Em tempos de aumento nas recuperações judiciais entre produtores rurais, a preocupação em reforçar a capacidade de gestão nas propriedades vem crescendo entre os principais players do setor.
Empresas como bancos e tradings, por exemplo, passaram a oferecer manuais ou até treinamentos para que seus clientes sobrevivam às volatidades do mercado agropecuário.
A Serasa Experian, datatech especializada em análise de riscos, também resolveu apostar nesse suporte à capacitação de produtores para fazer uma melhor gestão.
A empresa está investindo R$ 1 milhão no projeto chamado Impulsiona Agro, com foco em propriedades da agricultura familiar.
A iniciativa está relacionada a ações que buscam impacto social no Brasil, como explicou ao AgFeed, Paulo Gustavo Gomes, head de sustentabilidade da Serasa Experian.
O programa já existia e agora se integra ao segmento agro da Serasa. Neste projeto piloto, serão beneficiadas 150 famílias do Sul do Brasil.
A ideia é dar apoio para que os produtores rurais profissionalizem a administração de sua atividade e tenham cada vez mais com um olhar de negócios, para viabilizar uma futura expansão e até mesmo exportação de seus produtos.
“Nossa proposta é levar ao campo mais treinamento de gestão, conectar pequenos produtores a práticas ESG, que são fundamentais para que ele também seja fornecedor de grandes redes de varejo e industriais. E isso será feito, também, por colaboradores voluntários da Serasa, interessados em diferencial social e se conectar diretamente com a produção rural familiar”, explica Gomes.
O projeto está sendo iniciado pelo Oeste de Santa Catarina em parceria com o Sebrae, que tem uma sede em Chapecó, para seu pilar de agronegócios.
As famílias apoiadas estão em uma área de 150 km no entorno da cidade. No grupo há produtores de frutas, de vinhos, além de hortaliças e verduras. Entre as atividades que serão contempladas estão também agroindústrias, apicultura e turismo rural.
Raquel Emília Damaceno, que gerencia com o esposo a Damaceno & Cia Hortifruti, por exemplo, conta que na propriedade a maior demanda de apoio é para ampliação de negócios. “Queremos buscar o desenvolvimento da propriedade como um todo e, principalmente, na parte administrativa”, ressaltou.
A primeira etapa, já em andamento, é fazer junto com a família o diagnóstico de seus gargalos, seja na parte comercial, na produção ou na área financeira, por exemplo.
Em seguida, será feito um plano de ação para cada propriedade e depois um acompanhamento da implementação do projeto.
“São 70 horas de consultorias individuais, 10 horas de treinamento coletivo, mas a principal força do projeto está nesse trabalho individualizado que será desenvolvido ao longo de 8 meses”, explicou o executivo da Serasa Experian.
No currículo há 4 pilares. O primeiro chamado “Gestão no Azul” tem foco em organizar as finanças, otimizar custos e dar apoio para decisões estratégicas.
Outra vertente é o “crédito mais acessível”, que deve ajudar o produtor rural a comprovar sua maturidade na gestão e conseguir melhorar sua reputação junto às instituições financeiras.
O terceiro item são as práticas ESG, com foco em reforçar a competitivade, e o quarto é mercado e marca, com workshops de marketing e vendas para posicionar o produto, fortalecer a marca e conquistar clientes.
Ao final do Impulsiona Agro será feita uma pesquisa para verificar a evolução de cada um dos participantes de fatores como incremento de renda, geração de empregos, ampliação de mercado e sustentabilidade. É algo importante, sinalizou Gomes, para o caso de a propriedade vir a ser fornecedor de uma grande empresa ou começar a prospectar esse mercado.
“Temos a ambição de gerar mais postos de trabalho e faturamento, assim como ampliar as perspectivas de captação de crédito destas famílias. Em outro programa, que realizamos com 240 pequenos empreendedores, o resultado foi a queda de 90% do endividamento dessas empresas e aumento médio de 10% no número de empregos”, disse o executivo.