R$ 1 bilhão para reforçar o caixa. Na maior cooperativa de café do Brasil, a Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé) é hora de juntar dinheiro para comprar grãos de seus cooperados.

Depois de emitir R$ 625 milhões em CRAs há quase dois meses, a cooperativa anunciou na noite desta quarta-feira, 24 de setembro, que irá emitir R$ 400 milhões em notas comerciais. Juntas, as emissões trazem R$ 1,025 bilhão para o caixa da cooperativa.

O volume é alto, mas faz jus ao tamanho da operação da Cooxupé, que somou R$ 10,7 bilhões em faturamento só em 2024, uma alta anual de 67%.

A cooperativa recebeu 6,1 milhões de sacas em 2024, das quais 4,9 milhões vieram dos cooperados e 1,2 milhão de terceiros. Para este ano, a captação esperada inicialmente é de até 6,2 milhões.

Quando divulgou seus resultados, numa coletiva realizada em março deste ano, o presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, avaliou que o faturamento projetado para 2025 será melhor do que o do ano passado.

"O ano será de faturamento maior, mas resultado ainda temos de aguardar, porque depende de outros fatores", afirmou Melo.

O momento não poderia ser melhor para encher os bolsos, já que o País vive o final da colheita pelos cafezais, que tem seu pico entre junho e agosto.

O mercado de café conta atualmente com uma série de elementos que tornam qualquer prognóstico de preço, oferta e demanda difícil de projetar.

Em termos de preço, a cotação da saca de café arábica mostra avanço de um mês para cá. Nos últimos 30 dias, segundo dados do Cepea/Esalq, a saca de 60 quilos do grão passou de R$ 1,8 mil para R$ 2 mil.

No mercado externo, a volatilidade é ainda maior. Em uma coletiva realizada nesta quarta-feira, o presidente da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), Pavel Cardoso, citou que, em agosto, a saca negociada nos EUA variou 40% em apenas 15 dias.

Cardoso acredita que o mercado de café vive uma “tempestade perfeita”: uma safra menor que o esperado para o café arábica e uma perspectiva pessimista para 2026 na medida em que as instituições meteorológicas passam a precificar um La Niña.

Essa perspectiva de menor colheita tem feito os preços subirem e retrair o consumo. No mercado interno, dados da mesma Abic mostraram que, entre janeiro e agosto, o consumo somou 9,56 milhões de sacas, 5% menor em um ano. A projeção para o curto prazo não é das melhores, pelo menos para o consumidor final.

A associação espera um novo reajuste de preço, entre 10% e 15% por parte das torrefadoras nos próximos dias.

A questão é que a produção agora enfrenta dificuldades também para um escoamento externo. Em 2025, o “tarifaço" de Donald Trump colocou mais um amargor no mercado ao instituir a taxa de 50% em cima dos produtos vendidos do Brasil aos EUA. Isso fez com que as exportações brasileiras de café para o principal comprador caíssem.

Dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) de agosto mostraram uma queda de 17,5% nas exportações, para 3,14 milhões de sacas no período. No mesmo mês de 2024, haviam sido 3,813 milhões. Os Estados Unidos que, tradicionalmente, representam o maior mercado para o café brasileiro, desta vez, foram ultrapassados pela Alemanha.

Resumo

  • Nova emissão será de R$ 400 milhões em notas comerciais, elevando a captação total recente da Cooxupé para R$ 1,025 bilhão
  • Cooperativa faturou R$ 10,7 bilhões em 2024, com alta de 67%, e recebeu 6,1 milhões de sacas de café no ano
  • Mercado enfrenta volatilidade, com preços internos do arábica subindo para R$ 2 mil e exportações para os EUA caindo 17,5% após tarifaço de Trump