Uma amizade de quase 20 anos e um negócio de R$ 100 milhões. Na busca por complementar seus mercados e serviços, duas agtechs piracicabanas e pioneiras do segmento de agricultura de precisão - Drop Agricultura e Smart Sensing - estão juntando forças em uma nova empreitada.
As duas empresas acabaram de se fundir dando origem à Zait, que combina o portfólio de mais de 10 tipos de máquinas e implementos da Drop com os sensores Weed-It, na qual a Smart Sensing tem o direito de comercialização no Brasil.
O nome Zait faz analogia a um termo alemão relacionado a “tempo” (zeit) e, segundo o comunicado da fusão, simboliza “o valor que esse recurso tem tanto para a planta quanto para o agricultor, a capacidade de unir precisão e inteligência de dados para transformar o tempo em produtividade, rentabilidade e sustentabilidade”.
A nova empresa nasce com a perspectiva de faturar R$ 100 milhões já no ano que vem. Ao AgFeed, Franz Arthur Pavlu, ex-CEO da Drop e atual presidente da Zait, disse que a expectativa não se resume ao faturamento.
A fusão nasce, segundo ele, para permitir que as duas empresas avancem em portfólio, escala industrial, capacidade de desenvolvimento e presença geográfica sem que uma precise construir, sozinha, o que a outra já domina.
“Estamos unindo mais de 120 talentos, uma fábrica ativa e uma carteira de clientes complementares”, afirmou. A lógica é de sinergia direta.
A Drop entra com a estrutura fabril, engenharia e um conjunto de máquinas e implementos próprios que vão desde equipamentos que custam R$ 5 mil até sistemas que ultrapassam R$ 1 milhão.
O portfólio engloba desde sulcos de plantio, inoculadores de sementes e preparadores de calda. Na gama de clientes, grupos como FMC, Raízen e Jumil.
Do outro lado, a Smart Sensing aporta o Weed-It, tecnologia holandesa de puverização localizada considerada premium, com um custo de R$ 1,5 milhão por equipamento. A tech hoje já está presente em mais de 5 milhões de hectares no País e em especial em grandes produtores como a SLC Agrícola.
De acordo com Marcos Ferraz, sócio da Smart Sensing e agora vice-presidente da Zait, a combinação complementa canais comerciais: enquanto a Smart Sensing sempre teve penetração maior no Centro-Norte, especialmente no Mato Grosso, a Drop é tradicionalmente mais forte em São Paulo, Minas e Paraná.
“O M&A é a única ciência exata que 1+1 não pode ser 2. A empresa terá clientes complementares que estava e o outro não estava. Essa semana já estaremos com cinco grandes clientes que a Smart não tinha participação e, do mesmo jeito, vários clientes da Smart passarão a ter acesso a outros produtos. É cross-selling na veia”, disse o CEO da nova companhia.
O movimento vai ao encontro com o que Marcos Ferraz projetava para a Smart Sensing há alguns meses, quando conversou com o AgFeed em junho, enquanto ele participava da edição deste ano da Bahia Farm Show.
Na época, disse que a agtech estava abrindo um braço de serviços. Ao invés de só comercializar o Weed-It, venderia a utilização do produto, conseguindo assim atingir uma gama de produtores de menor escala. No mix da carteira da Smart Sensing, 90% eram grandes produtores e 10% pequenos e médios. Na Drop, a divisão é mais equilibrada pela diversificação de produtos.
Do ponto de vista corporativo, nenhum dos times foi reduzido. Todos os sócios permanecem na operação e foram realocados conforme expertises específicas: engenharia, agronomia, desenvolvimento, fábrica e canais comerciais. A integração começou antes mesmo do anúncio público.
Segundo Pavlu, “vários projetos conjuntos já estavam rodando” em clientes nas últimas semanas, com máquinas da Drop operando em conjunto com sensores Weed-It em aplicações de teste.
