A palavra recorde - quando associada ao agro - é geralmente usada para falar de supersafras de soja ou milho, ou então, de exportações de proteína animal para outros países. Contudo, de julho a setembro, o setor registrou um recorde para se esquecer.
Segundo dados do Serasa Experian, o número de recuperações judiciais no agro bateu 628 pedidos, recorde absoluto dos últimos anos e que mostra um avanço de 147% em um ano. No mesmo período do ano passado, o Serasa apontou 254 pedidos, num trimestre que marcou talvez um dos pedidos mais emblemáticos desse triste capítulo do mercado de crédito no setor: a RJ da Agrogalaxy.
Os pedidos do terceiro trimestre também mostram um avanço de 11% frente ao registrado no segundo trimestre de 2025, quando a datatech somou 565 pedidos, número que ostentava, até agora, o recorde de processos para um só trimestre.
De acordo com o Serasa, essa alta reflete a piora no ambiente de crédito do setor. Os números representam a soma das solicitações de produtores rurais que atuam como pessoa física e jurídica, além de empresas relacionadas ao agronegócio.
“O avanço dos pedidos de recuperação judicial evidencia um período mais desafiador sobre a capacidade de produtores rurais e empresas do setor manter seus fluxos de caixa e pagamentos, em especial para aqueles que já estão há alguns anos rolando dívidas sem fazer os ajustes necessários para diminuir custos, rever patrimônio e encerrar expansões mal planejadas”, analisa Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian.
Os dados mostam que o Mato Grosso foi o estado com maior quantidade de pedidos (112), seguido por Goiás, com 99, Paraná com 77 e Mato Grosso do Sul com 64 solicitações.
Os produtores rurais brasileiros que atuam como Pessoa Física registraram 255 solicitações de recuperação judicial no terceiro trimestre de 2025. Frente ao mesmo período de 2024 houve aumento de 142%, pois o terceiro trimestre de 2024 tinha acumulado 106 pedidos. No segundo trimestre deste ano, foram 220, mostrando alta também na comparação direta.
A maior parte dos pedidos foi realizada por produtores rurais arrendatários ou de grupos econômico e familiares (84), revelou o Serasa. Na sequência, os grandes proprietários tiveram 69 requisições, seguidos pelos pequenos, com 58, e os médios, que marcaram 44 solicitações do recurso.
Nos produtores PJ, foram 242 pedidos de RJ no terceiro trimestre, uma alta de 163% em um ano. Na comparação com o segundo trimestre deste ano, contudo, os pedidos se mantiveram estáveis.
"Nessa categoria, o maior número de solicitações foi feito por produtores rurais que atuam com o cultivo de soja (156). Além disso, aqueles que realizam a criação de bovinos também ficaram em evidência, com 45 pedidos de Recuperação Judicial", diz o Serasa no estudo.
As empresas ligadas ao agronegócio, ou seja, que têm suas atuações conectadas com o segmento, fizeram 131 pedidos ao longo do terceiro trimestre deste ano. Na relação com o mesmo período de 2024 o índice também marcou expansão, com 56 solicitações, uma alta de 133%.
Nesse recorte, o segmento que mais buscou por recuperação judicial foi o de “Comércio atacadista de produtos agropecuários primários” com 31 pedidos.
Em seguida, entre aqueles com mais registros, ficou a “Indústria processamento de agroderivados (óleo e farelo de soja, açúcar, etanol, laticínios etc.), que somou 27 solicitações, e a “Agroindústria da transformação Primária”, com 25 requerimentos.
O levantamento foi feito pelo Serasa Experian a partir das estatísticas de processos do número de documentos que solicitam recuperação judicial no Agronegócio registradas mensalmente na base de dados da companhia e provenientes dos tribunais de justiça de todos os Estados.
Foram contemplados proprietários e produtores rurais de todos os portes que atuam como pessoas físicas e jurídicas, além de empresas demandantes do recurso analisado que possuem Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) principal constante no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) da cadeia agro. Além disso, as análises estaduais são realizadas de acordo com a Unidade Federativa atrelada ao cadastro do demandante.
Resumo
- • O agro bateu recorde negativo com 628 pedidos de RJ no 3º trimestre, alta anual de 147% e novo avanço ante o 2º trimestre.
- Produtores PF puxam a piora, com 255 pedidos e crescimentos fortes entre arrendatários e grandes proprietários; soja e pecuária lideram entre PJs.
- • Empresas da cadeia também ampliaram demandas, somando 131 pedidos, com destaque para atacado agropecuário e processamento de derivados.