Depois de firmar parcerias bem-sucedidas para a inserção de fertilizantes com baixa pegada de carbono em culturas como café, cacau e batatas ao longo deste ano, a norueguesa Yara agora projeta levar o portfólio Climate Choice para outras lavouras brasileiras.

A companhia de fertilizantes vem conversando, ao longo deste ano, com empresas de alimentos, bioenergia e cooperativas de diferentes culturas agrícolas como citros, milho, cevada e cana-de-açúcar e se prepara anunciar novas parcerias envolvendo a adoção de adubos de baixo carbono no campo já no início do ano que vem.

“Acredito que nos primeiros meses de 2026 conseguiremos ter alguns avanços em termos de formalização de alguns contratos com essas empresas”, antecipou Guilherme Schmitz, vice-presidente de Marketing e Agronomia da Yara, em um almoço com jornalistas promovido pela companhia nesta segunda-feira, dia 1º de dezembro, em São Paulo (SP).

Schmitz não revelou nomes de eventuais empresas com quem a Yara está negociando, mas disse que a ideia é alcançar multinacionais e empresas brasileiras. O formato de parceria ainda está sendo definido.

Até o momento, a empresa já firmou acordos envolvendo fertilizantes de baixo carbono com as cooperativas de cafeicultores Cooxupé e Coocacer, a torrefadora JDE Peet's, a Ofi e as multinacionais de alimentos PepsiCo e Barry Callebaut.

Para Marcelo Altieri, CEO da Yara Brasil, a companhia está aproveitando um momento em que muitas empresas buscam cumprir suas metas de descarbonização, sobretudo no escopo 3, que abrange as emissões indiretas geradas ao longo da cadeia de valor, fora das operações diretas.

“É aí que a Yara consegue ajudar. E nós sabemos que até 30% das emissões no produto final podem ser minimizadas com o uso de fertilizante feito com energia renovável ou com o uso feito de fertilizante Yara Climate Choice”, disse Altieri.

A definição das novas culturas que a Yara vai trabalhar a partir de agora seguiu dois critérios. O primeiro, segundo Schmitz, foi o balanço econômico: a tecnologia de descarbonização de fato encarece o fertilizante de baixo carbono frente ao fertilizante convencional.

Com isso, a Yara resolveu selecionar algumas culturas nas quais o impacto era menor. “Café, por exemplo, é 3% ou 2,5% de impacto. Batata também é na ordem disso”, diz.

“Mas existem outras culturas em que o impacto chega a 10% ou 15%. Por isso, para nós, os primeiros avanços precisam estar em cadeias onde o impacto é menor”, afirmou Schmitz.

O segundo critério foi entender o comportamento do mercado consumidor e identificar cadeias com maior demanda por descarbonização. O café se destacou nesse processo por exportar grandes volumes para China, Japão, Europa e Estados Unidos. “São países que estão buscando a descarbonização da cadeia do café.”

Não por acaso, o café da Cooxupé produzido com fertilizantes de baixo carbono teria chamado atenção de clientes japoneses logo no lançamento, há um ano.

Algumas culturas, porém, apresentam desafios ou oportunidades adicionais. Na cana-de-açúcar, Schmitz destacou uma limitação relevante: a RenovaCalc, ferramenta de cálculo da intensidade de carbono dos biocombustíveis, calculadora de carbono do programa RenovaBio, política de estímulo aos biocombustíveis, ainda não diferencia emissões de CO2 de fertilizantes conforme a origem do adubo.

Isso faz com que insumos com impactos reais muito distintos apareçam com a mesma pegada.

“Um quilo de nitrogênio produzido na China, à base de nitrato de amônia, que é utilizado muito em cana de açúcar, emite 10 quilos de CO2 equivalente. No nitrato de amônia russo, que é a maioria do nitrato utilizado em cana no Brasil, cada 1 quilo de nitrogênio é 7,5 quilos de carbono”, comparou Schmitz.

“Já fertilizantes como YaraBella e YaraMilla, que a gente vende para cana de açúcar, emitem 3,5 quilos de carbono, ou seja: a metade do que o fertilizante russo emite.”

Segundo o executivo, a Yara já discutiu o tema com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e aguarda uma atualização do RenovaCalc para que diferencie as fontes de fertilizantes no cálculo da pegada de carbono no campo.

“Com isso, um fertilizante vindo da Europa, não só da Yara, mas também o da Yara que nós comercializamos aqui, vai ter uma redução de pegada de carbono”, acrescentou.

Os resultados obtidos até agora reforçam o otimismo da companhia. Ao longo deste ano, a Yara avançou no projeto-piloto iniciado com a Cooxupé no ano passado. Nesta safra, 30 cafeicultores associados à cooperativa aplicaram fertilizantes de baixo carbono em suas lavouras e, em alguns casos, a pegada de carbono deixada pela produção chegou a recuar 66%.

“Esse é um grande exemplo de como o Brasil atua, posicionado sempre na vanguarda do uso da tecnologia, que é o que faz para mim a grande diferença: aqui no Brasil, os agricultores usam tecnologia, estão sempre à frente e posicionando a agricultura e os produtos agrícolas do Brasil lá em cima”, avaliou Marcelo Altieri.

Em paralelo, a Yara desenvolve outro piloto com a PepsiCo para a produção de batatas com menor pegada de carbono, envolvendo 120 hectares no Sul do País e com potencial de reduzir em 40% as emissões associadas ao tubérculo.

