Exatos 61 dias depois de obter na justiça de Londrina, no Norte do Paraná, uma tutela cautelar para suspender pagamentos e execuções de dívidas, a Belagrícola protocolou na madrugada desta quinta-feira, 11 de dezembro, um plano de recuperação extrajudicial.
O movimento foi comunicado nas primeiras horas da manhã pelo CEO da empresa, Alberto Araújo, ao time de gestores da companhia, que atua com distribuição de insumos, comercialização de sementes e originação de grãos e é controlada pelo grupo chinês Pengdu.
A empresa corria contra o tempo para amarrar o apoio de grandes grupos, entre bancos, indústrias de agroquímicos e sementeiras, para obter apoio mínimo de um terço dos credores necessário para o protocolo do plano, cujos detalhes passarão a ser conhecidos ao longo do dia.
Entre as primeira adesões estão companhias como CRA Valora, Basf, Santander, Citibank, Syngenta, Agroforte, Sumitomo Chemical, Ourofino Química, Albaught Agro Brasil, Master Agro, Biolchim, Limagrin e Tecnomyl.
Segundo apurou o AgFeed, a partir de agora a empresa passa a uma nova fase, de conversas junto a produtores, visando conseguir a aprovação também deles e, assim, atingir apoio superior a 50% e a consequente homologação da RE.
A estrutura do plano foi desenhada com o apoio da consultoria Alvarez & Marsal, contratada pelo grupo no início de novembro e que vem trabalhando em uma reorganização financeira e operacional para a empresa, que tem 52 filiais para revendas de insumos e unidades de recebimento de grãos com capacidade estática de 1,5 milhão de toneladas para armazenamento de grãos em 58 silos, sendo 40 próprios.
O plano de RE, assim como a tutela cautelar que expirou no dia 9 pasado, engloba todas as empresas do grupo – além da rede de revendas, estão incluídas a Bela Sementes, que produz sementes de soja no Paraná e em Patos de Minas, no Triângulo Mineiro, e a DKBR Agro, trading que atua com a importação de defensivos pós-patente da China, comercializados no mercado B2B com distribuidores e grupos agrícolas no Brasil.
A empresa atribui as dificuldades ao adverso vivido pelo agronegócio brasileiro nos últimos anos, que levaram a Belagrícola a ver disparar os índices de seus clientes. Somente com créditos vencidos nos dois últimos anos, a companhia teria cerca de R$ 1 bilhão a receber.
O último balanço anual da Belagrícola, referente ao ano fiscal de 2024, mostrou queda de receita, que ficou em R$ 4,7 bilhões, resultando em prejuízo líquido superior a R$ 400 milhões.
Quando ingressou com o pedido de tutela cautelar, há dois meses, a empresa não tinha a RE como uma opção preferencial. Mas na evolução das conversas com credores, avaliou que esse mecanismo ofereceria maior segurança jurídica para todas as partes envolvidas, preservando a continuidade das operações.
A proposta da Belagrícola deve trazer condições diferenciadas de descontos e prazos para os pagamentos nas diferentes categorias e portes de credores, beneficiando aqueles que concordarem com o plano e mantiverem a relação com a companhia.
A princípio, colaboradores e filiais não devem ser afetadas, de forma a preservar o fornecimento de insumos e a assistência técnica aos clientes.
Com mais de 40 anos de mercado, a Belagrícola considerou significativos os apoios obtidos nessa primeira etapa de conversas, que envolveu os maiores credores, entendendo que eles demonstram a relevância da companhia para o setor.
Um dos desafios das negociações foi o fato de envolver grupos multinacionais, o que demandou o envolvimento de decisores fora do Brasil.
Além das negociações em torno do plano, a direção da Belagrícola mantém abertas conversas com diferentes grupos de investidores em bisca de um aporte, que contribua para a recomposição de seu caixa e, consequentemente, na reorganização financeira do grupo.
No início do ano, a empresa chegou próxima de assinar a venda de uma participação minoritária para a Bunge, mas os processos de due dilligence e as dificuldades do mercado de insumo fizeram com que a concretização da transação fosse postergada e ainda não tenha ocorrido.
Hoje, entretanto, os interesses não se limitam à multinacional americana, segundo apurou o AgFeed.