O governador Ratinho Júnior nunca escondeu sua vontade de colocar o estado do Paraná como protagonista no financiamento do agronegócio local - e, de quebra, colher mais adiante os dividendos políticos desse projeto. Em abril deste ano, quando lançava o primeiro Fiagro paranaense na B3, sinalizou R$ 14 bi em investimentos no setor.
Depois da primeira rodada de fundos estruturados com apoio público, o governo estadual lançou na segunda-feira, dia 30 de junho, um novo edital voltado ao agro. A ideia é parecida com a primeira incursão: atrair cooperativas ou indústrias interessadas em um financiamento que envolve recursos públicos e capital privado por meio de gestoras.
A estrutura veículo se mantém. São FIDCs (fundos de investimento em direitos creditórios), com o Executivo paranaense garantindo que os juros fiquem abaixo do mercado via sua participação via Fomento Paraná. Abaixo dele, em outros tipos de cota, gestoras captando com o mercado e empresas, comprando cotas e tomando o recurso.
A nova chamada pública prevê aportes que variam de R$ 30 milhões a R$ 80 milhões por fundo, com limite de R$ 350 milhões por gestora.
A participação do estado paranaense deve ficar, segundo o edital, entre 14% e 20% do patrimônio líquido dos fundos, sendo a Fomento Paraná responsável pela cota sênior. O estado pretende com isso alavancar veículos que podem ir de R$ 150 milhões a mais de R$ 570 milhões, dependendo da estrutura de capital e da demanda dos investidores.
No novo edital convocando os players interessados, a inscrição deve ser feita em dupla: uma empresa juntamente de uma gestora. Uma fonte a par do projeto disse ao AgFeed que os interessados devem ser cooperativas e indústrias exportadoras do Paraná.
A nova chamada acontece enquanto os últimos fundos da primeira rodada ainda estão sendo estruturados.
A primeira fase, que teve a Suno Asset como gestora escolhida, e consequentemente, a responsável pela captação junto ao mercado, já conta com um primeiro fundo estruturado junto à Cooperativa C.Vale. No primeiro edital, BTG Pactual e a gestora Kijani ficaram próximas de serem as escolhidas dentre as 11 interessadas, segundo apurou o AgFeed.
Essa primeira fase ainda deve contar com mais dois fundos que beneficiarão outras duas indústrias paranaenses, acrescentou a fonte. O volume total do primeiro edital deve superar R$ 1 bilhão, dividido em três ou quatro fundos.
No fundo da C.Vale, enquanto a Fomento Paraná entrou com 20% do FIDC, garantindo a cota sênior, o mercado de capitais aportou outros 40%, numa cota mezanino e as agroindústrias e cooperativas interessadas em tomar o crédito para os cooperados ou associados, fecharam os outros 40% numa cota subordinada.
A base da estrutura deve se manter tanto para os outros fundos do primeiro edital quanto para os que ainda virão no segundo, divulgado na véspera. Claro, tudo ainda a depender da demanda dos investidores e das companhias. O que muda é o processo de seleção, que agora prevê essa inscrição em dupla.
No outro chamamento, primeiro foi escolhida a gestora, e depois, as indústrias interessadas. “Vejo esse novo edital como uma nova geração de projetos do Paraná”, resumiu a fonte.
O timing para divulgação é algo a ser levado em consideração, relembrou a mesma fonte. Entre segunda-fera, 30 de junho, e esta terça-feira, 1 de julho, o Governo Federal lança o Plano-Safra 2025/2026, com um elefante na sala: a taxa de juros.
No primeiro edital paranaense, os juros para o tomador na ponta final ficaram em 9%, bem abaixo dos 15% que hoje está a Selic, taxa básica da economia nacional, e também abaixo de diversas linhas do plano federal para financiar o agro divulgado nesta terça-feira, que podem chegar ao teto de 14%.
Isso mostra que, além de tudo, a corrida presidencial já começou e está agitada nos bastidores. “É sintomático”, disse a fonte. “Enquanto sai o Plano Safra, o governador Ratinho publica um edital, não é à toa. No futuro, poderá dizer que fez um ‘Plano Safra paranaense’ mais barato”.
Resumo
- Governo do Paraná lança chamamento para novos Fiagros estaduais, com apoio da Fomento Paraná e estrutura via FIDCs
- O estado entra com até R$ 80 milhões por fundo e projeta até R$ 350 milhões por gestora
- Na primeira rodada, que teve a Suno como vencedora, deve superar R$ 1 bilhão em três ou quatro fundos