Por mais que os números do segundo trimestre da Boa Safra apontem um crescimento de 43% na receita e de 37% no lucro líquido, a principal mensagem da administração da empresa ao mercado nesta quinta-feira, 7 de agosto, não veio dos resultados contábeis, mas sim da expectativa de que o melhor ainda está por vir.
Com a maior carteira de pedidos da sua história, R$ 1,6 bilhão em sementes de soja e mais R$ 52 milhões em outras culturas, outro recorde, a companhia vê o primeiro semestre como um período de preparação para a verdadeira “colheita”, que ocorre entre o terceiro e o quarto trimestre, quando a maior parte do faturamento é reconhecida.
No segundo trimestre do ano passado, a carteira de pedidos na soja era de R$ 1,3 bilhão, e em outras culturas, de R$ 35 milhões.
“O nosso negócio hoje ainda é mais concentrado na soja e os movimentos de diversificação devem diminuir a sazonalidade ao longo do tempo. Mas, por enquanto, nossos balanços de segundo trimestre são de baixo faturamento, com uma concentração de receita no segundo semestre. Enquanto formos muito grandes em soja, esse é o desenho”, resumiu o CEO da empresa, Marino Colpo, que conversou com jornalistas para apresentar o balanço.
No documento apresentado ao mercado nesta quinta, 7 de agosto, a empresa mostrou uma receita líquida de R$ 125 milhões no segundo trimestre de 2025, uma alta de 43% em relação ao mesmo período de 2024. O lucro líquido avançou 37%, para R$ 24,8 milhões.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) ajustado, que exclui efeitos como derivativos, valor justo de contratos e ajuste de estoque foi de R$ 10,5 milhões, um crescimento de 45,4% frente aos R$ 7,2 milhões do ano anterior.
Felipe Marques, CFO da Boa Safra, disse que além da preparação para o período mais aquecido do ano, o trimestre é marcado pela formação de estoques e adiantamento de royalties que a empresa paga aos fornecedores.
No trimestre, a empresa viu sua margem Ebitda recuar de 19,8% para 15,2%.
Segundo Marques, esse movimento é esperado para a primeira metade do ano, em razão da estrutura de custos e do modelo de negócio. “As despesas correm mês a mês. Como grande parte do resultado vem do segundo semestre, você piora indicadores na primeira metade do ano”, conta.
Outro ponto de impacto foi a provisão para perdas esperadas (PDD), que saltou de pouco mais de R$ 750 mil para R$ 14,5 milhões no trimestre.
Marques, no entanto, reforçou que a empresa resolveu adotar uma política conservadora: “Acabamos sendo muito mais conservadores e colocando um volume maior, que acaba se recuperando historicamente. Mesmo com os R$ 14 milhões, temos talvez a menor inadimplência do setor”, disse, fazendo referência aos R$ 580 milhões em contas a receber do final do ano passado, que colocam os R$ 14 milhões sob uma ótica de menor importância.
Na avaliação do CEO Marino Colpo, o destaque do trimestre não está nos números em si, mas no que eles indicam sobre a capacidade da companhia para o segundo semestre. “O lucro do trimestre cresceu 37% ano contra ano, mas é preciso frisar que não são os principais trimestres. A carteira de pedidos diz muito mais que o lucro”.
Colpo e Marques explicaram que a carteira de pedidos se transforma integralmente em receita, e considerando compras mais atrasadas, tendem a fazer com que a receita para o ano de 2025 seja ainda maior do que a carteira projetada.
Marques destacou que esse aumento na carteira é reflexo de uma estratégia adotada pela Boa Safra desde o ano passado de diversificar sua posição em revendas.
Ao apresentar os resultados do fechamento de 2024, a empresa chegou a dizer que passou a ser mais "exigente" na concessão de crédito com revendas e distribuidores. Sem citar nomes, Marino Colpo chegou a dizer que a empresa diminuiu sua exposição a grandes grupos do setor de 41% em 2023 para 19% em 2024.
Mesmo com menos exposição a grandes redes do varejo agrícola, a Boa Safra ampliou sua base de clientes para 697 lojas ao final de 2024, ante 610 pontos de venda em 2023.
