Receita maior, crescimento na carteira e margem líquida de 10%, depois de atingir o breakeven em 2023. Tudo isso já seria motivo de comemoração em uma das principais agfintechs da América Latina, a TerraMagna. Mas um dos indicadores que mais orgulha em tempos de “crise no agro” é a inadimplência “zero” que a empresa diz ter garantido até agora.

Em entrevista ao AgFeed, o CEO da TerraMagna, Bernardo Fabiani, confirmou que a receita da empresa subiu de R$ 39,8 milhões em 2022 para R$ 110 milhões em 2023.

É fato que, em meados do ano passado. Fabiani chegou a dizer ao AgFeed que esperava R$ 125 milhões, o que mostra um certo recuo nas pretensões iniciais. Porém, os desembolsos, ou seja, o total de crédito que foi concedido no período, subiu de R$ 1,2 bilhão para R$ 1,5 bilhão, que era a meta buscada pela fintech.

“Em 2023 houve essa quebra de expectativa, com a soja por exemplo caindo de R$ 180 para R$ 130 (por saca), o que machucou muitos financiadores, que acabaram deixando o mercado agro. Esse gap foi excelente para a TerraMagna”, avaliou o CEO.

O executivo diz que este cenário, com a saída de agentes que entraram por último no setor, empolgados com o boom vivido até 2022, é um dos fatores que beneficiou a agfintech, o que deve se repetir em 2024.

Além disso, segundo ele, contou a “especialização” como diferencial competitivo. Como a TerraMagna só trabalha com o agro e tem times especializados desenvolvendo análises de risco e produtos específicos para o setor, o mercado teria valorizado mais essa caraterística.

Fabiani diz que muitas das estratégias usadas para fora do agro são impossíveis de se aplicar ao setor e que, por isso, muitos tiveram problemas.

No caso da TerraMagna, segundo ele, o objetivo não foi apenas aumentar o tamanho da carteira. Ela até cresceu, saiu de R$ 950 milhões e está agora, no primeiro trimestre de 2024, em R$ 1,1 bilhão. Mas o que mais importa é a qualidade dessa carteira, disse o CEO.

“As duas preocupações que surgiram no agro foram o atraso nos pagamentos, acima de 90 dias, e as perdas. E nas duas métricas continuamos em zero”, ressaltou Fabiani.

Ele garante que atrasos são verificados em sua carteira, mas sempre inferiores ao período de 90 dias, apesar de admitir que a TerraMagna está “exposta em grãos”, já que 70% são ativos relacionados a este segmento do agro.

“A nossa preocupação é colocar bons clientes na carteira. São clientes que não pagam tanta taxa, mas que não dão trabalho na hora de você receber de volta”, afirmou.

Fabiani tem uma visão interessante para os “tempos de “crise”, um cenário que nem todos no setor acreditam ser verdade. Mas é fato que o número de recuperações judiciais no agro tem crescido e que o mercado de fiagros já foi afetado pelo problema.

O fundo da startup, o Fiagro Insumos Milenio TerraMagna FIDC, atualmente tem patrimônio de R$ 625 milhões e zero inadimplência, segundo o CEO.

“Mercado de crédito é um negócio de dizer não. Capital sempre vai ter alguém pra tomar. A questão não é essa, para crescer a carteira com qualidade é bem diferente”, diz.

Crescimento em 2024

Ao longo da entrevista, o CEO da TerraMagna repetiu algumas vezes que “2024 está sendo a continuação de 2023”. A afirmação se refere ao mesmo “gap” deixado por quem vai perdendo com o agro e deixando de colocar foco no segmento – um espaço que estaria sendo aproveitado pela agfintech.

“Antes havia uma taxa comprimida de maneira irracional pelo excesso de competição”, diz.

Neste cenário, Fabiani diz que a atual margem líquida de 10% deve ficar entre 12% e 15% até o fim do ano.

“Viramos para a geração de caixa e a operação já está rodando de uma maneira saudável e sustentável, inclusive em modo de expansão”, afirmou o executivo.

A estimativa é que concessão de crédito da TerraMagna alcance R$ 2 bilhões em 2024, um crescimento de R$ 500 milhões em relação ao ano passado. Já a receita deve avançar dos R$ 110 milhões para R$ 150 milhões.

A carteira de crédito deve subir de R$ 1,1 bilhão para R$ 1,5 bilhão.

Fiagros “proprietários”

A empresa continua estruturando novos fiagros e reafirmou a meta de chegar ao patamar de R$ 5 bilhões de financiamento na cadeia de insumos agrícolas nos próximos anos.

Uma das apostas da TerraMagna em 2024 são os Fiagros “proprietários” ou “exclusivos”, quando a Fintech utiliza seu próprio fundo como modelo para estruturar outros a parceiros e clientes.

Um deles, lançado recentemente, é o Fiagro Exclusivo Andav, criado para apoiar as necessidades de capital de giro dos associados da Andav, associação que representa os distribuidores de insumos no País.

O fundo, já constituído, conta com disponibilidade de recursos para desembolsos em duas modalidades: venda da carteira de recebíveis - sobre insumos faturados com prazo máximo de 450 dias corridos - e capital de giro para o distribuidor, em que o fundo adquire Nota Promissória emitida pelo distribuidor com garantias de duplicatas a entregar até 120 dias antes do vencimento.

A fintech não revela quanto o fundo já captou, mas o valor alvo divulgado é de R$ 200 milhões, 18 meses.

O CEO da TerraMagna explicou que no modelo atual o Fiagro Andav “roda dentro” do fiagro que a fintech já possui – segundo a empresa, ele é considerado o maior “independente” da modalidade FDIC.

À medida em que o Andav for crescendo, haverá o “spin-off”, ou seja, passará a ter um CNPJ e rodar de forma independente. O mesmo deve ser feito para outros clientes que já estão demandando este tipo de estratégia.

Neste modelo, a TerraMagna continua como responsável pela avaliação do risco dos ativos que estão na carteira do fundo e segue como investidor na estrutura, explicou Fabiani. “Buscamos outros investidores para participar junto conosco, mas ainda temos capital alocado”.

A vantagem dos fiagros “exclusivos” seria uma especialização ainda mais apurada, já que o fundo estaria adaptado a demandas regionais, por exemplo, de determinado cliente.

O CEO disse estar muito confiante com a estratégia dos fiagros proprietários, embora ainda considere cedo para dar mais detalhes.

Ele ponderou também que o “efeito colateral” é o fato de a receita de juros do fundo passar a ser do cliente e não mais ser contabilizada na receita da fintech. “Mas teremos uma margem acima do que temos hoje”.

Fabiani também vê com otimismo a nova regulamentação dos fiagros, que deve ser estabelecida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ainda este ano.

“Hoje o fiagro é um mercado descomunal, com velocidade de crescimento muito maior que os fundos imobiliários. A regulamentação vai possibilitar outras operações, estamos muito animados, porque, por exemplo, diversos tipos de ativos não financeiros passarão a ser contemplados, vão destravar muito valor na cadeia”, avaliou.