No agronegócio brasileiro, certos sobrenomes atravessam décadas. Um deles é o Griesang, que através dos irmãos Celso e Miriam, fincou as bases da Sementes Tropical no Cerrado nos anos 1980. Celso ainda foi player importante na história da Fundação Mato Grosso e também da TMG (Tropical Melhoramento Genético).
Agora, com a segunda geração à frente da sementeira - seu filho, Victor Griesang -, a companhia celebra seus 40 anos com uma ambição clara: ampliar sua participação em dois dos maiores mercados agrícolas do Brasil: a soja e o algodão.
Com sede em Rondonópolis, a Tropical se posiciona como uma das principais sementeiras de Mato Grosso. Hoje, fornece o produto cultivado em 140 mil hectares de algodão e outros 400 mil hectares de soja.
Para os próximos três anos, a meta é alcançar 200 mil hectares com algodão e 600 mil com soja. "Essa expansão está no nosso radar até 2028", afirma Flávio Souza, diretor comercial da empresa, em entrevista ao AgFeed.
Segundo explicou o executivo, o crescimento deve ocorrer principalmente com aumento de participação em mercados onde a empresa já atua, como São Paulo, Minas, Goiás e Bahia, no caso do algodão.
“Nosso core é algodão e soja, mas atendemos também, em menos áreas, milho, forrageiras e gergelim. Temos desenvolvido esse manejo de acordo com as demandas de sustentabilidade e agricultura regenerativa”, acrescentou.
A receita também deve continuar subindo. Souza preferiu não revelar os números exatos do faturamento – que o AgFeed apurou que rondam as centenas de milhões de reais – mas previu crescer 25% na safra 2025/2026.
O avanço planejado acontece num ambiente em transformação. De um lado, o mercado de sementes é alvo de uma consolidação, e do outro, o agro vive um momento de voltar à estabilidade depois de duas safras com margens espremidas.
No primeiro ponto, um estudo da Blink Inteligência Aplicada projeta que o número de sementeiras no Brasil deve cair 70% nos próximos dez anos, em função desse processo de consolidação.
Do outro, indagado se o ritmo da compra de insumos está mais normalizado nesta safra, Flávio Souza considerou que “o agricultor está mais seletivo”.
“Dadas as incertezas do cenário global, ele tem olhado mais para eficiência, gestão de ativos, gestão de investimentos. Isso faz com que ele demore um pouco mais para tomar decisões mais assertivas. E temos percebido isso nas conversas com nossos clientes. Eles estão mais exigentes, buscando justificativa para o investimento", diz Souza.
Souza ainda acrescentou à discussão o fato que a pluma do algodão passou de R$ 7 mil por tonelada no ano passado para um patamar próximo aos R$ 6 mil.
Para driblar o movimento e também para continuar a crescer no share, ele aposta em usar a fortaleza e histórico de confiança da Tropical com os produtores para crescer.
Longe de um crescimento externo, adquirindo ou criando novas estruturas, a Sementes Tropical prefere ganhar escala e crescer, de forma conservadora, onde já atua.
No algodão, por exemplo, a empresa tem investido para verticalizar totalmente a produção de sementes, desde o plantio até a entrega. Além disso, Souza contou que a empresa está investindo em pessoal, para reforçar ainda mais a presença junto aos clientes.
O modelo, de certa forma, pode relembrar a trajetória da empresa. Celso Griesang chegou ao Mato Grosso no final dos anos 1970, vindo do Sul do Brasil, e se apoiou em parceiros e pessoas para criar a empresa e a Fundação MT.
Da Fundação surgiu a TMG, que apesar de uma estrutura de nome próxima à Tropical Sementes, não são empresas de um mesmo grupo.
A TMG emergiu da fundação como uma empresa de biotecnologia, germoplasma e pesquisa. Souza contou que o nome TMG veio de uma homenagem de Dario Minoru Hiromoto, um dos fundadores da companhia, a Celso Griesang.
“Ele pediu ao senhor Griesang se poderia usar o nome ‘Tropical’. Este, lisonjeado, aceitou. Há uma sinergia e hoje o Celso Griesang é acionista e conselheiro da TMG, mas são gestões separadas”, explica.
A TMG hoje é uma das principais desenvolvedoras de germoplasma de soja e algodão do País, e faturou próximo aos R$ 450 milhões em 2024.
A companhia “irmã” também faz parte do plano estratégico de crescimento. Isso porque a Sementes Tropical tem se escorado em parceiros tecnológicos estratégicos para agregar valor a seus produtos que chegam no campo na ponta final da cadeia. Junto da TMG também está a multinacional alemã Basf.
Nas lavouras que dão origem às sementes, a Tropical é cliente dos produtos Basf. Na soja, ainda há o uso dos produtos para tratamento de sementes. No algodão, há arranjo em que o germoplasma é fornecido pela TMG e a biotecnologia, pela multinacional alemã. “Costumo dizer que o cavalo é da TMG e o arreio, da Basf”, resume Souza.
A parceria tem se estendido para o tratamento de sementes e começa a entrar no campo digital, com coleta de dados e soluções para melhorar a performance em campo em parceria com o sistema xarvio, da Basf.
“Temos de olhar para o cliente que enfrenta esses desafios de aumentar a produtividade e implementar práticas sustentáveis. E estamos olhando junto com a Basf para essa estratégia de conexão e digitalização, para gerar mais valor ainda no campo”, justifica Souza.
Resumo
- Sementes Tropical projeta aumento de 43% na área com sementes de algodão e 50% na de soja até 2028
- No faturamento, a expectativa é crescer 25% na safra 2025/2026.
- Empresa fundada pela família Griesang aposta na verticalização da produção e parcerias tecnológicas para crescer