A tecnologia sempre esteve no coração da agfintech TerraMagna. Fundada em 2017 por dois engenheiros formados pelo ITA, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, em São José dos Campos (SP), a empresa nasceu do desejo de seus fundadores de empreender no agronegócio.

Em seu início, calcada na experiência dos criadores, a empresa voltou-se à tecnologia, oferecendo soluções de monitoramento remoto para produtores rurais, combinando dados e imagens de satélite com informações agronômicas e financeiras.

No meio de sua trajetória, a empresa ampliou seu escopo de atividades, percebendo que, mais do que oferecer serviços de monitoramento, poderia também trabalhar na oferta de crédito a revendas de insumos, distribuidores e produtores, que passou a ser a frente mais importante do negócio.

A companhia fechou acordos com grandes empresas como a gigante dos insumos FMC e a rede de revendas AgroGalaxy e conseguiu atingir uma carteira de crédito que chegou a atingir mais de R$ 1 bilhão.

Agora, a TerraMagna aproveita todo esse know-how construído ao longo dos últimos oito anos para lançar uma nova empresa, separada do negócio original, a TM Digital.

A expectativa é de movimentar R$ 18 bilhões até o fim do ano em uma plataforma digital voltada à gestão de risco de distribuidores de insumos.

A nova empresa vai oferecer essa ferramenta para que os distribuidores possam fazer, em um mesmo ambiente, todo o trabalho de gestão financeira e de risco, trabalhando com seis funcionalidades: pré-financiamento, análise de crédito, gestão de títulos e garantias, monitoramento por satélite, performance de carteira e cobrança as service.

A partir dessas funcionalidades, a ideia da TerraMagna é que a plataforma sirva para as distribuidoras de insumos acompanharem toda a jornada do crédito ao mesmo tempo que mitigam o risco.

"Quando olhamos para a jornada do distribuidor, ele geralmente tem um time comercial que vai a campo e traz os produtores rurais para a base, cadastra esses produtores, informando o CPF ou CNPJ”, afirma Carolina Vergeti, diretora geral da TM Digital e que já atuava na TerraMagna anteriormente.

Após a inserção dos dados na plataforma, a ferramenta faz um diagnóstico completo dos dados dos produtores, considerando dados tradicionais de birôs de crédito, mas também fatores agronômicos, com utilização de dados via satélite, riscos agroclimáticos e mercadológicos.

“Com base nessa análise e na nossa experiência, entregamos sugestões estratégicas para que o distribuidor possa operar com aquele produtor, por meio de um limite financeiro em reais ou em sacas”, explica Vergeti, salientando que também é possível formalizar toda a negociação dentro da plataforma com assinatura digital e registro oficial.

“Por fim, a gente acompanha essa operação financeira por satélite até que ele receba esse investimento de volta”, diz Vergeti.

A TM Digital espera alcançar 150 empresas até o fim do ano, principalmente distribuidores de todos os portes em todo o território nacional, que são o público-alvo da empresa. Cooperativas, agroindústrias, tradings e assets também são possíveis clientes.

“A gente percebe que essas empresas têm de cinco a oito fornecedores para ter todos os dados. Estamos concentrando tudo em uma plataforma só”, afirma Vergeti.

A julgar pelo que pensa Rodrigo Marques, cofundador da TerraMagna, a ambição da TerraMagna é grande. “No longo prazo, seremos uma plataforma tecnológica que dá sustentação a todo o fluxo financeiro do setor, tornando o agronegócio um investimento ainda mais seguro e rentável para os brasileiros”, diz ele.

Não à toa, a fintech vai iniciar as atividades da empresa com a operação já rodando: a TM Digital já nasce com contratos assinados com clientes – cuja identidade a empresa prefere não revelar, mas adianta que uma boa porcentagem dos R$ 18 bilhões já fechou negócio e está começando a rodar o serviço.

Um diferencial em relação a outras plataformas é o fato de que os serviços da ferramenta já foram validados internamente. Isso acontece porque as funcionalidades da plataforma, que está sendo lançada junto com a TM Digital, já eram utilizadas pela TerraMagna em sua própria gestão de risco de crédito.

“Pegamos tudo isso que a TerraMagna usava internamente e que nunca foi usado pelo mercado, colocamos numa plataforma inédita e disponibilizamos esse serviço através da TM Digital”, diz Vergeti.

Outra particularidade é que a plataforma pode ser contratada com todas as funcionalidades ou em módulos isolados – se o cliente quiser contratar apenas o serviço específico de monitoramento via satélite, por exemplo, ele poderá fazê-lo.

A TerraMagna continua sua vida própria, inclusive com a operação separada da TM Digital.

A fintech amealhou importantes investidores nos últimos anos como The Yield Lab, OneVC, e, na rodada mais recente, em 2022, do tipo série A, conseguiu US$ 40 milhões (R$ 220 milhões, em valores da época), sob liderença do SoftBank, com participação da Shift Capital e Milenio Capital.

A TerraMagna não divulga atualmente seus números – os dados mais recentes disponibilizados são de 2023, quando a empresa chegou a uma receita de R$ 110 milhões e fez desembolsos de R$ 1,5 bilhão, segundo informou o CEO da TerraMagna, Bernardo Fabiani, em entrevista ao AgFeed no começo do ano passado. Já a carteira havia chegado a R$ 1,1 bilhão no primeiro trimestre de 2024.

Nos últimos anos, a fintech teve seu nome bastante vinculado ao da rede de revendas de insumos agrícolas AgroGalaxy, para quem estruturou um fundo exclusivo, conhecido como “Fiagro da AgroGalaxy”, lançado em setembro de 2023 e criado para captar recursos destinados a financiar produtores na compra de insumos na rede.

Mais tarde, após a rede de revendas controlada pela gestora Aqua Capital ter entrado em recuperação judicial, a TerraMagna entrou na lista de credores da AgroGalaxy, com um crédito de R$ 28 milhões a receber.

Recentemente, em janeiro deste ano, a AgroGalaxy anunciou um acordo com o FIDC da Terra Magna e seus investidores para a volta da operação de descontos de recebíveis.

O FIDC, exclusivo para a rede do Aqua, estava sem realizar descontos desde que a empresa havia entrado em recuperação judicial.

Através dele, a companhia do Aqua antecipa os recursos que tem a receber de produtores rurais e que estão formalizados em títulos de crédito, como uma CPR (Cédula de Produto Rural).