Criada na bancada de um laboratório no “Vale de Piracicaba”, a startup IVGTech já nasceu com os olhos voltados para a floresta. Fundada em 2020, a agtech trabalha com clonagem de espécies nativas brasileiras por meio de cultura in vitro, ou seja, multiplica mudas de árvores mesmo quando o acesso a sementes é escasso, o cultivo é difícil ou o ciclo é lento.

Diante da alta do mercado de reflorestamento, que além da meta de restauração de 12 milhões de hectares até 2030 prevista no Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, também encontra startups, projetos de compensação de carbono de grandes empresas e um mercado que financia floresta em pé, a startup vê oportunidade de dar as mãos para esses players.

Dessa forma, os clientes mais óbvios da IVGTech seriam os viveiros, mas segundo a bióloga, CEO e fundadora da startup, Mariza Monteiro, a demanda tem sido forte também de fundos de reflorestamento, grupos ambientais de projetos de estudos para espécies em extinção.

“Tem viveiro que não consegue atender à demanda por falta de sementes. A gente trabalha com essas espécies, muitas vezes raras, de difícil cultivo, e entrega uma solução via biotecnologia”, afirma Mariza Monteiro, bióloga e fundadora da IVGTech.

O portfólio da empresa inclui juçara, macaúba e açaí. Recebendo a demanda por um desses cultivares, a startup desenvolve protocolos específicos para cada planta. Hoje, a capacidade de produção anual é de 40 mil mudas, e a próxima etapa é aumentar o montante em 25 vezes.

“Estamos desenvolvendo a tecnologia e o passo seguinte é escalar. A meta é chegar entre 200 mil e 1 milhão de mudas por ano, dependendo da espécie”, diz Guillermo Grandini, da venture builder WBGI, investidora da empresa desde 2023, e que está alocado na startup para estruturar e tocar toda frente comercial do negócio.

Ao mesmo tempo em que se prepara para escalar produção, a startup vê o faturamento aumentar. Segundo os executivos, a agtech deve sair de um faturamento de R$ 150 mil no ano passado para R$ 1 milhão em 2025.

Antes de fundar a IVGTech, Mariza Monteiro acumulou anos de carreira acadêmica. Formada na Esalq/USP, por lá também fez mestrado e doutorado, sempre atuando com culturas in vitro e genética.

Depois de se consagrar doutora, atuou como professora na Ufscar e por quase oito anos foi pesquisadora no CTC (Centro de Tecnologia Canavieira). “Fiz um pós-doutorado em conservação de espécies nativas, e percebi que muitas delas estavam desaparecendo, seja por extrativismo ou por falta de manejo e cultivo adequado, mesmo as economicamente importantes”, disse.

Com essas populações vegetais diminuindo, Monteiro desenvolveu a tese da IVGTech para aproveitar sua expertise em culturas in vitro, que podem auxiliar na clonagem de larga escala.

“Abrimos nosso portfólio e começamos a trabalhar com isso, junto da oportunidade que a meta de reflorestamento até 2030 traz. Com ela, há uma falta de mudas e a nossa demanda começou a aumentar desde então”. A startup já captou via Fapesp e com a WBGI cerca de R$ 1 milhão desde a fundação.

Guillermo Grandini explica que como a empresa ainda não consegue atender em volume, vende pesquisa e desenvolvimento com clientes. “São empresas ou projetos que trabalham com mudas e têm dificuldades de realizar reprodução via semente. São mudas de alto valor agregado, raras ou de espécies novas, ou seja, espécies que os viveiros não tem”.

Para ajudar nesse processo de crescimento e de escalar o negócio, a IVGTech participará do Restoration ClimAccelerator, um programa de aceleração voltado a soluções para a cadeia de restauração florestal. A iniciativa é liderada pelo Quintessa, e conta com apoio de entidades como Fundo Vale, Instituto Itaúsa, iCS e Climate KIC.

A indicação e avaliação de inovações contou com a participação ativa de parceiros e financiadores relevantes desse mercado, como Capital for Climate (C4C), re.green, Biomas, Systemica, a Reserva Natural Vale, Imaflora e Instituto Belterra.

Outras startups e projetos selecionados foram a Uirapuru, focada em capacitação e ensino ambiental, a Bioflore, que transforma ativos florestais em dados, a Brigada de Incêndio de Alter do Chão e a startup Bluebell Index, investida da Minerva que tokeniza ativos ambientais.

O programa tem duração de seis meses e oferece mentorias estratégicas com foco na estruturação do modelo de negócios e aproximação com potenciais investidores. “A aceleração está sendo uma forma de validar nossa tese de escala e preparar o negócio para rodadas de captação futuras”, afirma Grandini.

Segundo ele, o objetivo da empresa é, ao final do programa, estruturar um plano claro de investimento para expandir a operação, construir uma biofábrica e ampliar o número de espécies trabalhadas.

Hoje, cada espécie passa por um processo específico de P&D, o que torna o domínio técnico um ativo central da empresa. “Estamos focando no desenvolvimento da tecnologia em 2024, e o plano de escala vai exigir uma nova rodada”, completa.

Os próximos passos incluem a consolidação da produção das espécies já dominadas como juçara e macaúba, além de uma aproximação com projetos maiores de restauração e compensação ambiental.

Hoje, a IVGTech tem três projetos em andamento. Um com um fundo de reflorestamento do estado de São Paulo, que segundo Grandini, mistura silvicultura com pegada de carbono.

Outro é com uma consultoria de engenharia mineira, que pediu estudos de espécies para um projeto, e o terceiro é com o IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), que possui um projeto de reflorestamento chamado “AR Corredores de Vida”, para restauração de florestas nativas em Pontal do Paranapanema (SP).

Atualmente, a startup tem conversas em andamento com grupos do Norte, do Rio Grande do Sul e do Cerrado.

No modelo atual, o cliente paga pelo projeto de pesquisa, que inclui o desenvolvimento do protocolo da espécie, a taxa de multiplicação e o custo da fertilização in vitro. A empresa também cita que conduz estudos pensando em atuar em novas frentes, com empresas de biocombustíveis e cosméticos, indo além do reflorestamento.

Resumo

  • IVGTech desenvolve mudas nativas in vitro e quer escalar de 40 mil para até 1 milhão de mudas por ano
  • Com faturamento previsto de R$ 1 milhão em 2025, empresa já captou cerca de R$ 1 milhão com Fapesp e WBGI
  • Startup participa do Restoration ClimAccelerator e planeja captar nova rodada para construir biofábrica e expandir atuação