Catuti (MG) - Depois de Paraná e São Paulo, Minas Gerais poderá ser o próximo estado brasileiro a lançar um Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais), de olho em fomentar a produção do agronegócio local.
A informação foi repassada com exclusividade ao AgFeed pelo secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Thales Fernandes, em entrevista durante evento promovido pela multinacional de insumos agrícolas Bayer e pela Cooperativa de Produtores Rurais de Catuti (Coopercat), que buscam a retomada da produção de algodão no Norte mineiro.
“O Fiagro já está no radar, assim como São Paulo e Paraná fizeram. Já temos, inclusive, discutido isso junto à alta cúpula do governo”, afirma Fernandes.
A intenção do governo mineiro é de um Fiagro de R$ 150 milhões, em três divisões, com taxas de juros mais baixas que as praticadas no mercado – e ainda a serem definidas. “A ideia é que esse recurso gire e se torne uma fonte de empréstimo para os produtores a um juro equalizado e menor que a taxa de mercado”, disse o secretário, econômico nos detalhes.
Diferentes setores do agronegócio mineiro devem ser contemplados pelo veículo. “Não queremos colocar todos os ovos em uma cesta só. Vamos fazer [financiamentos] para agroindústria, para irrigação, para tecnologia, são três linhas [de financiamento]”, afirma Fernandes.
A intenção, segundo oi secretário, é dar prioridade a projetos de produtores rurais de pequeno porte. “Inicialmente queremos atender pequenos agricultores, agricultura familiar e indústrias de pequeno porte”, diz.
“Minas tem uma característica muito particular, que é o fato de 94% das nossas propriedades terem quatro módulos rurais, além de uma agroindústria muito forte também, com produção de queijo, azeite, vinho, café especial, embutidos, charcutaria e cachaça. Queremos tirar esse pessoal da informalidade e apresentá-los para o Brasil e para o mundo.”
O governo já começou os estudos para a implantação do Fiagro, segundo Fernandes, em conjunto com a Invest Minas, agência de investimentos do governo mineiro.
Ainda não há uma data para o lançamento do Fiagro, de acordo com o secretário, uma vez que o Executivo mineiro ainda tem como meta aprovar a adesão de Minas Gerais ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), da União, e continuar pagando a dívida do estado com o governo federal.
Mas a ideia de montar um Fiagro já recebeu o aval do governador Romeu Zema. “O projeto é embrionário e temos uma limitação financeira, mas já temos uma diretriz do governador e de seu vice para fazer o estudo de como viabilizar isso o mais rápido possível”, diz o secretário. Também não está definido o nome de uma gestora para tocar o fundo.
O novo instrumento poderá se beneficiar da mudança na regulamentação dos Fiagros, que entrou em vigor em março passado e terá sua implementação feita até o próximo dia 30 de setembro.
Os Fiagros poderão atuar no segmento multimercado, ou seja, com ativos variados em um mesmo veículo, como imóveis rurais, cédulas do produtor rural (CPR) e ações de empresas. Até então, a legislação dos fundos do agro previa que eles fossem segmentados em FIDCs, FIIs (Fundo de Investimento Imobiliário) ou FIPs (Fundo de Investimento em Participações).
O plano do governo de Minas de criação de um Fiagro, segundo Fernandes, é declaradamente inspirado no fundo lançado pelo governo do Paraná em dezembro do ano passado. “O projeto do Paraná foi um empurrão para nós”, diz o secretário.
Em dezembro, o Executivo paranaense lançou um Fiagro buscando captar R$ 2 bilhões no mercado. O veículo já nasceu com R$ 350 milhões aportados pelo Poder Executivo paranaense, que tem como objetivo apoiar empresas industriais do estado em segmentos como máquinas agrícolas, silos, pivôs de irrigação e até veículos.
A gestão do fundo ficou a cargo da Suno Asset Management. A intenção era criar um blend de juros nos financiamentos que fique abaixo das taxas do Plano Safra, instrumento de crédito subsidiado do governo federal.
Em paralelo, também em dezembro passado, o governo de São Paulo lançou um Fundo de Investimento em Direitos Creditícios (FIDC) para investimentos em infraestrutura e logística a serem feitos por empresas do agro paulista. O FIDC, gerido pela Rio Bravo, já captou R$ 65 milhões e agora está fechando suas primeiras operações.
Há ainda um aporte de R$ 115 milhões previsto pelo governo paulista em mais dois fundos – um deles, que recebeu R$ 60 milhões, exclusivo para a empresa ACP Bioenergia e liderado pela BTG Asset, gestora do banco BTG Pactual, e um outro de R$ 55 milhões a ser estruturado e que envolve agricultura sustentável
Resumo
- Com aval de Romeu Zema, governo mineiro estuda lançamento de Fiagro de R$ 150 milhões, inspirado em fundos lançados por Paraná e São Paulo no fim de 2024
- Projetos de pequenos produtores, agroindústrias, irrigação e tecnologia devem ser prioridade na concessão de financiamentos
- Ideia é oferecer financiamentos com juros mais baixos que os praticados no mercado financeiro