Embora no atual governo, políticas para pequenos e grandes produtores estejam divididas em dois ministérios, a pasta da Agricultura e Pecuária (Mapa) também aparece em projetos voltados à agricultura familiar.
O exemplo disso é o chamado “Agromaker”, plano de capacitação de jovens de pequenas propriedades, que está sendo promovido pelo Instituto Besouro, uma organização sem fins lucrativos.
Coincidência ou não, a primeira “empreitada” do Besouro no mundo agro, está sendo implementada em Mato Grosso, estado do ministro da Agricultura Carlos Fávaro.
O instituto foi criada no Rio Grande do Sul, onde atua não apenas em projetos com o poder público, mas também em ações de capacitação junto ao setor privado, por meio da Agência Besouro, que tem entre os clientes, por exemplo, o grupo Gerdau.
Um dos projetos que o Instituto Besouro já considera bem sucedido na região Sul é o “maker”, com foco na qualificação de jovens para abrir um negócio próprio. Os cursos estão sendo feitos no momento com as prefeituras de Porto Alegre e do Rio de Janeiro.
Em função disso, em conversas com o Ministério da Agricultura, o grupo entendeu que faria sentido aplicar o mesmo conceito em municípios agrícolas.
“Porque a gente sabe que existe um êxodo rural muito grande, em especial dos jovens, que não veem atrativos dentro dessa seara. Então se pensou em trabalhar o desenho de um curso capaz de abarcar ciência, tecnologia, inovação, sustentabilidade e o processo de modernização da própria educação agrícola”, explicou Maurício Rodrigues de Castro, CEO do Instituto Besouro, em entrevista ao AgFeed.
A ideia é convencer os jovens de que, usando as ferramentas certas, as propriedades familiares podem ser negócios mais rentáveis e sustentáveis. “E que eles podem desenvolver uma cultura empreendedora, com a criação de novos produtos e serviços, mesmo que optem por permanecer no campo”.
Até o fim do ano, 256 alunos devem finalizar o curso, que começou por meio de uma unidade na região de Cáceres (MT). Recentemente, um novo polo do projeto foi inaugurado em Pontes e Lacerda e deve se expandir para outras regiões de Mato Grosso. Prioritariamente, são atendidos jovens entre 15 e 29 anos.
Entre as disciplinas estão introdução ao agro, modernização da agricultura, manejo de pastagem, agroecologia, operador de drone, agrofinanças e empreendedorismo. Além do Mapa, o projeto envolve uma parceria com o Instituto Federal do Espírito Santo, que fornece a certificação.
O objetivo é que os conhecimentos disponibilizados pelo curso ajudem os jovens a se preparar para desempenhar funções que estão em alta no campo, como as de operador de drone, gestor digital de agronegócios e designer de máquinas agrícolas, segundo o Instituto.
Além de conteúdos mais comuns como a precificação de produtos,o curso envolve, por exemplo, a criação de ferramentas por meio da impressão 3D.
Os organizadores levam em conta dados de uma pesquisa feita em 2021, que teria indicado que o agronegócio demandará mais de 200 mil trabalhadores especializados ao longo dos próximos dez anos, considerando apenas três das principais carreiras na área: técnico em agricultura digital, técnico em agronegócio digital e engenheiro agrônomo digital.
Segundo Castro, estão sendo aplicados R$1,2 milhão no projeto Agromaker, recursos que são oriundos do orçamento do Mapa. As despesas envolvem aquisição de equipamentos, transporte de alunos, alimentação e a atividade pedagógica.
“A gente trabalha a partir da metodologia que nosso fundador desenvolveu e patenteou, que traz a questão do plano de negócio. De como se atua para abrir um negócio especificamente mais voltado para um público de vulnerabilidade social”, disse o executivo.
O Instituto garante que o índice de evasão está próximo de zero em função de uma estratégia que torna mais interessante para o jovem. Os professores usam gameficação para ensinar e a parte prática inclui aulas de pilotagem de drones agrícolas. “A ideia é ter uma mão na tela e outra na terra”.
Em dezembro, o plano é mensurar resultados para identificar impactos reais nas comunidades. A partir disso, o Besouro diz que vai avaliar a possibilidade de envolver outros estados no projeto.
Em 2022, o Tribunal de Contas do Rio de Janeiro apontou irregularidades em contrato do Instituto Besouro com o governo estadual. Um pagamento, estimado em R$ 12 milhões, chegou a ser suspenso.
Na conversa com o AgFeed, o CEO Maurício Castro disse que esse foi um “único caso” e que já está tudo regularizado, com pareceres favoráveis da AGU e do STF.
“Essas questões foram todas equacionadas no âmbito jurídico, tanto que nós continuamos firmando parcerias com órgãos públicos, com as nossas certidões todas dentro da sua legalidade”, afirmou.
Além de São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Mato Grosso, o Instituto diz já ter presença em projetos no Pará e “atuação em mais de de 28 países, na área voltada para o empreendedorismo”.
Resumo
- Acordo entre Ministério da Agricultura e Instituto Besouro viabilizou o projeto Agromaker, para capacitação de jovens com foco em empreendedorismo, inovação e agricultura digital.
- O projeto prevê gastos de R$ 1,2 milhão para capacitar 256 jovens até o fim de 2025, com polos em Cáceres e Pontes e Lacerda.