Santa Catarina é um dos estados mais importantes na produção da BRF e com a suspensão da importação de carne de frango por parte dos japoneses, aumentou a preocupação entre os investidores em relação à empresa.

O Japão é o segundo maior comprador de carne de frango de Santa Catarina, conforme destacou o AgFeed esta semana. O país asiático decidiu suspender as compras do produto depois que o Ministério da Agricultura confirmou a ocorrência de gripe aviária em uma ave de criação doméstica no estado.

Segundo informações da Associação Brasileira de Proteína Animal, a ABPA, a exportação de frango de Santa Catarina para o Japão representa menos de 3% do total vendido pelo país para o exterior.

Na visão de Samuel Isaak, analista da XP Investimentos, este patamar é “importante”. “O Japão representou 9,4% das exportações de frango em 2022, e já havia restringido a entrada de carne do Espírito Santo, que não é um grande exportador”, lembra.

Para os analistas do Bank of America, Isabella Simonato e Guilherme Palhares, a decisão do Japão levanta questões de segurança alimentar sem precedentes para os dois países, e a BRF é a empresa que deve sentir mais os impactos.

“Apesar do momento positivo nos preços de grãos e do recente follow-on, as exportações continuam com ritmo lento e as potenciais novas suspensões de compra por gripe aviária são riscos relevantes no curto prazo para a BRF”, dizem os analistas em relatório.

Segundo o BofA, o Japão importa aproximadamente 300 mil toneladas de frango por ano de Santa Catarina, que correspondem a cerca de US$ 900 milhões, a preços atuais.

“O Japão é um dos maiores parceiros comerciais do Brasil quando falamos de frango. Nos últimos 25 anos, o país asiático ficou fora da lista de três maiores compradores somente em um deles”, dizem os analistas.

No relatório, o BofA lembra que o Japão consome 2,8 milhões de toneladas de frango por ano, dos quais 38% são importados. O Brasil responde por 70% a 80% deste volume importado pelo Japão, e Santa Catarina geralmente é a origem de 40% destas vendas.

Fernando Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado, afirma que o Brasil não deveria ser alvo de qualquer restrição por ter caso de gripe aviária em “aves de fundo de quintal”.

“Até o momento, não houve qualquer caso em granjas comerciais. Basicamente, Santa Catarina tem adotado os protocolos mais rígidos contra a gripe aviária. Não acredito em maiores desdobramentos. Vamos esperar o tempo de duração deste fechamento pelo Japão, para ter maior entendimento da extensão deste embargo”, diz Iglesias.

Para os analistas do banco americano, existem alternativas para compensar este volume que deixará de ser exportado de Santa Catarina. Eles citam unidades de Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul.

“Por outro lado, esta substituição demandaria 8% do frango voltado para o mercado doméstico. Outra alternativa é transferir parte das exportações desses estados para o Japão, e Santa Catarina direcionar seus produtos para outros países”, sugerem os analistas do BofA.

Sobre a BRF, o banco estima que o Japão origina até 4% das receitas da BRF, e 30% desta participação sai das unidades catarinenses da companhia. Enquanto isso, a JBS tem 1% da sua receita vinda do Japão.

Em nota, a ABPA lembra que o caso de gripe aviária em Santa Catarina, registrado em uma ave doméstica, não altera o status sanitário do Brasil. “Cabe lembrar que o Brasil não possui qualquer registro da doença na produção industrial. Esta é a única situação que poderia gerar alteração no status brasileiro”, diz a associação.