Diretamente do Oeste catarinense, um gigante do agronegócio brasileiro avança diariamente por meio de suas 14 cooperativas e 87 mil associados distribuídos entre Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
Exportando carne suína e de frango para mais de 20 países, a Aurora Coop consolida-se a cada ano como uma das maiores agroindústrias de alimentos do país, competindo de igual para igual com players como BRF e Seara.
Com sede em Chapecó, a cooperativa central alcançou em 2024 o maior faturamento de sua história: R$ 24,9 bilhões. Agora, se prepara para um novo ciclo de crescimento, com investimentos de R$ 1 bilhão na ampliação de suas estruturas.
Parte dessa estratégia inclui a inauguração iminente de um escritório comercial em Xangai, reforçando sua presença na China — um dos principais destinos das 1,5 milhão de toneladas de carne produzidas no último ano.
Houve crescimento tanto no mercado interno quanto no externo, com uma uma soma de fatores positivos dentro e fora do Brasil, mesmo com dificuldades macroeconômicas e climáticas no cenário local e externo, conta o presidente executivo da Aurora, Neivor Canton, em entrevista ao AgFeed.
O destaque fica por conta do crescimento do faturamento obtido com as vendas para o mercado externo, que cresceu 23,7%, totalizando R$ 9,1 bilhões – 36,4% de toda a receita da companhia. “Isso gerou uma receita razoável, com uma relativa margem operacional”, diz Canton.
A operação da Aurora é bastante relevante para as exportações de proteína animal do Brasil. Somente em 2024, a cooperativa respondeu por 21,6% de todas as exportações brasileiras de carne suína, que somaram 1,3 milhão de toneladas no ano passado, e por 8,4% das remessas de carne de frango do país, que totalizaram 5,2 milhões de toneladas.
Ainda que num ritmo mais baixo, as vendas no mercado interno também cresceram no ano passado, chegando a uma alta de 10%, totalizando R$ 15,7 bilhões, igual a 63,7% do total, trazendo uma margem importante para a companhia.
“O mercado interno é um pouco mais tímido, mas também absorveu nossa linha de processados, em especial, que demanda um maior volume das nossas matérias-primas destinadas à produção de processados, que carrega consigo a possibilidade e o espaço de se agregar a um certo valor”, diz.
No mercado nacional, a Aurora tem uma presença importante no varejo, com um portfólio de 850 itens diversos que vão de frango in natura à batata palito congelada.
No ano passado, de acordo com uma pesquisa anual da consultoria Kantar, a Brand Footprint 2024, que avalia a adesão do consumidor brasileiro às marcas, a Aurora ficou em 10º lugar na lista, atrás apenas de Perdigão e Sadia, da BRF, e Seara, da JBS.
Os custos, mais controlados, também favoreceram o bom desempenho da cooperativa, grande consumidora de milho e farelo de soja utilizado nas rações dos animais.
“Diferentemente do ano de 2023, que andou bastante aguçado, com as commodities, principalmente milho e soja, recebendo preços mais acentuados, em 2024 fez uma curva mais favorável, que contribuiu para um custo mais acessível”, afirma Canton.
As sobras da cooperativa foram de R$ 880,5 milhões no ano passado, o que equivale a 3,9% do faturamento – em 2023, não houve sobras, após um prejuízo de R$ 137,9 milhões.
A Aurora agora projeta um crescimento de cerca de 10% em seu faturamento neste ano, podendo chegar a pouco mais de R$ 27 bilhões, sob contribuição das exportações e também do mercado interno. “Já temos visto um crescimento nos últimos meses”, diz Canton.
No mercado interno, que ainda é o coração das vendas da cooperativa, o presidente atenta para as dificuldades dos consumidores que levam à Aurora a criar alternativas para seguir crescendo.
“Temos observado uma certa dificuldade no poder aquisitivo da população, mas, assim mesmo, alterando um pouco as linhas de produtos, ofertando produtos mais acessíveis ao consumidor, a gente tem conseguido manter nossos volumes de produção. Espero que o consumidor possa continuar tendo oxigênio para se alimentar bem”, afirma Canton.
Com as dificuldades no Brasil, o mercado externo acaba sendo uma importante frente de crescimento de faturamento. Hoje, os produtos da Aurora Coop chegam a diferentes partes do mundo.
