O número de pedidos de recuperação judicial no agronegócio brasileiro disparou no segundo trimestre de 2025 e atingiu o nível mais alto desde o início do acompanhamento da Serasa Experian, há 4 anos.
De acordo com dados compilados pela Serasa, obtidos pelo AgFeed e divulgados nesta segunda-feira, dia 29 de setembro, o setor registrou 565 solicitações do tipo no período, 31,7% a mais em relação ao mesmo trimestre de 2024, quando havia contabilizado 429 pedidos.
O número também é recorde se comparado a todos os demais trimestres observados desde 2021, quando foi iniciado o levantamento.
Para se ter uma ideia do crescimento, há apenas dois anos, no segundo trimestre de 2023, o número de pedidos de RJ era bem menor: 123.
Além do recorde, a Serasa observou que, pela primeira vez desde o fim de 2023, os produtores rurais que atuam como pessoa jurídica superaram os de pessoa física em volume de pedidos. Foram 243 registros entre produtores PJ, contra 220 de PFs.
"É a primeira vez que isso acontece desde o último trimestre de 2023, quando as RJs de produtores PF experimentaram um rápido crescimento. Ainda estamos avaliando se houve um represamento de pedidos ou alguma mudança no perfil", explica Marcelo Pimenta, head de Agronegócio da Serasa Experian, em nota.
No recorte por atividade, os produtores de soja lideraram os pedidos de RJ feitos por pessoas jurídicas, com 192 pedidos, seguidos pelos criadores de bovinos, com 26 pedidos.
Entre as pessoas físicas, a Serasa destaca que os grandes proprietários registraram o maior número de pedidos de RJ - 55 solicitações ao todo - e arrendatários e grupos familiares também tiveram peso relevante, com 83 solicitações. Médios produtores totalizaram 43 pedidos de RJ, e pequenos produtores, 39 pedidos.
O levantamento da Serasa também traz informações sobre RJs solicitadas por empresas do agro. Ao todo, foram 102 pedidos somente no segundo trimestre deste ano, o maior volume da série recente e acima também dos 94 pedidos registrados no mesmo período do ano passado.
A indústria de processamento de “agroderivados” (como óleo e farelo de soja, açúcar, etanol e laticínios) concentrou o maior número de pedidos de RJ: 32. Na sequência, vieram a agroindústria de transformação primária, que trabalha em áreas como madeira serrada, couro curtido e beneficiamento de grãos (22 pedidos), e o comércio atacadista de produtos agropecuários (18 pedidos).
No recorte geográfico, as regiões Centro-Oeste e Sul lideraram a quantidade de pedidos de RJ. Goiás foi o estado onde houve mais registros desse tipo de solicitação no período, somando 94, seguido por Mato Grosso (73), Rio Grande do Sul (66), Minas Gerais (63) e Paraná (63), fechando a lista dos cincos estados com maior incidência.
Os levantamentos feitos pela Serasa Experian foram construídos a partir das estatísticas de processos do número de documentos que solicitam recuperação judicial no agronegócio registradas mensalmente na base de dados da companhia e provenientes dos tribunais de justiça de todos os estados.
Estão contemplados no levantamento proprietários e produtores rurais de todos os portes que atuam como pessoas físicas e jurídicas, além de empresas demandantes do recurso analisado que possuem Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) principal constante no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) da cadeia agro.
As análises estaduais são realizadas de acordo com a unidade federativa atrelada ao cadastro de quem fez o pedido de RJ, segundo a Serasa.
A empresa ressaltou que ferramentas de análises da instabilidade financeira desses produtores poderiam ajudar a identificar com antecedência o maior risco de inadimplência e de recuperação judicial.
“Através de um levantamento realizado constatou-se que era possível verificar, três anos antes do ingresso do protocolo do pedido de Recuperação Judicial, que o score médio dos produtores rurais pessoas físicas se mantinha consideravelmente superior ao daqueles que ingressaram com a referida medida judicial”, destacou a Serasa, em seu comunicado.
Resumo
- Pedidos de recuperação judicial no agronegócio somaram 565 ocorrências no 2º trimestre de 2025, alta de 31,7% em relação ao mesmo período de 2024, segundo a Serasa Experian.
- Registros de produtores rurais pessoa jurídica superaram os de pessoa física pela primeira vez desde 2023, com destaque para sojicultores e pecuaristas.
- Empresas do agro também ampliaram pedidos, com 102 registros, liderados pela indústria de processamento de agroderivados e concentrados em Goiás e Mato Grosso.