A declaração do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, de que a companhia não irá mais comprar carne de países do Mercosul, não deve atrapalhar as negociações do acordo entre a União Europeia e o bloco composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
É o que avalia Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Em entrevista ao AgFeed, ele chama a atenção para o fato de que o Brasil vem atendendo a todos os requisitos exigidos pelos mercados internacionais com excelência, além de entregar qualidade e competitividade.
"Não somos melhores que ninguém, mas também não há ninguém no mundo melhor que nós", dispara.
O executivo considera a declaração de Bompard "desprovida de qualquer fundamento", já que as grandes redes varejistas costumam acompanhar de perto os controles dos fornecedores. "Nós (Brasil) sempre atendemos a todos os requisitos. Esse argumento é uma infelicidade de quem é ineficiente", afirma.
Ele destaca que posicionamentos como esse prejudicam principalmente os consumidores europeus, já que o Brasil atua no mercado internacional oferecendo produtos e cortes complementares aos produzidos pelas indústrias europeias. "Nossa postura tem sido de humildade, de trabalharmos em cooperação com os países.”
Para Santin, ao oferecer produtos que atendem às normas internacionais e são competitivos, o Brasil contribui com a melhora da segurança alimentar, com a variedade de produtos oferecidos aos consumidores e com a redução do custo total do segmento.
Outro aspecto que chama atenção é o fato de as exportações brasileiras de carne de frango, por exemplo, representarem menos de 4% da produção local da União Europeia.
Entre janeiro e outubro desse ano, o Brasil exportou 181,9 mil toneladas de carne de frango para o bloco, que é o sétimo maior no ranking de principais destinos da carne de frango brasileira. "Esse volume jamais vai prejudicar um mercado cuja produção é de 10 milhões de toneladas", pondera.
Declarações de empresas ameaçando suspender compras de produtos brasileiros não são novidade no mercado. Em outubro, o diretor financeiro da Danone, Jurgen Esser, anunciou que a companhia deixaria de comprar soja brasileira motivada por problemas com a rastreabilidade dos grãos.
Pouco tempo depois, o executivo foi desmentido pela companhia, a qual declarou, em comunicado, que a soja brasileira é essencial para seus produtos.
Para Santin esse tipo de discurso usa da lógica protecionista e o desconhecimento da realidade brasileira, assim como acontece quando se trata de falar sobre a preservação da floresta Amazônica.
"Todos falam sobre os 9 mil quilômetros quadrados de área desmatada, mas ninguém olha para os mais de 4 milhões de quilômetros quadrados que estamos preservando. O desmatamento ilegal é um crime a ser combatido, assim como o tráfico de drogas, por exemplo".
Nesse sentido, medidas protecionistas, na visão do executivo, são um retrocesso. "Quando se trata de alimentar o planeta, não devemos ter barreiras. Ainda temos mais de 700 milhões de pessoas passando fome no mundo".