Nascida em meio aos canaviais paulistas, a montadora Grunner ganhou notoriedade e forte presença no mercado sucroenergético brasileiro graças a uma tecnologia de ajuste automático de bitola dos eixos de suas “máquinas” às linhas de plantio, reduzindo significativamente o pisoteio de pneus sobre plantas que costumavam representar prejuízos significativos aos produtores.
Este ano, a empresa precisou testar essa capacidade de adaptação em seus próprios negócios. Seus principais clientes, as usinas de açúcar e etanol, viveram uma safra de retração nas colheitas, na moagem e na receita, fazendo com que as vendas de suas smart machines praticamente repetisse o resultado do ano anterior.
“Tivemos um ambiente de negócios mais instável, com um começo do ano forte e uma evolução mais fraca, à medida em que o setor começou a sentir efeitos adversos do clima e dos preços dos seus produtos”, analisou Gabriel Moretto, diretor financeiro da empresa, em entrevista ao AgFeed.
“Ao longo ano, houve uma tendência de adiamento de encomendas, mas, felizmente, nenhum cancelamento”.
Uma retomada dos negócios, nos últimos meses, permitiu chegar em dezembro com a previsão de fechar o ano com um número de novas máquinas vendidas equivalente ao de 2024, entre 240 e 250.
Na receita foi possível até ir além e registrar crescimento. A estimativa de Moretto é atingir os R$ 400 milhões, graças também à adaptação da rota dos negócios a um mercado com “bitola” mais estreita. Em 2024, foram R$ 350 milhões.
Se o setor sucroalcooleiro precisou ser mais conservador na renovação das frotas, a Grunner virou o volante para o segmento de reposição de peças para a clientela que já utiliza os equipamentos da marca.
Assim, de certa forma, a companhia colheu em 2025 o que plantou nos anos anteriores. Com mais de 1,5 mil máquinas em operação no País, a Grunner hoje já consegue obter bons volumes também na comercialização de peças e serviços de manutenção.
“Tivemos um crescimento de 50% no mercado de reposição”, aponta o diretor. “E acreditamos manter essa alta significativa em 2026”.
No recálculo de rota feito este ano, a Grunner focou mais no avanço territorial de seus serviços, reforçando a presença de suas equipes mais próximas dos clientes. Com isso, segundo Moretto, conseguiu melhorar a distribuição e agilizar a entrega de peças.
Junto a grandes clientes, a companhia ofereceu planos específicos de manutenção, com a presença de técnicos dedicados.
Há outros caminhos traçados no GPS da Grunner para os tempos de menor apetite dos seus principais compradores. Olhando para dentro de casa, a empresa fundada pelos irmãos Henrique, Lívia e Mateus Belei, produtores de cana na região de Lençóis Paulista (SP), trabalhou para ampliar a diversidade de produtos, dentro e fora de sua principal cultura.
Com investimentos no desenvolvimento de produtos, a Grunner quer depender cada vez menos dos equipamentos para transbordo, seu carro-chefe. Em 2025, a venda da máquina para aplicação de vinhaça e fertilizantes líquidos (ASP) foi fundamental na manutenção do número de máquinas comercializadas.
A nova aposta é o equipamento para distribuição de sólidos (ADS), que pode ter aplicações também nas culturas de grãos e na pecuária. “Precisamos reduzir a dependência do sucroenergético”, afirma Moretto.
A Grunner acelerou, ainda, na rota das parcerias comerciais e tecnológicas. A companhia já mantém há vários anos um laço estreito com a alemã Mercedes-Benz, que fornece os chassis e motores que formam o coração de suas máquinas.
Nesse segmento, elas trabalham juntas agora no desenvolvimento de propulsores movidos a etanol, uma opção especialmente favorável às usinas.
A mais nova parceria foi fechada no início de dezembro com a multinacional Michelin. Fornecedora dos pneus agrícolas originalmente instalados nas máquinas da Grunner, a empresa francesa passará a produzi-los em sua fábrica no Rio de Janeiro.
Segundo Moretti, a troca de pneus importados por nacionais agrega competitividade e disponibilidade de produtos, tanto no mercado de máquinas novos quanto no de reposição.
“O pneu Michelin atende exigências específicas dos equipamentos da Grunner, oferecendo maior durabilidade, tração adequada e desenho que reduz a compactação do solo, benefícios que impactam diretamente a produtividade e a sustentabilidade das operações agrícolas”, diz Moretti.
“Além disso, vamos poder atender o cliente com mais agilidade”.
As parcerias se estendem até mesmo a outras montadoras de máquinas agrícolas. Com a também paulista Jacto, sediada em Pompeia, na mesma região de Lençóis Paulista, o trabalho conjunto se dá em torno do sistema de navegação autônoma da companhia, o Grunner Go.
Resumo
- Mesmo com retração das usinas, a Grunner deve fechar 2025 com vendas estáveis de máquinas e receita estimada em R$ 400 milhões
- A empresa acelerou no mercado de reposição, que cresceu 50%, ampliou serviços e reforçou a presença regional junto aos clientes
- Estratégia passa também por parcerias como a fechada com a Michelin para fabricação no Brasil dos pneus usados pela montadora