Essa expansão tem custado, segundo os diretores, um investimento de R$ 200 milhões por ano, na média, principalmente destinados ao aumento de equipe comercial. Nesse aumento físico, Felipe Marques destacou que a empresa deve dobrar o número de pontos de venda na região Sul até o fim do ano. Atualmente são pouco mais de 40 revendas distribuindo as sementes da Boa Safra.
Ainda na preparação para o segundo semestre, a companhia informou que superou a capacidade de produção de 280 mil big bags. Em 2024, a capacidade era de 240 mil, mas a empresa produziu 205 mil.
Mais um CRA no mercado
Além do balanço, a Boa Safra divulgou nesta quinta-feira uma ata de uma reunião do conselho de administração, citando que o board aprovou a emissão de até R$ 625 milhões em Cédulas de Produto Rural com liquidação financeira (CPR-F), que serão usadas como lastro para uma nova operação de CRA.
O certificado será emitido junto a securitizadora Opea, numa operação estruturada com apoio da XP, BTG, Bradesco BBI e Itaú BBA. Em janeiro, a empresa já havia emitido um CRA no valor de R$ 500 milhões.
A captação reforça o caixa da companhia em um momento de alto consumo de capital de giro. Ao fim do segundo trimestre, a empresa tinha uma dívida bruta de R$ 853 milhões, com mais de 90% dessa dívida no longo prazo.
Com R$ 630 milhões em caixa e aplicações financeiras, a dívida líquida do trimestre é de R$ 223 milhões.
“Meramente um boato”
Marino Colpo ainda se posicionou em relação ao movimento da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), que anunciou nesta semana ter contratado um estudo técnico-econômico e jurídico para apurar "indícios de condutas anticoncorrenciais no mercado brasileiro de sementes, com foco específico nas práticas adotadas pela empresa Boa Safra”.
A nota técnica da entidade que mostra essa ofensiva dos sementeiros menciona que associados observaram que a Boa Safra estaria vendendo produtos “abaixo do preço de custo”. Cita, ainda a “utilização de incentivos comerciais não transparentes e outras condutas com indícios de caráter predatório, voltadas à eliminação de concorrentes e à captura artificial de market share".
O CEO da Boa Safra se mostrou tranquilo, e considerou o movimento “muito vazio”, por se tratar apenas da contratação de um estudo.
“Não temos nenhum domínio de mercado, pois temos 8% no market share da soja. Projetamos crescimento este ano, mas ainda longe de ter esse domínio. Você vê a nota e parece um monstro e o fato concreto é que vão contratar alguém para olhar esse caso”, diz.
“Para nós, que somos uma empresa listada e com muitos acionistas minoritários, é algo muito ruim”, acrescentou.
A Aprosmat ainda disse, na nota, que uma vez concluído o estudo, a entidade diz que avalia formalizar uma representação junto ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), para “pedir uma apuração rigorosa de eventuais atividades lesivas ao ambiente concorrencial”. Reforçando a tranquilidade, Marino Colpo ainda brincou: “Estamos com 8% de mercado e os concorrentes já estão jogando a toalha… está ruim, viu?”.
Felipe Marques, CFO da empresa, citou que o crescimento da empresa está ancorado tanto do ponto de vista de produção de sementes quanto na carteira de pedidos, e que esse crescimento é feito com total transparência. “Somos a empresa de sementes mais transparente do Brasil”, disse, se referindo ao fato de que a companhia é listada e, por isso, obedece diversas normas de governança corporativa exigidas pela Bolsa brasileira.
“Não temos nenhum desconforto. É meramente um boato e os números mostram que estamos ganhando share em cima de alguns players, e isso naturalmente incomoda”, finalizou o CFO da Boa Safra.
Resumo
- Boa Safra aposta em forte segundo semestre com carteira recorde de R$ 1,6 bilhão em pedidos de soja e capacidade máxima na produção de sementes
- Receita e lucro cresceram no trimestre, mas margens recuaram com despesas e provisões concentradas na primeira metade do ano
- Empresa rebate críticas da Aprosmat, que acusou empresa de práticas anticoncorrenciais e diz que críticas são “muito vazias” e que companhia é a mais transparente do seu mercado