Pedra Preta (MT) - Enquanto analistas fazem contas sobre as eventuais tarifas de Trump e seus efeitos no agronegócio, nas fazendas de Mato Grosso a ordem é seguir buscando mais produtividade. Afinal, é a única variável em que o produtor consegue ter maior controle.

A prova disso foi a presença de mais de 500 pessoas, no último sábado, 12 de julho, no G.A.TEC 2025, evento realizado por um dos maiores grupos agrícolas do País, a Girassol, considerada hoje a sementeira líder no setor do algodão.

É praticamente uma feira de tecnologia agrícola, realizada a cada dois anos, na área da Girassol destinada à pesquisa, onde diversas empresas ligadas ao setor de algodão, apresentam seus produtos.

Aos 78 anos, mesmo após alguns problemas de saúde, o fundador da Girassol Agrícola, Gilberto Goellner, assistiu a toda a programação na primeira fila, acompanhado de outros nomes conhecidos da produção de algodão no estado, como Eraí Maggi e Alexandre Schenkel.

No painel principal, produtores ouviram dicas do influencer Thiago Nigro, conhecido como “Primo Rico”, que falou sobre foco e disciplina para administrar as finanças e seguir crescendo.

Entre os painelistas estava a CEO do Rabobank, Fabiana Alves, que reforçou a preocupação com a correta gestão dos negócios, em tempos de maior incerteza geopolítica.

Com margens mais apertadas, todos sabem que o número de recuperações judiciais no agro ainda cresce. Mas como lidar com isso?

“O caminho é a produtividade, o produtor precisa ter resultado final no seu local de produção”, afirmou Gilberto Goellner, em entrevista exclusiva ao AgFeed.

“Nesses dias de campo, como esse aqui hoje, a gente transfere conhecimento, o pessoal pode trocar ideias, se reanimar para o longo percurso que cada um ainda tem na sua atividade”.

A própria Girassol já enfrentou problemas no passado e chegou a recuar quando foi preciso, especialmente em 2019, quando Goellner passou a enfrentar problemas de saúde.

A prioridade no grupo tem sido o investimento em governança, o que vem sendo reconhecido pelos parceiros, inclusive pelo Rabobank, que diz ter a Girassol entre os clientes mais antigos, desde a chegada do banco holandês ao agro brasileiro.

A Girassol Agrícola conta, desde o final de 2024, com um novo CEO, Gilmar Meneghini, que tinha experiências em outras áreas, não somente no agro, inclusive no setor financeiro.

No G.A.TEC, Meneghini esteve o tempo todo ao lado de Goellner, mas aproveitava para intercalar pequenas reuniões, já fechando negócios para a safra 2025/2026.

“Esse é o start para a próxima safra, quando a gente lança oficialmente a campanha de vendas de semente de algodão”, disse o CEO, ao AgFeed.

“Tem novas sementes vindo, o que vai ajudar muito o produtor para enfrentar os desafios. Então, a expectativa é boa, porque algumas tecnologias, novas cultivares, vão ajudar o processo de conseguir bons índices de produtividade e manejo mais adequado”.

A cultura do algodão, diferentemente da soja e do milho, não sofreu tanto nos últimos anos com a queda de preços. A atividade, porém, é de alto custo e requer mais investimentos e atenção a novidades tecnológicas. Só no evento da Girassol estiveram presentes 120 produtores de algodão.

Rumo aos 100 mil hectares

“Hoje aqui já saiu negócio”, contou Meneghini, animado com a previsão de seguir aumentando a receita no ciclo 2025/2026.

Segundo o CEO, no último ciclo a Girassol aumentou em 15% o faturamento. Para a próxima safra, sinalizou: “A nossa expectativa é repetir, temos um market share interessante, então, nós temos uma boa expectativa de ser até superior a 15%”.

O “período desafiador” para o agro de Mato Grosso tem gerado oportunidades de expansão para a Girassol Agrícola. A empresa vem investindo em novas áreas arrendadas, especialmente terras de pecuária que podem ser convertidas para a agricultura.

Gilberto Goellner contou ao AgFeed que sua família chegou à região de Rondonópolis (MT) em 1972, quando comprou uma primeira fazenda. Anos depois, coube a ele cuidar da propriedade que daria início à gigante sementeira.

“Das cotas do meu pai, surgiu a Fazenda Girassol, que eu puxei à frente como filho mais velho. Nós éramos cinco irmãos. Meu irmão já saiu do negócio faz um bom tempo, as minhas irmãs só arrendam a parte delas”, explicou.

