Fabricante de dispositivos que ajudam a mensurar dados da lavoura e dar insights para agrônomos há 20 anos, a gaúcha Falker quer ir além e deve colocar seu planejamento estratégico para os próximos anos em cima de quatro rodas.
Na missão de ser um verdadeiro “one stop shop” da agricultura de precisão, a empresa criada por Marcio Albuquerque, engenheiro eletricista de formação, prepara o lançamento de um veículo próprio: um quadriciclo elétrico para agrônomos.
Atualmente, a Falker já acopla sensores e sistemas de coleta de dados a veículos de terceiros. O plano futuro é passar a oferecer uma solução própria, desenhada internamente, que integre as tecnologias da empresa com mobilidade no campo.
O novo produto deve chegar ao mercado nos próximos meses, mas a Falker apresentou o protótipo ao público pela primeira vez durante a Agrishow 2025, principal feira de tecnologia agrícola do país, onde o fundador, que também atua como CEO, conversou com o AgFeed.
A ideia de criar o quadriciclo próprio veio para integrar os demais produtos da empresa. O veículo funciona como uma base modular, onde podem ser instalados sensores e instrumentos da Falker.
Além disso, a ideia é agilizar o processo de coleta, já que o agrônomo pode ir até regiões remotas da propriedade em um veículo e coletar amostras sem descer do quadriciclo.
Mais do que o produto, o movimento representa um passo estratégico dentro da trajetória de duas décadas da companhia. “A gente diz que a Falker foi uma startup do tipo agtech quando não se falava nem em startup, nem em agtech”, diz Albuquerque.
O primeiro dispositivo, lá em 2005, foi um penetrômetro digital. Chamado de Penetrolog, o produto é um detector de compactação do solo. Hoje, o dispositivo é comercializado em mais de 45 países e, segundo Albuquerque, é o penetrômetro digital mais vendido do mundo.
Albuquerque relembra que o produto surgiu em uma época em que o assunto era pouco abordado no Brasil.
“Há 20 anos nós tínhamos que explicar o que era a compactação do solo, o que poderia ser um problema, o que causava e como medir.”
A partir do penetrômetro, vieram outros instrumentos de campo — medidores de clorofila, umidade, amostradores de solo e software de geração de mapas. “A gente faz tudo que você precisa para chegar naquele arquivo do mapa. Esse é o nosso mercado”, diz.
Para explicar o que a Falker faz, Albuquerque traçou um paralelo com outro setor da economia. Numa comparação com a medicina, enquanto o agrônomo é o médico que faz um diagnóstico e uma empresa de insumos, o farmacêutico, a Falker é a fabricante do equipamento de raio-x ou de ultrassonografia para que o profissional identifique o problema, explica o CEO.
“Se essa máquina vai estar na clínica, no hospital ou na UTI, a decisão é de quem comprou”, disse, referindo-se, no paralelo, a uma lavoura ou escritório de alguma consultoria agrícola.
O CEO afirma que hoje a empresa possui mais de 5 mil clientes, e que o principal público são os prestadores de serviços para empresas do agro.
“O grande volume de clientes são agrônomos e consultores. Aquele escritório que fica em uma cidade com presença forte do agro e que possui alguns agrônomos que atendem as fazendas”, completa.
Apesar disso, o público ainda conta com grandes empresas do agro. Sem citar nomes, Albuquerque disse que das 10 maiores cooperativas agrícolas do País, oito são clientes da Falker.
No setor sucroenergético, das 10 maiores usinas, seis são clientes, segundo diz. Além disso, cita que há pelo menos um equipamento da empresa nos cinco maiores grupos agrícolas brasileiros.
A empresa ainda atende revendas e “multinacionais de insumos”. “Existem empresas de bioinsumos ou fertilizantes especiais que usam equipamentos da Falker como ferramenta de venda, para mostrar o efeito do produto”, acrescenta o CEO.
O negócio tem um perfil de autofinanciamento, segundo Albuquerque, e até hoje não captou recursos com fundos privados, apenas com veículos públicos como Finep e Sebrae.
“Nascemos antes de existir essa hipótese de contar com investidores externos. Lá em 2005, quando fundamos a empresa, não existia investidor-anjo e fundos para startups”, completou.
Nesse modelo de financiamento público misturado com capital de clientes, a empresa foi crescendo. Segundo o CEO, a companhia triplicou de tamanho, tanto em receita quanto em equipe, nos últimos cinco anos.
Por ano, ele afirma que a Falker cresce 20%, patamar que deve se repetir em 2025. Apesar disso, garante que o primeiro trimestre foi mais aquecido, com um faturamento 25% maior do que no mesmo período do ano passado.
“Como uma empresa autofinanciada, temos que acertar o ritmo de crescimento. Um crescimento grande é bom, mas é preciso estruturar esse crescimento de forma sustentável. Preferimos crescer continuamente do que dar um pico, que às vezes gera mais problemas”, completou.
A companhia nasceu em Porto Alegre (RS), cidade natal de Marcio Albuquerque, mas desde o dia um, já operava de forma diversificada.
“Se olharmos o histórico climático do Sul do País, 2005 registrou a pior seca da história, só não foi pior do que a de 2022. Estruturamos a empresa pensando que, se ficássemos no Sul, íamos quebrar no primeiro ano”, disse.
Atualmente, o faturamento da empresa está dividido em terços: um no Sul, outro no Centro-Oeste e o restante entre Sudeste, Nordeste e exportações.
Além da diversificação regional, a empresa também se divide em culturas. Hoje os grãos são os mais representativos na receita, mas a companhia também atua na cana, frutas e café. “Se o mercado da soja está ruim, não interessa se o produtor atua no Mato Grosso, no Rio Grande do Sul ou na Bahia”, explica o movimento.
A partir de 2015, num momento em que o Brasil vivia uma crise econômica, outra diversificação: a internacionalização. “Vimos que podíamos estar diversificados de produto, de cultura, de região, mas nós estávamos só no Brasil. Se o Brasil estiver ruim, nós vamos estar sofrendo”, lembra.
Hoje, a Falker tem distribuidores na América Latina, América do Norte, Europa e Ásia. As exportações representam cerca de 15% do faturamento.
Resumo
- Empresa criada em 2005 é uma das pioneiras na agricultura de precisão no Brasil. Hoje, estima ter mais de 5 mil clientes
- Sem investidores externos, empresa se autofinanciou e o longo dos anos, captou R$ 15 milhões, sendo 95% do valor com o Finep
- Do faturamento, um terço fica no Sul, outro terço no Centro-Oeste e o restante se divide entre Sudeste, Nordeste e exportações. Por cultura, atende grãos, frutas e café