Há mais de 20 anos o administrador Rodrigo Santos, fundador da butique de investimentos RSA Capital, acompanha de perto o mundo “financeiro” que envolve o agronegócio de Mato Grosso.

Ele diz que nos 4 anos em que trabalhou na gigante Amaggi, por exemplo, foi responsável por levar ao conselho da empresa a ideia de criar um banco, o hoje conhecido AL5, que até o fim do ano passado estava próximo de liberar R$ 1 bilhão em crédito a produtores rurais.

Com longa passagem também pelo Sicredi, Santos diz que estava faltando um banco de investimentos “regional”, para atender a alta demanda de Mato Grosso, especialmente no que ele chama de “middle market”, pessoas jurídicas (principalmente empresas) com faturamento entre R$ 100 milhões e R$ 800 milhões.

É para atender essa fatia de mercado que está sendo lançado oficialmente o SBI, Semear Banco de Investimento, uma sociedade entre a RSA Capital - fundada por Rodrigo e que já atuava em Mato Grosso - e o Banco Semear, de Minas Gerais, com mais tradição no setor de construção, infraestrutura e obras públicas.

Em 10 anos de atuação, a RSA Capital já emitiu mais de R$ 2 bilhões em títulos como CRIs, CRAs e também FIDCs. Mesmo quando se trata de um título imobiliário, Santos explica que muitas vezes há relação com o agronegócio.

“A gente fez muita operação de CRI, que são operações imobiliárias. para o agronegócio, para poder financiar a construção de centro de distribuição, de armazém de grãos, e de agroindústria”, explicou Santos, em entrevista exclusiva ao AgFeed.

Já o Banco Semear possui hoje uma carteira de crédito de R$ 700 milhões, segundo Gustavo Sarti, gerente comercial PJ do banco, que também conversou com o AgFeed. Ele estima que 15% da carteira esteja de alguma forma relacionada a cadeias produtivas que envolvem o agronegócio. A intenção agora é expandir essa presença.

“A ideia é utilizar a expertise que ele (Rodrigo Santos) tem, que o pessoal que trabalha com ele vem do agro, porque o agro não é um ramo fácil de entrar e de conhecer”, disse.

Os dois sócios conseguiram autorização do Banco Central para atuar como banco de investimento em meados de 2024.

“Pegando tração e a gente atingindo o objetivo dos três primeiros anos, é possível que o SBI faça um spin-off do Semear Banco de Investimentos e a sede do SBI seja em Cuiabá, para ter esse foco no agro que é o que a gente pretende. A gente estava muito focado nas operações imobiliárias, que é o que estava no nosso pipeline aqui”, explicou Santos.

O executivo admite que até pouco tempo estava “com um pouco de receio” em relação ao agro, em função do cenário de margens baixas e até quebra de safra, no ano passado, em Mato Grosso.

“Agora a gente está vendo que o pior já passou para o setor. Então, agora sim, aquilo que é o nosso core business, aquilo que a gente quer primordialmente fazer dentro da estrutura do SBI, começa a partir do segundo semestre”, ressaltou.

Ambas as empresas dizem que, além do Centro-Oeste, já possuem presença importante no Triângulo Mineiro e Sul de Minas, regiões que também são destaque no agronegócio.

Rumo aos R$ 500 milhões em emissões

O curioso é que o nome “Semear” não tem relação com o agro, em sua origem. Gustavo Sarti explicou que foi criado a partir da junção dos nomes dos pais dos fundadores – Semíramis e Arthur. Mas agora a intenção é dar significado à marca, junto ao agro.

Rodrigo Santos, que foi o escolhido para ser o CEO do SBI, diz que a meta para os próximos 12 meses é alcançar R$ 500 milhões em emissões de títulos ligados ao agronegócio.

“Parte dessas operações, talvez, de um quarto a um terço delas, com o capital próprio do banco, tesouraria, e o restante a mercado captando o recurso com terceiros, estruturando a operação junto e trazendo coinvestidores nas nossas emissões”, pontuou.

