de etanol de milho na safra 33/34. Ou seja, espera-se um aumento superior a 60% na produção em um espaço de oito anos.

Enquanto isso, a produção de etanol de cana teve uma queda significativa na safra 25/26, de quase 14%, segundo dados da Unica levantados pelo Itaú BBA. A estimativa é que o período feche com 23,1 bilhões de litros. Na safra 23/24, por exemplo, a produção de etanol foi superior a 27 bilhões de litros.

Para o banco, o etanol começa 2026 valorizado, mas o mercado está sujeito a perder força no segundo semestre.

“Esse cenário, somado ao alto custo do dinheiro e às taxas elevadas de financiamento, tem levado produtores a reavaliar investimentos, especialmente em adubação e manejo do canavial”, afirma José Guilherme, da Orplana.

Além dos preços, o CEO da Orplana ressalta que o caráter eleitoral do ano de 2026 aumenta a atenção dos produtores.

Ele classifica o Código Florestal como “robusto”, mas ressalta a necessidade de que ele seja cumprido na prática.

“A segurança jurídica e a previsibilidade nas políticas públicas é ainda mais relevante para os produtores de cana, que é uma cultura de longo ciclo, com investimentos que dão retorno após cinco ou seis ciclos”, pontua José Guilherme.