Desde muito jovem, a farmacêutica Vanessa Vilela já sabia que queria ter sua própria marca de cosméticos na vida adulta. Apaixonada pela mistura de compostos e reações químicas, ela acabou se especializando em cosmetologia.
Mas o que ela não imaginava é que a criação da sua empresa a levaria de volta às suas raízes. Integrante da sexta geração de uma família de cafeicultores de Três Pontas, sul de Minas Gerais, ela encontrou nos cafezais as bases para a construção do seu negócio.
“Eu saí da minha cidade natal ainda bebê e voltei já adulta, para fazer as especializações e ficar mais próxima de São Paulo e Belo Horizonte. Nesse retorno, acabei mergulhando nos conhecimentos sobre o café e resolvi buscar mais informações”, relembra.
Em meio a muita pesquisa sobre quais seriam os diferenciais da sua empresa, ela viu no café a matéria-prima que buscava para ser a base do negócio. Assim, com um investimento inicial de R$ 500 mil, nascia a Kapeh, palavra que significa “café” no dialeto maia.
Criada em 2007, a marca inaugurou sua primeira loja própria em 2011 para estreitar o relacionamento com os clientes no varejo. Até então, os produtos eram comercializados via e-commerce ou em lojas parceiras multimarcas.
Atualmente a Kapeh conta com 12 lojas, entre unidades próprias e franquias, além da distribuição em 300 unidades multimarcas, o que faz com que os produtos estejam presentes fisicamente em 18 estados e com alcance nacional via e-commerce.
Somente em 2024 a Kapeh faturou R$ 5 milhões e a expectativa é de alcançar 20% de crescimento até o final do ano.
“Vi no negócio uma oportunidade de agregar mais valor ao café brasileiro e levar seus benefícios, que extrapolam o consumo da bebida para os consumidores de todo o país”, explica.
Para isso, a estratégia passa não só pela ampliação do portfólio, com lançamentos de novos produtos, mas também por investimentos em formatos variados de lojas, que incluem quiosques, lojas de rua e lojas em shoppings. Vanessa conta que o plano é chegar a 100 lojas entre próprias e franqueadas nos próximos três anos.
Ao contrário de franquias de cosméticos convencionais, a Kapeh adotou o modelo de loja 2 em 1. Isso porque em cada unidade está instalada a loja de cosméticos com mais de 200 produtos, entre linhas para corpo, cabelos, perfumaria, casa, infantil e masculina, e a cafeteira que comercializa uma linha de cafés especiais da marca para ser degustada no local ou levada para casa em três opções: moído, em grãos ou em cápsula.
“Nosso objetivo é oferecer ao cliente uma experiência completa, que ele conheça o café de uma maneira diferente da convencional, seja por meio dos cafés especiais, preparados com métodos variados ou pelos nossos produtos cosméticos”, explica.
Ela explica que assim como o vinho, o café possui quase mil notas aromáticas diferentes, de acordo com a variedade do grão e processo produtivo, o que gera um universo infinito de possibilidades de combinações tanto na parte da cosmetologia quanto na degustação da bebida. “É essa experiência que queremos levar para os nossos consumidores”.
A expansão internacional também está nos planos da executiva mineira. A marca já está registrada em todos os 27 países da unidade europeia e a ideia é levar os produtos para esse mercado no futuro. “Ainda não temos uma data, mas está nos planos”.
Como exemplo de referência ela cita a marca francesa de cosméticos Caudalie, que nasceu na região de Bordeaux, na França. A empresa, que começou a partir da pesquisa de um professor da Faculdade de Farmácia da região sobre os ativos antioxidantes presentes nas uvas, hoje é uma companhia de alcance global.
Todo o café utilizado pela marca vem da fazenda Rancho Fundo, administrada pelo marido de Vanessa, que é engenheiro agrônomo, e os irmãos, que também vêm de família de cafeicultores. Ao todo são cerca de 200 hectares com pés de café arábica, a maior parte destinada à comercialização a granel e uma pequena parte que vai para a Kapeh.
“Com a expansão das nossas operações, em breve toda a produção será direcionada à Kapeh”, brinca a executiva.
Vanessa revela que não descarta ir ao mercado em busca de potenciais parceiros investidores para acelerar o processo de expansão. “Mas ainda não temos nada definido nesse sentido”.
Ela não informa o volume de café que é destinado à Kapeh, mas conta que para a produção dos cosméticos utiliza não só o café torrado, mas principalmente o café verde, além de óleos e da casca.
Para chegar nas formulações ideias aproveitando ao máximo os nutrientes e compostos do café em cada fase, ela firmou uma parceria com um grupo de pesquisa sobre café da Universidade Federal de Lavras, uma das referências na pesquisa dos grãos.
“Nós destrinchamos todos os compostos e elementos contidos no café e vimos que o grão verde preserva uma quantidade imensa de substâncias antioxidantes, que combatem os radicais livres e ajudam a prevenir o envelhecimento da pele”, explica.
Além disso, ela explica que as pesquisas apontaram o alto poder anti inflamatório do café, auxiliando na regeneração da pele.
Na parte fabril, a Kapeh conta com seis empresas parceiras, que fazem a produção de linhas específicas de produtos.
Vanessa conta que chegou a cogitar investimentos na construção de fábrica própria, mas que a grande variedade de produtos da Kapeh demandaria vultosos investimentos em tecnologias variadas.
Assim, como parte da estratégia, a empresária delega a produção a empresas que têm expertise na fabricação de determinadas linhas. Com isso, em 2024 foram produzidos 50 mil sabonetes, 45 mil unidades de emulsões, 5 mil unidades de produtos aerosóis e 20 mil unidades de cafés.
Em cada uma das embalagens, os consumidores têm acesso a todo o histórico do produto, que começa ainda no campo, com a rastreabilidade dos grãos e passa por todas as etapas produtivas.
Resumo
- Marca mineira Kapeh transforma o café em base para produtos cosméticos e bebidas, comecializados em lojas 2 em 1
- Com 12 lojas no Brasil, presença em 300 pontos multimarcas e faturamento de R$ 5 milhões em 2024
- Kapeh planeja chegar a 100 lojas nos próximos três anos e já tem a marca registrada na União Europeia visando futura internacionalização