Desde que o negócio foi fechado – a Semear comprou 30% da RSA Capital em julho de 2024 – as duas empresas passaram a atuar de forma conjunta, no banco de investimentos, por isso, segundo Santos, o SBI já nasce com R$ 120 milhões em emissões, a maioria ligada ao setor imobiliário.

Santos argumenta que empresas com R$ 1 bi de faturamento ou mais já são bem atendidas pelos grandes bancos. Além disso, considera que que para produtores pessoa física, com faturamento mais baixo, é sempre mais difícil “convencer” o mercado de capitais.

“A gente quer se posicionar com aquele cara que está precisando implementar a governança, que está precisando trazer operações mais estruturadas para a continuidade e para a perenidade do negócio”, afirmou.

Ainda assim, ele acredita que o SBI poderá ter cerca de 20% de operações com pessoas físicas. “Mas nós temos a atuação mais forte nas PJs do agro. Então, vamos imaginar as revendas, a agroindústria, é onde a gente tem o maior relacionamento, onde a gente quer atuar”.

Entre os destaques com maior potencial no agro estão os FIDCs, na visão de Rodrigo Santos.

“Para aquela revenda que antes fazia emissão de um CRA, aquela agroindústria que antes emitia um CRA e a cada dois, três anos, precisava ir a mercado novamente, fazia uma nova emissão, a estrutura do FIDC faz mais sentido, porque você faz a estrutura uma vez só e, a partir dali, você vai trazendo para dentro os recebíveis do agronegócio e na outra conta vai fazendo novos aportes dentro do mesmo instrumento, que já está ali concebido”, disse ele.

O objetivo de Santos é trabalhar com FIDCs de no mínimo R$ 50 milhões de patrimônio líquido, a partir de agora. A RSA já opera um FIDC que está com R$ 10 milhões, mas que em breve receberá um aporte do banco, destinado a uma revenda de máquinas agrícolas.

Mais dois fundos estariam a caminho, um imobiliário e outro para distribuidor de insumos que “tem fluxo grande de recebíveis do produtor rural”.

Para se diferenciar no mercado, Santos quer usar a expertise e o relacionamento que já tem com a cadeia do agro em Mato Grosso. Ele dá como exemplo o fato de já ter realizado diversas operações envolvendo a área de logística e armazenagem do agronegócio.

Neste leque estariam empresas que alugam estruturas de armazenagem para grandes tradings, por exemplo.

“A gente quer navegar nesse universo, naquelas empresas que têm uma contraparte do outro lado com risco muito bom, que trabalha num processo de originação de grãos, que trabalha num processo de logística, de armazenagem. Dinheiro direto para o produtor rural ou competir com as grandes tradings não é o nosso foco”, ressaltou o CEO.

Outra vantagem do SBI, ele argumenta, seria a maior flexibilidade ao estruturar operações, algo que grandes bancos nem sempre possuem. “Tem também o relacionamento e a proximidade que a gente tem com os principais players aqui da região”.

Em tempos de crédito ainda restrito e recuperações judiciais ainda sendo registradas em Mato Grosso, ele diz que grandes gestoras de fundos de crédito as vezes entram e saem do agro, porque estão perto de uma das pontas, os investidores, porém não conseguem distinguir na outra ponta, “quem é quem”, identificando “bons ativos, com menos riscos”.

O SBI diz já estar envolvido em quatro processos de M&As, à medida que diversos players estão buscando parceiros estratégicos, neste cenário atual.

Para o executivo, o período de preços mais baixos e margens apertadas nos últimos três anos, está servindo como uma espécie de “peneira”, onde “menos capitalizados vão ficando pelo caminho”, mas também surgem várias oportunidades para quem estava melhor preparado.

Resumo

  • Resultado da união entre o Banco Semear (MG) e a RSA Capital (MT), SBI inicia operações com meta de R$ 500 milhões em emissões no primeiro ano
  • Instituição vai atuar no “middle market” do agronegócio, atendendo empresas com receita entre R$ 100 milhões e R$ 800 milhões, especialmente em regiões como Mato Grosso e Triângulo Mineiro
  • Coim proximidade a grandes players locais, SBI quer se destacar com FIDCs e operações estruturadas, com foco em agroindústrias, revendas e logística