Passada a empolgação, é hora de voltar ao trabalho. Depois de semanas nos holofotes com o fechamento do processo de dupla listagem, com direito até a tocada no sino feita pelo fundador José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, em Nova Iorque, a JBS se prepara para a divulgação de mais um resultado trimestral daqui algumas semanas. E a depender da projeção de analistas, o ânimo pode ser momentaneamente deixado de lado.

Relatórios divulgados nos últimos dias por analistas de bancos projetam que o balanço do segundo trimestre da empresa deve vir mais fraco em comparação com o mesmo período do ano anterior.

As instituições financeiras avaliam que a operação de carne nos Estados Unidos deve apresentar margens mais fracas e pressionar os resultados. Apesar disso, acreditam que é apenas uma pedra em um longo caminho animador.

Thiago Bortoluci, do Goldman Sachs, foi claro: “Após uma série de entregas consistentes de lucros, acreditamos que a JBS poderá decepcionar as expectativas do mercado ao divulgar os resultados do segundo trimestre de 2025, no dia 13 de agosto”.

O analista cita uma “fraca temporada de carne bovina nos EUA” somada aos custos mais altos da carne suína no país. “Uma carne bovina fraca nos EUA também deve pressionar temporariamente a dinâmica do capital de giro e o impacto no caixa livre”, acrescentou o analista do Goldman.

Apesar disso, ressaltou que esse cenário macro para o boi americano afeta todo o setor, incluindo a principal concorrente Tyson Foods. Diante disso, a diversificação geográfica da JBS pode compensar as perdas.

Bortoluci espera um ciclo positivo na Austrália e também na operação de carne bovina brasileira. O Goldman Sachs projeta um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) de R$ 8,2 bilhões no trimestre, abaixo dos R$ 9,9 bilhões de um ano atrás.

Já Leonardo Alencar, da XP, projetou um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) de R$ 8,7 bilhões para o período. O montante esperado pelo analista é 12% menor em um ano e 11% abaixo do consenso do mercado.

“Destaco a operação da Pilgrim’s e também o mercado na Austrália. Do lado negativo, o segmento US Beef deve enfrentar dificuldades com a redução de spreads, junto da Seara, que provavelmente refletirá impactos negativos do recente caso de gripe aviária no Brasil, que levou à suspensão das exportações e à queda dos preços domésticos”, pontuou no documento.

Em seus cálculos, a operação nos EUA de bovinos deve ter uma margem de 2,5% negativos, enquanto a operação de suínos por lá, de 8,5%.

“Projetamos margens menores refletindo spreads mais fracos com um aumento do preço do suíno magro, mas também considerando uma perspectiva positiva para os custos da ração”, acrescentou Alencar.

Apesar da fraqueza no curto prazo, tanto XP quanto Goldman recomendam a compra dos papéis da JBS. As duas casas acreditam que o valuation da empresa está atrativo, e a diversificação geográfica da empresa a destaca frente concorrentes.

“Destacamos o potencial de reavaliação do papel, embora esperemos que isso ocorra de forma lenta e gradual, já que não prevemos gatilhos para revisões de lucro no futuro próximo”, exemplificou Alencar, da XP.

O analista do Goldman Sachs acredita que a ação da JBS hoje é negociada com um desconto de 21% em relação à Tyson Foods, algo que ele acredita que “não há razão estrutural para acontecer”.

“Mantemos nossa recomendação de compra para a ação, embora observando potencial de volatilidade de curto prazo, à medida que o consenso se ajusta para um trimestre mais fraco”, acrescentou Thiago Bortoluci.

Renata Cabral, analista do banco Citi, prevê um “respiro” no trimestre, depois de “uma sequência estelar de resultados positivos desde o segundo trimestre do ano passado e a histórica listagem na NYSE”.

O Ebitda projetado pela analista é de R$ 8,5 bilhões, também abaixo do ano anterior. Cabral também aponta a carne bovina nos EUA como um entrave para a empresa. Só na operação US Beef, a projeção do Citi é de um Ebitda negativo de US$ 163 milhões, ou R$ 891 milhões negativos, pela cotação atual.

Do lado positivo, a analista ressaltou que o trimestre será o primeiro que a empresa publicará o balanço nos padrões de contabilidade americano, o que vai ajudar o mercado a comparar a operação com a Tyson.

“Apesar de uma impressão sem brilho, mantemos a JBS como uma compra apoiada por fatores estruturais como sua listagem na NYSE, possível inclusão em índices e por apresentar uma plataforma global diversificada”.

No Itaú BBA, o analista Gustavo Troyano afirmou que será um “trimestre misto” para a JBS. Ele também prevê uma queda no Ebitda ancorada pela operação de bovinos nos EUA, mas afirmou que uma “dinâmica ainda sólida do frango pode mitigar parcialmente esses obstáculos”.

“Na maioria das nossas discussões com investidores, a esperada contração do Ebitda consolidado anual tem sido uma preocupação comum. Equilibrar o desempenho da margem da JBS dentro de suas principais unidades de negócios é fundamental para entender se um ajuste para baixo nas estimativas de curto prazo do consenso está em andamento, mas isso não anula nossa expectativa de alta no médio prazo”, afirmou Troyano.

Nesta terça-feira, 8 de julho, tanto o papel da empresa negociado em Nova Iorque quanto o BDR vendido na B3 viam suas cotações recuarem no início da tarde, perto das 13h30. Lá, com baixa de pouco mais de 2%, a ação custava US$ 13,40. Aqui, o BDR recuava cerca de 3%, a R$ 72,85.

Resumo

  • Bancos projetam queda no Ebitda da JBS no 2T25, puxada por margens fracas nos EUA e impacto da gripe aviária na Seara
  • Apesar da dupla listagem e da exposição recente, analistas alertam para um trimestre sem gatilhos positivos no curto prazo
  • Instituições mantêm recomendação de compra, destacando valuation atrativo e força da diversificação geográfica da empresa