No segmento de frango, os principais destinos são os países do Oriente Médio, além do Japão e da China. Na carne suína, se destacam mercados como Estados Unidos, México, Canadá, Japão, Filipinas, Vietnã, África do Sul, Chile e Argentina.
A China, embora ainda seja um importante comprador de carne suína da cooperativa, tem reduzido o volume adquirido. “Continua sendo um mercado relevante, mas as compras diminuíram bastante”, afirma Canton.
Um ponto de atenção da Aurora são as movimentações comerciais dos Estados Unidos após a implementação da nova política comercial do então presidente Donald Trump.
“Estamos em um momento de expectativa e observação quanto ao comportamento do mercado externo, especialmente pelo peso que os Estados Unidos têm na produção agroindustrial e no setor de proteínas animais. São grandes produtores e fornecedores, mas também grandes compradores, o que sempre gera impacto”, explica Canton.
O único reflexo prático sentido até agora, segundo o presidente da cooperativa, foi a aplicação de uma tarifa de 10% sobre as exportações de suínos produzidos pela Aurora para os Estados Unidos. “O que estamos exportando já está sendo taxado”, diz Canton, salientando que a cooperativa não vende carne de frango para o mercado americano.
O presidente da cooperativa também vê potencial em uma possível reconfiguração do mercado global, com países como a China buscando ampliar compras do Brasil em detrimento dos Estados Unidos. “Essa é uma das expectativas, mas ainda não se concretizou”, afirma.
Um mecanismo importante que contribui para a Aurora a fazer mais negócios e ampliar sua presença no mercado chinês é um escritório em Xangai. Funcionários da cooperativa já foram enviados para a China para estabelecer a base da Aurora no país, que deve ser inaugurada até o fim do mês.
“Faremos a nossa estreia no mercado externo com unidades próprias de escritórios de vendas por ora com a intenção de conhecer melhor o mercado e como funciona o consumo, até porque já sabemos o potencial que a China tem, com uma população de praticamente um bilhão e meio de habitantes”, afirma o presidente da Aurora.
Novos escritórios poderão ser montados em outras partes do mundo, segundo Canton, mas ainda não há um plano definido para isso se tornar realidade – e o posto na China servirá como teste para isso.
“Esse primeiro “experimento” será decisivo para darmos continuidade. Iniciaremos nossos trabalhos lá para no futuro, quem sabe, gradativamente irmos trabalhando mais diretamente, mais próximo do mercado consumidor do que a exportação que se faz hoje, se servindo de tradings”, diz o presidente da cooperativa.
Investimentos
Ao longo de 2025, a Aurora também promete voltar a investir uma quantia mais significativa na ampliação de sua estrutura após ter diminuído um pouco a quantidade de aportes no ano passado, quando se dedicou a completar alguns projetos anunciados em 2023.
O maior deles foi uma fábrica de processamento de frangos empanados e cozidos, localizada em Chapecó, em uma área construída de 31,4 mil metros quadrados, que custou R$ 587 milhões à companhia e foi inaugurada em abril do ano passado. A planta tem capacidade de produzir 278,3 toneladas de empanados e cozidos por dia.
Para este ano, a Aurora projeta continuar a ampliação de uma planta de suínos que opera em São Gabriel do Oeste (MS), município onde a cooperativa está presente desde os anos 1990.
Com a expansão, que custará pouco mais de R$ 400 milhões, segundo Canton, a Aurora projeta elevar a capacidade de abate de suínos em 60%, passando dos atuais 3,2 mil suínos para 5 mil suínos por dia. As obras para a ampliação da unidade começaram em 2023 e a ideia, de acordo com o presidente da Aurora, é que a inauguração seja feita ao longo do segundo semestre deste ano.
Uma obra de ampliação de uma estrutura já existente também está sendo feita ao longo deste ano no Rio Grande do Sul, na cidade de Tapejara, com a expansão de uma planta localizada no município, no distrito de São Silvestre, para triplicar a capacidade de abate diário dessa unidade, passando de 50 mil aves para 155 mil aves.
A estrutura pertenceu no passado ao grupo Agrodanieli, de quem a Aurora comprou, em março de 2021, toda a operação avícola. A empresa gaúcha passou a se concentrar no negócio de recebimento e processamento de grãos. Na operação, a cooperativa levou dois frigoríficos de aves, fábricas de subprodutos e fábrica de rações, um incubatório e uma estrutura de armazenagem.
