Assim como café, açúcar e a carne bovina, a tilápia também foi outro item de exportação para os Estados Unidos que ficou de fora da longa lista de exceções, divulgada pelo governo americano na quarta-feira, dia 30 de julho, de produtos que não serão taxados em 50% a partir do próximo dia 6 de agosto.
Empresas do setor de pisicultura que exportam principalmente para o mercado americano estão ajustando sua produção com a possibilidade de perder seu principal cliente.
Isso acontece porque os Estados Unidos são o principal mercado consumidor do filé de tilápia fresco brasileiro. Só no ano passado, os americanos compraram US$ 35,7 milhões no produto, igual a 4,6 mil toneladas. Ao todo, considerando também filés congelados e a tilápia inteira, o volume exportado para o país foi de US$ 52 milhões somente em 2024.
No segundo trimestre de 2025, o preço médio do filé de tilápia fresco estava em US$ 6,81/kg. Se adicionada a tarifa de 50% sobre esse produto, o preço médio passaria a US$ 10,21/kg.
Dessa forma, com a taxação, “não há viabilidade econômica para continuar exportando para eles", disse Francisco Medeiros, presidente da PeixesBR, associação que representa as empresas de piscicultura, ao AgFeed.
No momento, os filés continuam sendo embarcados normalmente, por via aérea. "Até o dia 5 de agosto, terça-feira da semana que vem, vamos continuar embarcando os filés. Mas, depois disso, não há viabilidade", sinalizou o presidente da associação.
O mercado americano é o principal destino das exportações brasileiras de piscicultura. No primeiro semestre deste ano, o país exportou US$ 31,9 milhões em tilápia e outros peixes – igual a 6,5 mil toneladas – para os Estados Unidos.
Quase todo o montante (US$ 31,7 milhões) foi correspondente à tilápia, sendo US$ 22,9 milhões somente em vendas do filé de tilápia fresco ao mercado americano.
Na prática, essa cifra já equivale a mais da metade do volume de filés de tilápia frescos exportados aos Estados Unidos ao longo de todo o ano de 2024 (US$ 35,7 milhões).
O país envia tanto filé de tilápia fresco quanto congelado para os Estados Unidos, segundo Medeiros, da PeixesBR. O filé fresco é preponderante nas exportações, diz ele.
"Nos primeiros seis meses deste ano, vendemos US$ 23 milhões em filé fresco e US$ 1,68 milhão em filé congelado", disse. O restante exportado aos Estados Unidos primeiro semestre correspondeu à tilápia inteira congelada (US$ 6,8 milhões) ou fresca (US$ 672 mil).
O volume de exportações aos Estados Unidos e outros países corresponde a apenas 5% do total produzido pelo Brasil – no ano passado, foram 662.230 toneladas, mas como o volume de produção tem crescido, as remessas acompanham o movimento de alta.
Hoje, o Brasil é o quarto maior exportador de tilápia – seja inteira ou filé – para os Estados Unidos, atrás apenas de China, Colômbia e Taiwan. Há cinco anos, em 2020, era o oitavo maior exportador. Já na categoria de filés frescos, o país só fica atrás da Colômbia em volume de exportação ao mercado americano.
"Sem o Brasil, os americanos não terão de onde comprar o filé de tilápia fresco, que é o nosso principal produto. Já no caso do filé congelado, eles terão outros países para comprar, como China, Indonésia e Vietnã", afirmou Medeiros.
Quase todas as exportações brasileiras de piscicultura - 94% do total - correspondem à tilápia. No ano passado, foram enviadas para o exterior 12,4 mil toneladas do peixe, seja inteiro ou em filé, correspondente a US$ 55,6 milhões. Há cinco anos, eram US$ 10,3 milhões.
Impacto nas empresas do setor
Com a confirmação de que as tilápias serão tarifadas, empresas do setor de piscicultura logo se movimentaram para entender como agir em um novo mercado sem o principal consumidor.
A Brazilian Fish, empresa do Grupo Âmbar Amaral, resolveu congelar a tilápia que iria exportar para os Estados Unidos, reduzir o volume de ração que oferece aos peixes e demitir 50 de seus 1.450 funcionários. As informações foram divulgadas inicialmente pelo jornal Valor Econômico.
O mercado externo representa entre 18% a 20% da receita da empresa, que é de R$ 200 milhões, e as remessas para os Estados Unidos correspondem a 95% do volume total exportado.
A Brazilian Fish havia acabado de investir R$ 100 milhões para expandir a capacidade de produção de dois frigoríficos na região de Santa Fé do Sul (SP), passando de 60 toneladas por dia para 100 toneladas ao dia.
Como a empresa também fornece ração a outros produtores de tilápia nacionais, esse mercado também está sendo afetado pelo tarifaço, com queda já registrada de 30% no volume de vendas de ração.
Outra empresa relevante desse setor, a Fider Pescados, do Grupo MCassab, por sua vez, resolveu congelar investimentos já previstos na ampliação de sua capacidade produtiva, com a instalação de uma nova fazenda de peixes na região de Rifaina (SP), que iriam fazer a produção passar das atuais 9,6 mil toneladas de tilápia para 13 mil toneladas, diante do clima de incerteza.
“A gente fica com uma insegurança muito grande, mesmo que não tenha tarifa”, disse Juliano Kubitza, diretor da Fider à reportagem. “Já estancamos os investimentos, porque traz muita insegurança colocar dinheiro numa atividade que a gente não sabe se vai ter o cliente ou não.”
A Fider já havia parado de enviar remessas de tilápias congeladas no começo de julho, quando Trump anunciou o tarifaço, pois a carga segue via marítima e, portanto, leva mais tempo para chegar aos Estados Unidos – correndo o risco de ser tarifada logo no desembarque.
Já as cargas de peixe fresco continuam sendo embarcadas, explica Kubitza, pois seguem em voos comerciais das companhias aéreas. “Vamos seguir embarcando no fim de semana, na segunda e na terça da próxima semana”, antecipou o diretor da Fider.
O abate de peixes, que é de cerca de 40 toneladas por dia, já diminuiu em 30%. “Mas se efetivar mesmo, a gente vai ter que segurar um pouco. Mas também não dá pra segurar muito porque os animais já estão na água. Vamos ter que nos ajustar, vender. Olhando para a frente, se sentir que é melhor diminuir a produção, a gente baixa a estocagem, vai tirando um pouco menos por mês até equacionar”, disse Kubitza.
Sem os Estados Unidos, a saída seria vender o produto no mercado interno ou em outros países. Metade de sua produção de 9,6 mil toneladas é exportada. Hoje, a Fider já envia produtos para Canadá, Japão, Taiwan, Indonésia e Tailândia, mas 80% das vendas são direcionadas para o mercado americano. “Já começamos a olhar para outros países e para o próprio Brasil para poder direcionar a produção já posta”, avaliou Kubitza.
Resumo
- Tilápia brasileira ficou de fora da lista de exceções dos EUA e será taxada em 50%, comprometendo a viabilidade das exportações do peixe
- Os Estados Unidos concentram quase toda a exportação brasileira de tilápia, que em 2024 somou US$ 52 milhões;
- Empresas do setor enfrentam incertezas, devem ajustar produção e já buscam novos mercados