Em março passado, um grupo de altos executivos globais da Volvo, uma das maiores montadoras de caminhões e ônibus do mundo, fez uma visita ao Brasil. O tour pelo País incluiu uma imersão no agro brasileiro, com uma passagem pelo noroeste do Paraná, mais especificamente em Campo Mourão, sede da Coamo, maior cooperativa agrícola do Brasil em receita.

O foco, ali, estava nos negócios da Volvo CE, divisão de equipamentos de construção do grupo sueco, que nos últimos anos “infiltrou-se” no agronegócio e hoje tem uma relação cada vez mais íntima e próspera com o segmento.

“Nós temos crescido um pouco acima do mercado e isso tem uma relação muito forte com o agro, que tem uma importância estratégica muito grande para nós, principalmente aqui no Brasil”, afirmou o diretor comercial da Volvo CE, Gilson Capato, em entrevista ao AgFeed.

A empresa teve um faturamento global em 2024 de cerca de US$ 58 bilhões, ou mais de R$ 330 bilhões pela cotação atual. Já a Volvo CE, de equipamentos de construção, chegou a cerca de US$ 12 bilhões. Deste total, 10% foi receita gerada na América Latina.

Segundo Capato, o objetivo da visita à Coamo foi mostrar para os líderes do grupo o potencial do setor para o negócio e as peculiaridades na comparação com o modelo de “fazendas” visto no Hemisfério Norte, onde são propriedades pequenas.

“Nós precisamos continuar contando com investimentos, com desenvolvimento de produtos e serviços para atender o agro, que tem uma tendência de crescer nos próximos anos”, ressaltou Capato, justificando a iniciativa de levar o “top management” para conhecer o sistema da Coamo.

A Volvo CE produz principalmente pás carregadeiras, escavadeiras hidráulicas, rolo compactador e os caminhões chamados off-road, modelos robustos que rodam em qualquer terreno, mesmo “fora de estradas”.

A companhia está encerrando um ciclo de investimentos de R$ 1,5 bilhão em 2025 e diz que em breve deverá anunciar uma nova temporada de aportes, mas sem dar detalhes. A fábrica da Volvo fica em Pederneiras, interior de São Paulo, onde todas as linhas são produzidas.

“Essa fábrica exporta hoje basicamente, 50% do que produz. A nossa área de atuação vai do México até o Sul da Argentina”, disse o diretor. Também são exportados produtos para os Estados Unidos, Nova Zelândia e Austrália.

Crescimento no agro

A Volvo estima que no primeiro trimestre deste ano 25% de suas vendas em volume tenham sido para clientes do agronegócio. Em receita, a fatia sobe para 30%. A expectativa da companhia é fazer o número de máquinas comercializadas com o agro subir para 30% até 2030, levando a uma correspondente alta nas receitas com vendas para o setor.

Ao analisar somente as vendas da linha amarela, Gilson Capato disse ao AgFeed que a empresa contabilizou um crescimento de 40%. Se considerados apenas os itens vendidos ao agro, ele acredita que o percentual esteja no mesmo patamar.

É bem mais do que o resultado do setor de máquinas agrícolas como um todo, que teria avançado 20% no trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo os dados da Abimaq. O resultado fica também acima do que foi estimado em crescimento para o mercado de linha amarela no período, que avançou 13%.

O diretor da Volvo garante que não houve percalços para a empresa com o crédito mais restrito no agronegócio. Um dos motivos é fato de boa parte das vendas contarem com o financiamento do banco próprio da montadora, que estaria oferecendo juros mais atrativos aos produtores.

Expansão do portfolio

Para manter o ritmo, o executivo diz que o foco será investir em mais produtos customizados para o agronegócio, por isso a expectativa de que a Volvo global venha a dar suporte no desenvolvimento das novas tecnologias.

“Nós vamos crescer através de novas tecnologias. Já temos algum portfólio e estamos trabalhando sua aplicação no setor agrícola. Está sendo uma grata surpresa, porque é um aprendizado encontrar oportunidade onde você não está”, explicou.

