Refletindo a alteração do nível de mistura de biodiesel ao diesel de 14% para 15%, autorizada pelo governo federal há três semanas, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) revisou para cima a maior parte das estimativas de produção, processamento, estoques e exportação da soja e produtos oriundos do esmagamento da oleaginosa.

De acordo com dados divulgados nesta quinta-feira, dia 17 de julho, a Abiove agora espera que o processamento da soja atinja um montante de 57,8 milhões de toneladas neste ano, que representa uma alta de 0,5% em relação ao levantamento anterior, quando a associação projetava alta de 57,5 milhões de toneladas.

O número reflete a mudança do nível de mistura obrigatória de biodiesel no diesel, que vai subir de 14% para 15% a partir do próximo dia 1º de agosto.

“O aumento da mistura para B15 aumentou a expectativa de maior processamento, com maior demanda por óleo, trazendo junto também a produção de farelo”, explica o diretor da Abiove, Daniel Furlan Amaral, que diz que é possível que uma revisão altista desse número já aconteça na próxima divulgação dos dados.

A associação também aumentou a estimativa de exportação da oleaginosa, prevendo agora um volume exportado de 109 milhões de toneladas de soja, 0,7% mais alto do que na projeção anterior, de junho, quando esperava exportação de 108,2 milhões de toneladas.

A previsão de produção de soja seguiu mantida em 169,7 milhões de toneladas. Já a previsão de estoques finais contraiu 19% entre uma projeção e outra, passando de 5,8 milhões de toneladas para 4,702 milhões de toneladas.

“A redução dos estoques tem a ver com dois movimentos: o aumento do consumo e o aumento das exportações. Ainda assim é um estoque considerável, maior até do que na safra 2023/2024”, afirma Furlan Amaral.

Apesar do recuo na projeção, o diretor da Abiove avalia que a estimativa de estoques de soja deve se manter no nível atual nas próximas divulgações a serem feitas pela Abiove. “Se mudar, vai ser uma variação marginal, decorrente de um aumento do esmagamento ou de exportação”, explica.

Com a alteração no volume de esmagamento projetado, a Abiove também alterou as estimativas de produção dos produtos gerados a partir do processamento.

A associação agora projeta uma produção de farelo de soja de 44,5 milhões de toneladas, montante 0,9% mais alto que o do levantamento anterior, de junho, quando esperava 44,1 milhões de toneladas de farelo sendo produzidas neste ano.

A Abiove segue projetando que o volume de exportação do farelo seja de 23,6 milhões de toneladas neste ano, bem como o nível de consumo interno, que permanece em 19,5 milhões de toneladas. Já o volume de estoques finais subiu 11,2% na nova projeção, passando a 3,9 milhões de toneladas.

A associação também alterou as estimativas para a produção de óleo de soja, passando a 11,6 milhões de toneladas agora, 1,3% mais alta em relação ao levantamento anterior, quando a Abiove esperava 11,4 milhões de toneladas

A previsão do nível de exportação de óleo, em contrapartida, recuou 3,6%, passando a 1,35 milhão de toneladas. O consumo interno, por sua vez, agora é estimado em 10,5 milhões de toneladas, ante 10,3 milhões na estimativa anterior.

O levantamento mensal é o primeiro a ser divulgado pela Abiove após a decisão, que foi tomada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) no último dia 25 de junho e era aguardada há meses pelo setor de biocombustíveis, após o governo decidir não fazer a alteração do nível de mistura em março passado, prevista pela lei do Combustível do Futuro, sancionada no ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Executivo tinha receio de que a medida pressionasse a inflação dos alimentos, que chegou a subir 1,09% na primeira quinzena de março, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com os preços em desaceleração e os pedidos do setor de biocombustíveis, o governo viu espaço para o aumento da mistura, fator que agora contribui para o aumento da quantidade de esmagamento de soja.

A estimativa da Abiove também é o primeira a ser divulgado pela associação após o anúncio feito pelos Estados Unidos de que pretende taxar produtos importados do Brasil em 50% a partir do próximo dia 1º de agosto.

Para Daniel Furlan Amaral, as tarifas anunciadas por Trump trazem instabilidade nas relações comerciais. “E isso, por si só, já gera uma insegurança nos países, fazendo com que eles busquem alternativas”, diz o diretor da Abiove.

Nesse contexto, ele avalia que a China continuará com “um olhar mais positivo” em relação ao Brasil. “A China já estava se preparando com estoques internos maiores e maior capacidade de garantir a segurança alimentar interna. Acho que a China vai continuar mantendo uma atitude bastante cautelosa e garantindo o seu abastecimento e isso indica um olhar mais positivo da China quanto ao Brasil, pois é um parceiro comercial de longa data, não só comercial, mas também de investimentos.”

Em relação ao mercado dos produtos derivados do esmagamento da soja em si, Furlan Amaral diz que ainda será preciso aguardar definições dos Estados Unidos sobre energias renováveis, com possíveis impactos sobre o mercado de óleo.

Resumo

  • Após elevar a mistura de biodiesel no diesel, Abiove revisa para cima a estimativa de esmagamento da soja, agora projetando 57,8 milhões de toneladas em 2025
  • A produção de farelo de soja subiu para 44,5 milhões de toneladas (+0,9%) e a de óleo de soja para 11,6 milhões de toneladas (+1,3%)
  • A estimativa de estoques finais de soja caiu 19% (de 5,8 milhões de toneladas para 4,7 milhões de toneladas), refletindo maior demanda interna e externa