Na missão de escalar sua operação para a América Latina, a agfintech mexicana Blooms acabou de captar US$ 2,6 milhões (algo em torno de R$ 14,7 milhões pela cotação atual), com investidores espalhados pelo continente.

Nas palavras do CEO e fundador, Francisco Meré, um executivo com décadas de experiência no setor bancário mexicano, a empresa é uma fintech agrícola especializada no financiamento comercial para o setor de frutas e vegetais frescos. A ideia é dar crédito para produtores e empresas que exportam esses produtos para os Estados Unidos.

“O que estamos fazendo é fornecer liquidez para a América Latina, com um risco de crédito baseado nos EUA”, explicou.

A rodada foi liderada pela SP Ventures, e contou com a participação da Angel Ventures, The Yield Lab Latam, Eqwow Ventures, Glocal Managers, Mercy Corps Ventures e outras. A companhia foi fundada no início de 2024, e essa é a primeira rodada que a empresa fez com investidores.

No negócio, a Inteligência Artificial dita o jogo, sendo responsável pela análise de risco que permite um financiamento rápido, diz Meré.

A Blooms antecipa os recebíveis dos exportadores com base no risco dos compradores nos EUA, usando parte do capital captado e parte de recursos próprios para financiar as operações.

Desde a criação, Meré estima que a plataforma da Blooms já transacionou mais de US$ 2 milhões. “Com esta rodada de captação, temos um pipeline para operar, nos próximos meses, em torno de US$ 20 milhões”, disse o fundador.

Então, o financiamento vem dos compradores americanos dos produtos? Bem, mais para financiadores. Quer dizer, são fundos que fornecem o financiamento, mas com base no risco de crédito, os compradores americanos são os compradores reais.

A companhia atua com produtores majoritariamente mexicanos, e vai utilizar os recursos para conquistar novos países mais ao sul do continente.

“Estamos animados com a diversidade dos investidores que reunimos. Uma boa combinação de fundos com histórico voltado para o agro e também o Angel Ventures, mais especializado em fintechs”, disse.

O primeiro motivo para escolher atuar com o setor de HF, diferencial da Blooms frente outras fintechs que atuam no agro foi a pujança do país que mais compra produtos frescos no mundo, os Estados Unidos.

“A economia americana consome cerca de US$ 100 bilhões em frutas e vegetais frescos. E considerando mudanças no consumo e tendências de saudabilidade, vemos que em cinco ou seis anos o valor pode ir para R$ 130 bilhões”, projetou.

O segundo ponto é que mesmo os EUA sendo uma potência agrícola, principalmente em culturas comoditizadas, possui limitações climáticas, hídricas e de mão de obra para cultivar frutas em escala, explica o CEO da Blooms.

“Isso abre uma grande oportunidade para os produtores latino-americanos que possuem bons climas e pessoas”, disse.

A oportunidade não vem sem desafios. Por se tratarem de produtores de menor porte, em alguns casos as garantias não são suficientes para grandes bancos e credores tradicionais.

Mesmo que a exportação de frutas e hortaliças para os EUA tenha crescido, os produtores não se tecnificaram tanto, principalmente em termos de gestão, riscos e preços, disse Meré.

“Em soja você pode se proteger com contratos futuros. Em frutas e vegetais, há muita volatilidade e não há como se proteger”.

No Brasil, Meré vê um grande potencial para financiar produtores de frutas, especialmente manga, e citrus. “São produtos muito interessantes e que não representam a maior fatia das exportações. Nas mangas, poucas chegam aos EUA”, diz. Ele cita que a Blooms possui um cliente mexicano que compra mangas brasileiras e revende para os EUA, mas ainda sem um canal direto.

“Existe um espaço em branco muito interessante nesse setor que é relativamente negligenciado com o enorme sucesso com outras commodities. A ideia é começar a fazer transações com exportadores brasileiros em 2026”, disse.

Além de expandir a atuação geograficamente, Meré disse que a Blooms vai lançar novas funcionalidades nos próximos meses. A primeira é uma solução de hedge cambial, na intenção de proteger os lucros dos produtores.

A segunda é uma tecnologia de gerenciamento de finanças, com tendências de preços para que os produtores se digitalizem. A ideia é utilizar toda base de dados envolvendo produtores e compradores para ajudá-los a serem mais eficientes.

O banqueiro agro

Meré é um empreendedor serial. Antes de criar suas primeiras empresas, fez carreira no sistema bancário mexicano, sempre em áreas ligadas à tecnologia. Depois de anos atuando no Ministério da Fazenda e no Banco Central local, foi CEO do FIRA, um banco estatal especializado em agricultura no país.

Depois da experiência no Estado, comandou a filial mexicana do banco Societe Generale por um ano. “Um banco francês que atua basicamente em serviços bancários corporativos e de investimento, trabalhando com financiamento de commodities, inclusive”, explicou Meré.

Daí em diante, especificamente a partir de fevereiro de 2008, Francisco Meré começou seus empreendimentos. Fundou então o Bankaaol, um dos primeiros bancos digitais do México, focado tanto em pessoas físicas quanto jurídicas. Lá ficou até 2017

Por lá, acumulou uma experiência financiando cadeias de suprimento no agro mexicano, principalmente com commodities tradicionais como milho, trigo e cana-de-açúcar. “Basicamente atuava financiando pequenos produtores que já tinham relacionamento com grandes indústrias. O problema é que a agricultura no México é muito fragmentada, e o desafio é que a economia é muito informal”, diz.

A empresa foi criada, então, para atuar descontando fluxos de caixa futuro previstos em contratos desses produtores com grandes empresas. A companhia também atuava em outros setores da economia.

“Transformamos a empresa em um banco quando obtemos uma licença bancária. E enquanto mantivemos esse portfólio, também diversificamos para PMEs”, disse. A empresa foi comprada pelo grupo Ve por Más, também mexicano.

Depois disso, Meré conta que entrou no mundo das fintechs e no universo do venture capital, ajudando grupos bancários tradicionais em suas jornadas de transformação digital. Foi aí que em 2024 surgiu a Blooms.

“Usando minha experiência e identificando várias tendências interessantes no mercado, decidi lançar a Blooms”, conta.

Resumo

  • A agfintech mexicana Blooms captou US$ 2,6 milhões para expandir seu modelo de financiamento para exportadores de frutas e vegetais frescos da América Latina
  • A empresa usa IA para análise de risco e antecipa recebíveis com base em compradores americanos; já transacionou US$ 2 milhões e planeja operar US$ 20 milhões