A Coamo, por exemplo, já tem uma frota grande de produtos Volvo CE. Graças a uma parceria de mais de uma década, a empresa atende a cooperativa com soluções que são utilizadas desde as unidades de grãos às agroindústrias e operações portuárias.

“A gama de serviços que a Coamo executa nos entrepostos, fábricas e portos é gigante e, em muitas vezes, precisamos de soluções customizadas”, comentou o diretor de Logística e Operações da Coamo, Edenilson Carlos de Oliveira.

“Muitas dessas customizações são desenvolvidas em conjunto e em diversos casos acabam se tornando produtos de linha, tanto na parte de máquinas e equipamentos, como também com caminhões e carrocerias. Isso demonstra que a parceria é boa não só para a Coamo e para a Volvo, mas também para o mercado que acaba se desenvolvendo junto”.

Capato ressalta também outros projetos que começam a surgir onde dificilmente a empresa cogitaria chegar. Um deles é a venda de equipamentos elétricos compactos – como a carregadeira Volvo L25 Electric e a escavadeira Volvo ECR25 Electric – para clientes da apicultura. Como há menos ruído, é mais favorável ao ambiente onde são criadas as abelhas.

O apelo de zerar as emissões de CO2 com o uso de veículos elétricos também tem sido um atrativo para projetos do agro que precisam cumprir metas e se adaptar a determinas certificações. É o caso de clientes da produção de cacau na Bahia.

“A estratégia da Volvo em nível global, e nós estamos seguindo isso no Brasil, é de, até 2030, vender 30% a 35% do volume através de alternativas de energia”, disse. Enquanto na Europa as células de hidrogênio fazem parte desse rol de produtos, no mercado brasileiro o foco seguirá a eletricidade.

Os produtos mais vendidos para o agronegócio são mesmo os chamados “compactos”, que são equipamentos de apoio, bastante utilizados, por exemplo, nos confinamentos de gado, que no Brasil ficam a céu aberto.

Na Agrishow 2025, no início de maio, um dos destaques foi um equipamento considerado “o maior da linha Volvo” que foi customizado para uma demanda das usinas de cana-de-açúcar que é empilhar o bagaço. Foi desenvolvido um eixo especial, traseiro, que não existe nos modelos vendidos a outros clientes, para adaptar ao modelo de operação na indústria canavieira.

“Todas as proteções que a máquina tem que ter, a questão de limpeza do radiador, o tamanho de caçamba que o segmento precisa, tudo foi criado nessa máquina para poder atuar nessa aplicação específica”, explicou.

Nas máquinas elétricas, porém, é que está a oportunidade “infinita” para o agro, na visão do diretor da Volvo. Um setor que também vem demandando as máquinas compactas elétricas que não geram ruído é a piscicultura.

Apesar das frequentes críticas, de que o Brasil ainda possui infraestrutura limitada para o avanço de veículos elétricos, Gilson Capato pondera que outras empresas, assim, como a Volvo, também estão comprometidas com a descarbonização, por isso acabarão adotando essas tecnologias.

Máquinas elétricas foram vendidas recentemente para a Heineken, que estaria usando o equipamento para manusear o lúpulo, segundo ele.

Fora do agro, o equipamento também faz parte de projetos grandes, como a compra por parte da Vale, para que os elétricos sejam usados dentro dos túneis, evitando ruído e emissão de CO2 no ambiente em que atuam os funcionários.

Resumo

  • Vendas da Volvo CE para o agro brasileiro cresceram cerca de 40% no primeiro trimestre, dobro da média do mercado de máquinas agrícolas
  • Empresa está encerrando um ciclo de investimentos de R$ 1,5 bilhão em 2025 e diz que em breve deverá anunciar uma nova temporada de aportes
  • Equipamentos compactos e elétricos são os mais vendidos, com customização para atuação no agro feita em parceria com clientes como a Coamo