Em meio ao pico da colheita dos cafezais pelo Brasil, ocorrida tradicionalmente entre junho e agosto, o ciclo do café brasileiro começa a entrar em uma nova fase: a compra por parte dos grãos pelas tradings, empresas e cooperativas.
De olho em fazer caixa para financiar essas compras, a Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé) emitiu R$ 625 milhões em CRAs. A oferta teve a Vert como securitizadora, o Banco Safra como distribuidor e coordenador e a Santos Neto Advogados assessorou juridicamente a Cooxupé.
Na lâmina da oferta, é mencionado que o recurso obtido será utilizado para adquirir CPR-Fs (Cédulas de Produto Rural Financeiras) destinadas para “atividades vinculadas ao agronegócio, por meio da aquisição, de seus entes cooperados, de café arábica cru em grãos para posterior revenda”.
A emissão é feita em quatro séries para os investidores. A primeira série, com vencimento em 2030, prevê uma remuneração de 14,42% ao ano frente ao capital investido. De acordo com a lâmina, foram pouco mais de mil investidores que compraram os títulos, somando R$ 100 milhões investidos nesta primeira série.
Na segunda série, com vencimento também daqui cinco anos, a remuneração é de 107,5% do CDI. Essa série atraiu 4,1 mil investidores e um fundo de investimento, que totalizou R$ 302 milhões nesse tranche.
Na terceira série, uma remuneração de 5,8% ao ano com vencimento também em 2030 que atraiu pouco mais de 100 investidores e algum player ligado ou a emissora ou ao coordenador líder, segundo a lâmina. O total na série é de R$ 55,9 milhões.
A última série, essa com vencimento em 2032, remunera os investidores em CDI + 1,1% ao ano. O último tranche atraiu R$ 166,9 milhões divididos entre mais de mil investidores e uma instituição financeira.
A cooperativa repetiu a dose vista no ano passado. Em julho de 2024, a cooperativa emitiu R$ 450 milhões em CRAs justamente para compra de café de seus cooperados. O crédito ajudou a financiar uma operação que encerrou o ano passado com um faturamento recorde de R$ 10,7 bilhões, uma alta de 67% frente a 2023.
Quando divulgou seus resultados, numa coletiva realizada em março deste ano, o presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, avaliou que o faturamento projetado para 2025 será melhor do que o do ano passado.
"O ano será de faturamento maior, mas resultado ainda temos de aguardar, porque depende de outros fatores", afirmou Melo.
Na época da declaração, o preço da saca de 60 quilos do café arábica rondava os R$ 2,5 mil segundo o Cepea/Esalq. Hoje, segundo a instituição, a cotação ronda os R$ 1,9 mil.
De lá pra cá, alguns elementos entraram na jogada. O principal dele foi o “tarifaço” de Donald Trump, que instituiu uma taxa de 50% em cima dos produtos vendidos do Brasil aos EUA.
Mesmo com algumas isenções na lista final do presidente americano, que dentro do agro incluíram o suco de laranja, o café, junto da carne bovina, ainda estão dentro da taxação.
De acordo com dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), os Estados Unidos importaram 3,7 milhões de sacas de janeiro a julho deste ano, cerca de 16,8% das exportações do grão, sendo o principal destino do café nacional.
"Até julho, não observamos de fato o impacto do tarifaço de 50% do governo dos Estados Unidos imposto para a importação dos cafés do Brasil, já que a vigência da medida começou em 6 de agosto”, comentou Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, em nota.
“Agora as indústrias americanas estão em compasso de espera, pois possuem estoque por 30 a 60 dias, o que gera algum fôlego para aguardarem um pouco mais as negociações em andamento. Porém já visualizamos eventuais pedidos de prorrogação, que são extremamente prejudiciais ao setor", acrescentou.
O mercado passou a precificar, então, que até o Brasil readequar as rotas de exportação, o mercado interno pode ter um excesso de oferta, fazendo com que os preços abaixem.
Em março, a Cooxupé projetou uma “oferta estável” em 2025. A Cooxupé recebeu 6,1 milhões de sacas em 2024, das quais 4,9 milhões vieram dos cooperados e 1,2 milhão de terceiros. Para este ano, a captação esperada inicialmente é de até 6,2 milhões.
Na última semana, contudo, a cooperativa passou a olhar para uma safra de café com menor rendimento em 2025 e já prevê desafios em 2026.
O prognóstico foi abordado em um evento que a Cooxupé realizou semana passada, o 7º Fórum Café e Clima. Guilherme Vinicius Teixeira, coordenador do departamento de geoprocessamento da Cooxupé, citou que a redução de chuvas entre fevereiro e abril deste ano, na chamada fase de “granação” do café, prejudicou o ganho de peso e densidade de grãos.
“O rendimento desta safra não está tão bom. Ou seja, o produtor está gastando mais café colhido para produzir o mesmo volume beneficiado”, disse, em nota publicada no site da cooperativa.
A cooperativa ainda destacou que geadas e granizos podem comprometer a produção de café neste ano.
Resumo
- Cooxupé levantou R$ 625 milhões em CRAs para financiar a compra de grãos de seus cooperados, repetindo a estratégia de 2024, quando captou R$ 450 milhões
- A emissão foi estruturada em quatro séries, com vencimentos entre 2030 e 2032. O recurso será destinado à aquisição de café arábica cru, reforçando o caixa da cooperativa no pico da colheita
- Safra de 2025 enfrenta desafios climáticos e a pressão do “tarifaço” americano, que não isentou o café nacional