O aumento expressivo da inadimplência de produtores rurais levou mais uma grande rede de distribuição de insumos a pedir suspensão de pagamentos a credores e da fixação de grãos junto a agricultores.

Desde o dia 10 de outubro passado, a Belagrícola, empresa controlada pelo grupo chinês Pengdu, opera sob a proteção de uma tutela cautelar concedida pela justiça de Londrina, no Norte do Paraná.

A decisão dá um prazo de 60 dias para que a companhia – que tem 52 filiais para revendas de insumos e unidades de recebimento de grãos com capacidade estática de 1,5 milhão de toneladas para armazenamento de grãos em 58 silos, sendo 40 próprios – reestruture seu caixa e retome as operações dentro da normalidade.

A tutela engloba todas as empresas do grupo com sede em Londrina – além da rede de revendas, estão incluídas na decisão a Bela Sementes, quproduz sementes de soja no Paraná e em Patos de Minas, no Triângulo Mineiro, e a DKBR Agro, trading que atua com a importação de defensivos pós-patente da China, comercializados no mercado B2B com distribuidores e grupos agrícolas no Brasil.

Não estão envolvidos na tutela outras empresas controladas pela Pengdu, como a rede Fiagril, do Mato Grosso.

Segundo apurou o AgFeed, a opção de recorrer à proteção judicial neste momento deveu-se à necessidade de recompor o caixa da empresa, que vem sofrendo com o aumento de calotes e com o grande número de recuperações judiciais em sua base de clientes.

Uma fonte que acompanha de perto os negócios da Belagrícola aponta que a inadimplência somada dos últimos dois anos provocou um impacto negativo de R$ 1 bilhão nas contas a receber.

Uma importante parte desse montante já estaria renegociado nos próprios processos de RJ, o que implica em descontos e prazos mais alargados para recebimento.

O último balanço anual da Belagrícola, referente ao ano fiscal de 2024, mostrou queda de receita, que ficou em R$ 4,7 bilhões, resultando em prejuízo líquido superior a R$ 400 milhões.

Apesar do pedido de tutela, a empresa não considera neste momento recorrer a mecanismos como a RJ ou uma recuperação extrajudicial.

O entendimento da gestão da companhia é a de que, diferentemente de outros grupos que buscaram esses caminhos – como AgroGalaxy e Lavoro –, a Belagrícola possui ativos como as estruturas de armazenamento, filiais, fazendas e estoques, que permitem administrar o atual endividamento.

Além disso, a empresa avalia que a safra 2025/2026, iniciada recentemente nas regiões atendidas pela empresa, traz perspectivas positivas, com clima favorável para os produtores clientes, que sofreram quebras importantes no ciclo passado.

A suspensão de pagamentos e da fixação de grãos não interrompeu a relação com esses clientes. As entregas de fertilizantes, sementes e insumos adquiridos para esta safra foram quase totalmente finalizadas e o volume comercializado foi avaliado internamente como “muito bom”.

Também não teriam sido afetadas as conversas com a Bunge em torno da venda de uma participação minoritária no capital da empresa para a gigante americana.

Em janeiro passado o AgFeed revelou a existência de uma cordo entre as partes nesse sentido, mas os processos de due dilligence e as dificuldades do mercado de insumo fizeram com que a concretização da transação fosse postergada e ainda não tenha ocorrido.

Segundo a negociação, a entrada da Bunge no capital da Belagrícola seria feita através da aquisição de parte das ações pertencentes à família Colofatti, que fundou a empresa em 1985.

Em 2017, o grupo chinês Pengdu comprou cerca de 54% do capital – João Colofatti, atual presidente do Conselho de Administração, e seus familiares mantiveram os demais 46%.

Na Belagrícola, a Bunge repetiria repete o modelo que já adotou em outras transações, como a da Agrícola Alvorada (com 9 filiais em seis municípios do Mato Grosso), a Pantanal Agrícola (com 23 unidades em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás) e a Sinova (plataforma que possui mais de 60 lojas e operações em 10 estados).

Em todas elas, a gigante americana adquiriu participações minoritárias, obtendo um assento no conselho de administração, mas sem posições diretas na gestão das empresas.

Na Sinova (que até março do ano passado atendia pela marca Sinagro), a aquisição foi da totalidade do negócio, mas em parceria com a fabricante indiana de insumos UPL e o fundo Global Capital, o que fez com que sua participação ficasse em um terço da empresa.

Também com a UPL, a Bunge controla a Origeo, empresa com foco na venda direta de insumos e serviços para grandes produtores.

Resumo

  • Belagrícola ontém tutela liminar na Justiça de Londrina (PR) e suspende pagamentos a credores e fixação de grãos por 60 dias
  • A medida visa reestruturar o caixa da companhia, impactado por inadimplências que somam cerca de R$ 1 bi nos últimos dois anos
  • Empresa mantém operações e entregas de insumos e também as negociações com a Bunge, que pode adquirir participação minoritária no grupo