Uma das unidades, localizada em São Domingos, com capacidade de abate de 155 mil aves por dia, foi mantida em funcionamento, mas a outra, menor e mais antiga, passou por alteração.
“Trabalhamos nela uma temporada e paralisamos os abates nessa unidade para podermos fazer adaptações e melhorias. À medida que essa unidade foi atendendo as exigências do serviço de inspeção federal, a unidade acabou exigindo um investimento bem acertado, maior do que inicialmente se pretendia, e vamos colocar novas linhas de produtos diferenciados em relação à unidade maior”, explica Canton.
Ao longo deste ano, segundo o presidente, a Aurora também planeja expandir sua linha de lácteos, com itens como leite UHT, leite em pó, bebidas lácteas, creme de leite, leite condensado, requeijão, doce de leite e achocolatado.
“Até então, priorizávamos o leite UHT, queijos moles e a linha de leite em pó. Agora, vamos incorporar uma série de novos produtos ao portfólio”, afirma Canton, que também diz, no entanto, que ainda não é possível estimar quantos lançamentos serão realizados nessa nova fase.
A captação de leite é uma frente importante para a Aurora que, ao longo do ano passado, captou 449,1 milhões de litros – volume que a coloca no 7º lugar do ranking da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) – e industrializou 436,9 milhões de litros.
Histórico
Canton ocupa o cargo de presidente da Aurora desde 2021, assumindo o posto de Mário Lanznaster, que faleceu em 2020, e liderou a cooperativa por quatro mandatos, iniciados a partir de 2007.
Durante a gestão de Lanznaster, a Aurora se consolidou como um grande player de seu segmento, passando a exportar produtos para a China, em fevereiro de 2012 – ano em que o faturamento foi de R$ 4,6 bilhões, menos da metade do valor atual.
A história da Aurora, porém, é bem mais antiga, e se inicia em 1969, com a união de oito cooperativas singulares de Santa Catarina na então Cooperativa Central Catarinense – o nome Aurora só viria em 1973, com a compra de um frigorífico local.
No mundo das cooperativismo agropecuário, as singulares são aquelas que operam de forma totalmente independente, caso de Coamo, Comigo e Cotrijal, para citar três exemplos relevantes.
Já as cooperativas centrais são as que reúnem três ou mais cooperativas singulares em uma só, fazendo negócios entre si e trabalhando em prol dos associados. É o caso da Aurora e também da Frimesa, do Paraná.
Com a união de forças, o negócio da Aurora foi crescendo ao longo das décadas e conseguiu ultrapassar os limites de Santa Catarina. Hoje, são 14 cooperativas, sendo que nove têm sede em cidades catarinenses, quatro estão no Paraná e uma está no Mato Grosso do Sul, além de algumas terem cooperados e operações também no Rio Grande do Sul. Dessa forma, a Aurora chega a mais de 1 mil municípios brasileiros, reunindo 87 mil famílias associadas.
Em 2023, houve uma adição importante com a chegada à das cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal, todas do Paraná, que mantém também um sistema intercooperativo, a Unium, que beneficia leite e processa grãos.
A Unium também tinha uma unidade de suínos em Castro (PR), com capacidade de abater 3,5 mil animais por dia, que passou a ser operada pela Aurora em outubro de 2023.
A entrada das três cooperativas e da unidade de Castro ajudou à Aurora a elevar em 8,8% o total de abate de suínos em 2024, que chegou a 8,028 milhões de animais. A produção in natura de carne suína também subiu, chegando a 764,2 mil toneladas.
Na carne de frango, também houve incremento. A Aurora abateu 343,2 milhões de cabeças, crescimento de 6,9% em relação a 2023. A produção in natura aumentou 11,1%, atingindo 739.929 toneladas.
Resumo
- Em 2024, a Aurora alcançou maior faturamento de sua história, chegando a R$ 24,9 bilhões, e projeta crescer 10% em 2025
- Estratégia para 2025 é ampliar a presença internacional, incluindo a abertura de escritório na China, e expandir suas operações no Brasil, com investimentos de R$ 1 bi
- Exportações de suínos produzidos pela Aurora para os EUA já estão sendo taxadas com nova política comercial americana