No início, eram apenas 400 hectares, com maior foco no cultivo da soja. Atualmente a Girassol Agrícola compreende um total de 75 mil hectares e vem expandindo, em média, 5 mil hectares ao ano. Hoje são cerca de 36 mil hectares de soja, 20 mil de milho e 19 mil de algodão.

Um dos investimentos recentes foi na região de Aripuanã (MT), no bioma Amazônia, em fazendas de pecuária, mas a Girassol não divulga os valores envolvidos.

“Nesses últimos dois anos, o agro está se ajustando, porque teve algumas dificuldades em termos de produção no Mato Grosso, um pouco de valor da commodity. Então, é um momento que a gente está de olho nas oportunidades que tem no mercado”, confirmou Meneghini.

Para a safra 2025/2026, ele diz há negociações em andamento e que o avanço poderá chegar a 10 mil hectares.

“O nosso alvo, para os próximos três anos, é passar de 100 mil hectares, de uma forma consciente e equilibrada”, afirmou.

Os investimentos previstos não se restringem a terras. Um dos destaques durante o G.A. TEC foram as demonstrações do avião autônomo Pelican (que alguns ainda chamam de drone), da startup americana Pyka.

“Ele (avião da Pyka) tem alguns diferenciais, um deles é fazer uma aplicação à noite, que seria um grande benefício. Então, a gente está aqui fazendo os testes. Ele já está há três semanas e os testes estão mostrando que o caminho é muito bom. Eu acho que, no final, a gente vai ter um conjunto de soluções, com o avião agrícola, o drone pequeno e o drone maior, porque esse (Pelican) tem uma capacidade de 300 litros (de pulverização)”, explicou Meneghini.

Os drones convencionais costumam ter capacidade entre 30 e 40 litros, segundo ele. A SLC Agrícola já adquiriu o equipamento recentemente e a expectativa é de que a Girassol também acabe optando pela compra da aeronave autônoma.

O CEO da Girassol avaliou que as turbulências no mercado internacional, como as eventuais tarifas anunciadas por Donald Trump, são sempre um alerta, o que reforça a necessidade de seguir fazendo transações “mais seguras possíveis”.

“Não pode exagerar na hora que está muito bom e nem desesperar na hora que está ruim, porque é o ciclo do agronegócio. Então, a gente entende que nesse momento é importante cuidar bem a sua condição financeira. Se você está bem posicionado, vai passar por essa turbulência”, ressaltou.

“E olhar para a produtividade, que é o que está na tua mão. Por isso que a gente vende semente”.

Como 50% da produção da Girassol ainda se refere ao grão commodity, a estratégia tem sido fazer a venda antecipada, de forma escalonada. Até o momento a empresa diz ter travado 30% da soja 2025/2026 e 25% do milho. No algodão, a comercialização no próximo ciclo está começando e deve iniciar com 20% de hedge.

O sonho da celulose

Na conversa com o AgFeed, Gilberto Goellner, afirmou que “espera estar vivo” para ver, finalmente, seu sonho de ter a instalação de um polo de produção de celulose na região do Alto Araguaia.

A Girassol Agrícola vem investindo ano a ano no cultivo de eucalipto e acredita no potencial da região para que uma fábrica venha a ser instalada.

“Já há dez anos nós estamos nessa atividade (florestas), objetivando a ocupação de áreas mais arenosas em que se desenvolvem eucaliptos e tentando desenvolver um polo industrial de celulose, que é de interesse de uma área que nós temos aqui em Alto Araguaia, a 80 quilômetros daqui da Fazenda Girassol”, disse.

Segundo Goellner, a região toda teria capacidade para 400 mil hectares, mas inicialmente uma multinacional teria interesse em 40 mil hectares.

A Girassol já tem 14 mil hectares de eucalipto e deve seguir ampliando, com 2 mil hectares adicionais, a cada ano.

Resumo

  • Com 75 mil hectares e crescendo 5 mil hectares por ano, a Girassol Agrícola projeta ultrapassar 100 mil hectares até 2028
  • Em evento para 120 produtores de algodão, o G.A.TEC, empresa traçou cenário com crescimento de 15% da receita na safra 2025/2026
  • Grupo também aposta no cultivo de eucalipto com foco na instalação futura de um polo de celulose no Alto Araguaia

Pavilhão onde foi realizado o G.A.TEC na Fazenda Girassol

Fardos de algodão no lado exeterno do pavilhão

Visão interna do evento