Enquanto comemora a conquista de cinco milhões de hectares utilizando o software da empresa, a startup Aegro se movimenta internamente. A companhia, fundada em 2014, trocou pela primeira vez de CEO, e Pedro Dusso, um dos sócios fundadores, deixará o posto ocupado por mais de 10 anos.
No comando da empresa, que atua com um software de gestão de fazendas, entra um experiente executivo com mais de 20 anos no agronegócio: Maurício Schneider, ex-CEO da companhia de bioinsumos Solubio, do Aqua Capital, e ex-CEO do StartSe Agro.
Pedro Dusso agora assume uma nova função de diretor de estratégia e inovação (Chief Strategy and Innovation Officer, ou CSIO, na sigla em inglês). Segundo os executivos, a estratégia faz parte de um momento de expansão nos negócios, parte de um plano estratégico que durará de 2026 até 2028.
De acordo com Dusso, a ideia não é “trocar a guarda”, e sim criar uma “ambidestria organizada”. “O foco é fazer o básico bem feito dentro do nosso core de clientes com 500 hectares a 3 mil hectares, reduzindo o churn (taxa de cancelamento) e desenvolvendo novas linhas de receitas”, disse o novo CSIO.
Na prática, Schneider focará em ganhar escala, execução e relacionamento com o mercado, enquanto Dusso concentrará suas energias em estratégia, novos produtos, novos mercados e inteligência artificial.
“Assumo porque acredito no potencial da Aegro. Temos um produto com DNA de campo e uma base de hipóteses já validadas. Quero acelerar a execução comercial e a expansão do core, sem perder a capacidade de inventar o próximo ciclo da empresa”, afirmou Schneider.
Schneider já vinha atuando de forma próxima à operação desde o início do ano, em um processo de “aclimatação”, como define. Além de investidor da Aegro, já integrava o board da startup desde janeiro do ano passado.
“Criamos um plano de 90 dias para validar hipóteses, entender o time e ver se as teses se confirmavam. Agora é um movimento natural de oficializar essa nova etapa”, contou.
O executivo vai atuar numa vertical mais “pé no barro”, fazendo jus a sua experiência prática no agronegócio. “Sempre fui um cara do agro, de growth, que conhece revenda, indústria, agricultura de precisão, seguros, fazendas. Sei falar a língua do produtor na ponta, e quero colocar a Aegro nessa conversa”, disse Schneider.
Do outro lado, Dusso mantém o DNA mais tecnológico e conceitual da empresa. “Eu continuo acreditando no potencial da Aegro como sistema operacional da agricultura, mas percebi que precisava de alguém mais apto para o momento de explorar oportunidades agora”, afirmou.
A nova configuração, segundo ele, é uma forma de unir o pragmatismo do resultado com a capacidade de inovação. “O Maurício toca o dia a dia com mentalidade de crescimento e conexão com o campo e eu puxo a invenção do próximo ciclo. A ideia é que tudo isso se encontre”.
Os cinco milhões de hectares conquistados mostram uma antecipação da meta prevista até o final do ano, destacada por Dusso em uma entrevista ao AgFeed em abril deste ano, e servem de base para a próxima fase da companhia.
A companhia nasceu como uma empresa do tipo Saas (sigla para software as a service), mas desde o final do ano passado, decidiu inverter a lógica e utilizar o software, uma espécie de “Excel do Agro”, como um elemento de um negócio baseado no serviço. Na prática, um Saas ao contrário.
A Aegro saiu de um modelo no qual o time atuava dedicado 100% ao escritório da companhia para uma dinâmica mais próxima aos produtores clientes.
A plataforma da empresa ajuda os produtores a cuidar tanto da parte financeira tradicional como também da gestão operacional do plantio e da colheita dos produtores.
A companhia aproveitou o momento pós-breakeven, termo em inglês que se refere ao momento em que uma empresa consegue fazer com que sua geração de caixa sustente a operação, para fazer essa mudança no modelo de negócio.
