Foram dez meses de dor de cabeça aos gestores da Solubio. Após as crises de 2023 e 2024 no mercado de insumos, a companhia de biológicos para agricultura buscava, desde outubro do ano passado, uma engenharia financeira inédita para alongar a dívida e se estabilizar financeiramente para voltar a crescer.
Naquela época, a saída pioneira na B3 foi cancelar os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) de suas duas primeiras emissões, de 2021 e 2022, com vencimentos em 2025 e 2027, e trocá-los por outro CRA, em uma quarta emissão, para vencimento em 2030. A negociação e a migração foram feitas com 63% dos primeiros papéis e 70% dos seguintes.
Um total de R$ 120 milhões de títulos trocados foram parar na tesouraria da empresa para serem cancelados com a emissão dos novos CRAs. Uma solução simples para alongar a dívida, desenhada com a assessoria de escritórios de advocacia pela empresa. Mas não foi bem assim.
“Infelizmente, no momento do cancelamento os escrituradores que estavam analisando entenderam que não era bem assim. Travaram tudo em outubro, porque o modelo de papel que colocamos lá atrás previa que qualquer alteração no modelo precisaria de 90% dos votos”, disse Ernesto Cavasin Neto, CEO da companhia, ao AgFeed.
Com isso, os R$ 120 milhões que estavam na tesouraria da Solubio por lá ficaram e a dívida com os credores restantes também continuou.
“Em vez de diminuir, a nossa dívida aumentou, porque nós devíamos e éramos credores de nós mesmos”, disse. Além disso, da amortização e dos juros pagos pela companhia era para ela mesma, dois terços voltavam para ela e ainda assim com uma taxação de 15% em tributos.
“Operacionalmente virou um problema, porque precisava de mais caixa e, dentro da estrutura toda, tinha um custo tributário”, explicou Cavasin. A saída, segundo ele, foi negociar com os credores, ainda detentores dos CRAs, para que pedissem uma liquidação antecipada dos papéis com vencimento em 2025 e 2027.
Uma “atitude maluca”, nas palavras do CEO da Solubio, já que essa operação normalmente ocorre em caso de inadimplência, mas que resolveria o problema da companhia.
Nesta quinta-feira, 7 de agosto, a operação foi oficialmente aprovada em uma assembleia de credores, abrindo uma nova perspectiva para a empresa.
“Construímos junto aos credores para que fosse decretada a liquidação antecipada, ou seja, foi benéfico a eles, que receberam 100% do dinheiro, e para a companhia, que melhora o caixa substancialmente parando de pagar operações esdrúxulas e imposto sobre ganhos de capital”, disse.
Problema solucionado, a Solubio abre caminho para uma nova captação, de R$ 40 milhões, para novas amortizações e alongar o perfil da dívida ainda este ano, segundo revelou Cavasin ao AgFeed.
Ainda não está definido qual o modelo de captação, mas o alívio, juntamente com corte nos custos e aumento nas vendas, deve ajudar a companhia a atingir a receita de R$ 200 milhões em 2025, uma alta de 27% sobre 2024.
Com apenas nove anos, a empresa de biológicos para a agricultura dobrou anualmente de tamanho até 2022, quando chegou a R$ 180 milhões de receita. Nascida para fornecer biofábricas e insumos para essas unidades, mudou o perfil para fornecer a estrutura em comodato e firmar contratos do modelo “take or pay” aos produtores.
Para dobrar de tamanho também em 2023, CRAs foram emitidos, mas o mercado deu o primeiro tropeço e a receita atingiu “apenas” R$ 186 milhões. Um primeiro aporte de R$ 100 milhões do fundo de private equity Aqua Capital e demais acionistas encontrou um mercado ainda pior em 2024.
O ruim ainda piorou com a dívida crescendo a partir do imbróglio dos CRAs, a crise ainda agravada do mercado de insumos e o fato de os credores estarem de olho na ligação indireta da Solubio com a AgroGalaxy, também controlada pelo Aqua.
Até pelo "parentesco", a Solubio tinha na AgroGalaxy um de seus canais de distribuição. Assim, acabou se tornando uma das credoras no processo de recuperação judicial da rede de revandas, o que, segundo Cavasin, não é um grande problema.
De acordo com o executivo, a Agrogalaxy responde por apenas 5% das vendas da Solubio e o valor devido na recuperação judicial bilionária é de R$ 7 milhões. “Não é um grande impacto”.
O primeiro sinal positivo aos investidores foi uma nova injeção de capitais de R$ 100 milhões dos acionistas, em dezembro do ano passado. Agora, com a solução dos CRAs, a disciplina de custo e melhoria de operação, a empresa garante estar preparada para “rodar forte no segundo semestre”, época de maior demanda, e terminar a partida com uma vitória.
“Não é um ano ainda fácil para o agro, mas a gente começa a ter vários números mostrando que a gente está melhorando a operação e a companhia aprendeu com os erros que teve. Eu sempre falo que a gente jogou só o primeiro tempo e fomos bem. Estamos prontos para jogar esse segundo tempo e ganhar o jogo”, concluiu.
Resumo
- Depois de um imbroglio que durou dez meses, Solubio conseguiu aprovação de credores para operação de liquidação antecipada de CRAs
- Com isso, trocou títulos que venciam em 2025 e 2027 por uma nova emissão, com vencimento em 2030, e ganhou fôlego
- Nova etapa no alongamento da dívida é fazer uma nova captação, de R$ 40 milhões, cujo modelo ainda não foi definido