O processo que levou à fusão, porém, não é recente. A história entre Franz Arthur Pavlu e Marcos Ferraz é um dos pilares da decisão. Os dois se conhecem há quase duas décadas, desde os tempos de Esalq/USP, quando Franz cursava o mestrado e Marcos, a graduação.
Quando saíram da academia, trabalharam juntos por anos na Verion, antes de cada um fundar sua empresa. Mesmo com CNPJs separados, a parceria continuou.
Ferraz lembra que a Smart Sensing surgiu de um projeto de consultoria agrícola em 2015, quando ele e sócios atenderam um cliente em comum com Franz Pavlu, que na época ainda estava migrando de um projeto também de consultoria para o desenvolvimento de máquinas, a Drop.
A empresa cresceu rapidamente com a chegada do Weed-It e a expansão comercial para grandes grupos agrícolas. “A partir de um certo momento, a gente olhava para frente e via que as duas empresas estavam pensando muito parecido”, contou Ferraz. Pavlu teve trajetória semelhante.
Engenheiro agrônomo com foco em máquinas e aplicação, criou a Drop em 2015 inicialmente como consultoria para multinacionais que desenvolviam insumos, mas tinham dificuldade em viabilizar a etapa final: a máquina capaz de executar a aplicação planejada.
“A Bayer, por exemplo, desenvolvia um produto que necessitava de uma aplicação específica. Nós desenvolvíamos os mapas e na hora de aplicar não tinha máquina, o projeto não saía do papel. Vi o gap e entrei nesse mercado”, contou Franz Pavlu.
Em pouco tempo, a Drop passou a projetar e fabricar seus próprios equipamentos para preencher esses “gaps” entre agronomia, tecnologia e máquina. Em 2017, já operava como indústria. A conversa decisiva para criar a Zait aconteceu na Agrishow deste ano. Em uma conversa corriqueira, os dois perceberam que os planos de expansão dos dois lados estavam alinhados.
“Vimos que ou a gente seria concorrente ou parceiro. E era muito mais lógico - sendo amigos, com empresas financeiramente saudáveis e com estruturas parecidas e complementares - a parceria”, disse Marcos Ferraz.
Segundo Pavlu, essa complementaridade também se manifesta no mercado. A Drop, com soluções de faixas de preço mais amplas, consegue atender produtores menores e médios que dificilmente comprariam um Weed-It, cujo tíquete é mais alto.
Ao mesmo tempo, a Zait passa a oferecer o Weed-It por meio de serviços, permitindo que produtores de regiões como São Paulo, Minas Gerais e Paraná acessem a tecnologia sem desembolso inicial elevado. Por outro lado, a Smart Sensing abre portas para a Drop em clientes de grande porte no Mato Grosso e no Matopiba.
A fábrica da Drop, que produz mais de mil máquinas ao ano, será a base produtiva da Zait, inclusive para novos projetos de desenvolvimento.
A empresa já trabalha em mecanismos autônomos, sistemas de aplicação inteligente e equipamentos voltados à expansão no setor de cana.
“Não precisamos montar outra fábrica para crescer”, afirmou o CEO da Zait. Para Ferraz, a fusão mantém a essência que marcou a trajetória de ambas as agtechs desde sua origem: antes de ser uma empresa de máquinas e tecnologia, a Zait nasce como uma empresa de agronomia, com a tecnologia sendo construída a partir das necessidades do manejo. “As duas empresas vieram da ciência, da consultoria, e só depois viraram tecnologia”, disse.
É essa raiz que, segundo ele, permitirá que a nova companhia mantenha o foco no resultado agronômico e não apenas no produto.
Resumo
- Agtechs piracicabanas Drop e Smart Sensing se fundem e criam a Zait, unindo máquinas e implementos próprios com a tecnologia de pulverização localizada Weed-It
- Nova empresa nasce com portfólio complementar, presença geográfica ampliada e expectativa de faturar R$ 100 milhões já no próximo ano
- A fusão mantém todos os sócios e equipes, viabiliza cross-selling e amplia o acesso às tecnologias, inclusive por meio de serviços