A colheita da primeira safra da “batata de baixo carbono” está prevista para o primeiro semestre de 2026, com expectativa de produção entre 3,5 mil e 4 mil toneladas.

Há ainda uma parceria da companhia, com a Barry Callebaut, que vem sendo desenvolvida ao longo do último ano e começou com recomendações agronômicas para produtores de cacau na Bahia, Pará, Espírito Santo e Rondônia.

Em algumas áreas acompanhadas, os resultados incluíram aumentos de até 200 kg por hectare e uma produtividade média 17% maior nas lavouras demonstrativas. A partir do ano que vem, além do suporte técnico, os produtores que fornecem para a companhia também poderão adotar os fertilizantes de baixo carbono da Yara.

Também na Bahia e no Espírito Santo, a Yara está conduzindo, entre este ano e 2027, um projeto com a JDE Peet’s e a Ofi para ampliar o uso de fertilizantes de baixo carbono, incentivar práticas sustentáveis e capacitar produtores em mais de 20 propriedades. A iniciativa prevê ganhos de até 7,6 sacas por hectare e redução de cerca de 40% na pegada de carbono.

As parcerias têm algumas variações. No modelo adotado com a Cooxupé, Yara e a cooperativa mineira dividem o custo adicional dos fertilizantes de baixo carbono, de modo que o produtor não precisa arcar com esse investimento.

Na prática, o agricultor utiliza o insumo, entrega o café, e Yara e Cooxupé comercializam o produto. Depois, o prêmio extra obtido na venda é usado para cobrir o valor do fertilizante e qualquer excedente é repassado integralmente ao produtor.

Já no projeto com a PepsiCo, a empresa assume o custo do fertilizante e o pagamento do prêmio aos produtores de batata, enquanto a Yara conduz o acompanhamento técnico, as recomendações e o manejo junto ao agricultor. Ao final, a PepsiCo recebe a batata produzida com menor pegada de carbono e captura o bônus associado à sua descarbonização.

Balanço do ano

Ao fazer um balanço do mercado de fertilizantes em 2025, os executivos da Yara afirmaram que, apesar da pressão no setor de grãos, o ano termina com crescimento moderado e perspectiva de retomada em 2026.

Schmitz explicou que o mercado brasileiro de fertilizantes deve encerrar 2025 com vendas entre 46 e 46,5 milhões de toneladas. “Tem uma certa retração comparado com as estimativas iniciais. Nós estimávamos até um mercado um pouco maior, ao redor de 48 milhões (de toneladas). Mas houve uma certa retração decorrente muito do mercado de grãos, com postergação do mercado, redução em algumas regiões, principalmente no Sul, por algumas questões climáticas”, disse.

Ainda assim, segundo o executivo, o mercado de fertilizantes deve fechar o ano com um desempenho um pouco melhor que no ano passado, com destaque para café, hortifruti e cana-de-açúcar.

Para 2026, a expectativa é de que o setor volte à rota de crescimento, ancorado por bons desempenhos de café, cana e HF. “A perspectiva que nós temos para o próximo ano é de um mercado ao redor dos seus 48 milhões, 48,5 milhões de toneladas”, estimou Schmitz.

Mesmo com margens pressionadas, Schmitz destacou que o produtor continua buscando tecnologia para melhorar seu retorno financeiro.

“Quando você tem tecnologias como nós temos que entregam 100%, 200% ou até 300% de rentabilidade frente ao investimento que se faz no bioinsumo, é algo que ele tem que pensar em investir, porque amplia o potencial dele de retorno de investimento comparado com os desafios que ele tem de retorno da safra que se prevê.”

Os executivos também comentaram a mudança no mix de nutrientes observada em 2025. “Há um aumento de volume e também um aumento de nutrientes porque também estamos vendo que há mais ingressos de produtos da China com menor concentração”, disse Marcelo Altieri.

Schmitz complementa dizendo que houve um avanço significativo no uso do sulfato. “Há um aumento de sulfato que varia entre 45% e 48% neste ano, se comparado com o ano passado. E uma leve redução de ureia.”

A solubilidade dos produtos do exterior, especialmente da China, é algo que preocupa os executivos.

“O ingresso de produtos de baixa solubilidade, como NPs chineses, é muito grande. Agronomicamente, de 75% para cima não há grandes diferenças”, disse Schmitz.

“Mas de 60% para baixo a gente já começa a ter prejuízos do ponto de vista agronômico. Tem pesquisas que mostram que, com 50% de solubilidade do fertilizante em água, a soja perde 10 sacas por hectare.”

Ele afirmou que essa tendência deve persistir, especialmente diante da rentabilidade mais baixa da soja em 2025.

“O agricultor vai buscar alternativas. Mas eu acho que o setor, a Yara, outras empresas estão atuando principalmente para ajudar o Ministério da Agricultura a trazer mais clareza para o agricultor. Nós não queremos proibir que venha fosfatado de baixa solubilidade, mas que eles saibam que são de baixa solubilidade. Dar transparência para o agricultor do que ele está comprando.”

Resumo

  • Yara planeja expandir em 2026 parcerias para adoção de seus fertilizantes de baixo carbono para culturas como citros, milho, cevada e cana
  • O movimento acontece após resultados positivos em projetos com café, cacau e batata e parcerias com Cooxupé, JDE Peet’s, Ofi, PepsiCo e Barry Callebaut
  • eleção das novas cadeias segue critérios de menor impacto no custo final do produtto e maior demanda por descarbonização em mercados internacionais