No mundo do futebol, a Taça Libertadores da América é o torneio mais importante da América do Sul. A predominância brasileira é algo recente, já que até o final do século XX, os argentinos lideravam com folga o ranking de títulos conquistados.

Por muito tempo, os times brasileiros levantaram a questão da barreira do idioma com os árbitros dos países vizinhos. E, pelo relato dado pelo chileno Matías Rothhammer, essa distância ainda existe, mas em outro ambiente.

Rothhammer é responsável pelo portfólio de agronegócios na América Latina da The Ganesha Lab, aceleradora de startups que possui 35 empresas da região em seu portfólio, nenhuma delas brasileira.

Questionado sobre essa ausência de um país com tantas agtechs buscando aportes, a primeira resposta do executivo da The Ganesha Lab não envolve falta de dinheiro ou qualquer tipo de estratégia.

“Acredito que seja a barreira do idioma. Nós sabemos que precisamos nos aproximar mais do Brasil. Eu inclusive acabei de voltar de um período de férias em Florianópolis e aproveitei para conhecer mais de perto o ecossistema de startups, que é muito interessante”, conta Rothhammer.

O primeiro alvo principal da aceleradora deve ser uma startup ligada ao segmento de proteína animal, segundo o executivo. “No sul do Brasil está 40% da produção de carnes de toda a América Latina”, diz.

Ele cita casos de empresas com soluções que diminuem o uso de defensivos químicos nos pastos, focando na saúde e no bem-estar do animal. “Qualquer solução que melhore a durabilidade da proteína vai diminuir o desperdício, algo bastante importante para o planeta”, aponta Rothhammer.

Ele afirma que é mais comum ver as startups latino-americanas olhando para o modelo dos Estados Unidos na hora de aplicar suas estratégias e até mesmo na natureza dos projetos.

“Acredito que o Brasil é quem deve ter um papel relevante na hora de servir como modelo para os empreendedores da América Latina. É uma potência agrícola, tem muito a oferecer na troca de ideias com os vizinhos”.

Mesmo defendendo o Brasil como modelo para as startups latino-americanas, o programa de aceleração do The Ganesha Lab, chamado de BIGinBIO, é feito todo em inglês, exatamente para ter acesso a hubs importantes nos Estados Unidos e buscar investidores por lá. O programa está aberto para inscrições até o dia 7 de abril.

“Nós temos, por exemplo, uma parceria com o Cambridge Innovation Center (no estado de Massachusets) que acaba proporcionando às startups aqui da região acesso a grandes empresas e grandes investidores norte-americanos”, explica Rothhammer.

A aceleradora costuma entrar nas empresas no momento de maturação da ideia proposta pela startup, logo depois da passagem entre ideia e abertura efetiva de uma empresa. “Nós ajudamos principalmente a encontrar a demanda pelo que a startup oferece como solução. E participamos da administração”.

O gerente de portfólio da The Ganesha Lab afirma que das 35 startups aceleradas, somente cinco não estão mais ativas. “Já temos empresas instaladas em Nova York, com financiamentos conseguidos nos EUA”, diz o executivo.

Após o fim do programa de aceleração, a The Ganesha Lab continua dando apoio para a startup. “Nós ficamos mais três anos oferecendo consultoria externa após a aceleração. Tudo para dar suporte e segurança para que a empresa consiga sobreviver com seus próprios recursos e ter investimentos maiores”, diz Rothhammer.