"Foi uma reflexão desafiadora, mas por muito tempo pensamos que a dor estava na funcionalidade. Achamos que era o produto e vimos que fazer mais softwares não significava mais mercado. Criamos um braço que ajuda esse produtor a operar o software que já existe", disse Dusso ao AgFeed em abril.
Esse braço conta com consultores, que atuam como analistas financeiros e de planejamento dos produtores. Esse produtor geralmente já tem um contador e um agrônomo, mas não um profissional que se dedica a juntar toda informação e ajudá-lo nas decisões.
De abril para cá, a empresa viu sucesso na aposta, mas não da forma como esperavam. “Não escalamos tanto no modelo cru e puro de venda de serviço, mas funcionou em outras dinâmicas, principalmente numa triangulação entre concessionárias, consultorias de agricultura de precisão e nosso software”, contou Pedro Dusso.
“Vimos que múltiplas pessoas usando para um fim tem agregado um valor extraordinário”, acrescentou.
No triênio entre 2026 e 2028, a Aegro mira consolidar o modelo que vem sendo desenhado nos últimos dois anos. A meta é “azeitar a máquina”, nas palavras de Schneider, e preparar a base para uma fase de crescimento exponencial.
“Nosso foco é crescer 30% em 2026 e construir as engrenagens para acelerar a partir de 2027. É um momento de organizar a casa e capturar eficiência”, disse.
Mais do que apenas metas de faturamento, a dupla fala em reinventar a empresa de dentro pra fora. “A Aegro virou um transatlântico. Agora precisamos dos jetskis”, comparou Schneider, numa referência à necessidade de criar novas frentes mais ágeis para realizar mudanças dentro da própria companhia.
“O papel que eu puxo é o de ‘inventar a empresa que vai matar a Aegro’. Se não inventarmos, alguém vai inventar. E essa é a melhor forma de continuar crescendo”, acrescentou Dusso.
Os 5 milhões de hectares que passam pelo software mostram um avanço frente aos pouco mais de 4,2 milhões de hectares que a empresa fechou em 2024. A ideia era atingir a marca já no ano passado, mas esse recálculo de rota no modelo de negócio impediu o feito.
O adiamento, contudo, não chateou a administração, que viu que a aposta em ser uma empresa de serviços fez a rentabilidade da empresa aumentar.
A Aegro saiu de uma margem Ebitda de 15% na metade de 2024 para quase 20% ao final de 2024, segundo afirmou Dusso em abril.
A receita da companhia deve encerrar 2025 em um patamar superior aos R$ 30 milhões, segundo Schneider, uma alta de 20% frente ao ano passado. Para o ano que vem, a perspectiva de crescer 30% trará uma receita próxima aos R$ 40 milhões.
O crescimento, tanto de 2025 quanto de 2026, está ainda muito atrelado ao avanço da plataforma.
“A Aegro continua acelerando muito forte no digital, e o crescimento de 2025 e de 2026 virá do digital. Em paralelo, estamos desenhando, organizando e tendo as primeiras presenças na ponta”, destacou Maurício Schneider.
Desde sua fundação, acumula R$ 18 milhões captados, atraindo gente de peso para o negócio. Ao longo da trajetória, atraiu como sócios a SLC Ventures, a ADM Venture Capital, do Grupo Rendimento, o publicitário Nizan Guanaes e fundos paulistas de Venture Capital.
Resumo
- A Aegro troca de CEO, com Maurício Schneider assumeindo a liderança operacional, enquanto o fundador Pedro Dusso passa a ser CSIO
- A empresa atingiu 5 milhões de hectares usando seu software de gestão de fazendas, superando os 4,2 milhões de hectares de 2024, e projeta faturar R$ 30 milhões em 2025, alta de 20% sobre o ano anterior
- Para 2026, a Aegro estima crescer 30%, consolidando o modelo de serviços e fortalecendo a base para expansão futura