Na família Maschietto, o negócio de sementes forrageiras foi passando de uma geração para outra, com as dificuldades de um segmento pouco formalizado, mas que nos últimos 5 anos ganhou um novo impulso: a busca pela recuperação de pastagens e a tendência de crescimento da agricultura regenerativa.
Quem viu a oportunidade foi o agrônomo Thiago Maschietto, que já acompanhava os negócios do avô desde criança, mas que nos últimos anos virou acionista principal de duas importantes empresas do setor, a Semembrás e a Sementes Nobre, todas com sede em Penápolis, interior de São Paulo.
“Desde 2019, a gente já teve essa visão que ia dar um certo boom no uso de agricultura regenerativa. Posso falar que a gente triplicou o volume (de vendas de sementes) em plantas de cobertura nos últimos quatro anos”, contou Maschietto, em entrevista exclusiva ao AgFeed.
Cada vez mais o agro brasileiro vem buscando práticas sustentáveis que envolvem o plantio de direto e a rotação de culturas, com foco na recuperação da saúde do solo.
Isso aumentou significativamente a demanda por sementes destes cultivos, que incluem as forrageiras (especialmente espécies de pastagens, braquiárias, sorgo forrageiro) e as plantas de cobertura (crotalárias, azevém, aveia, etc).
Mesmo na pecuária, a busca pelo modelo “regenerativo”, com foco na recuperação das pastagens e do solo, também impulsionou a venda destas sementes.
E foi este cenário que atraiu uma das grandes empresas do agro a fechar negócio com Thiago Maschietto.
Em fevereiro deste ano, a Boa Safra Sementes, listada na bolsa e que fatura quase R$ 2 bilhões por ano, anunciou a criação de uma joint venture com a Semembrás e com a Sementes Nobre.
A nova empresa passou a se chamar SBS Green Seeds e 30% das ações agora pertencem à Boa Safra. O negócio envolveu o aporte de R$ 45 milhões por parte da empresa dos irmãos Colpo, por meio de debêntures conversíveis.
Por isso, daqui a dois anos, a Boa Safra, se quiser, poderá avançar para 60% do controle acionário.
Thiago Maschietto, hoje CEO e acionista principal da SBS Green Seeds, mostrou otimismo com o crescimento da companhia a partir de agora.
Segundo ele, a nova empresa já nasce com R$ 150 milhões de faturamento, mas as sinergias que agora ocorrem entre os times comerciais devem levar a um crescimento expressivo nos próximos anos, embora não revele detalhes sobre os números previstos.
Quando houve o anúncio por parte das empresas, ambas destacaram que o “mercado endereçável” em forrageiras é de R$ 2,58 bilhões, considerando agricultura e pecuária. “A gente quer uma fatia considerável desse mercado nos próximos 5 anos”.
A Semembrás estava entre as 10 maiores em forrageiras no País. Agora, como SBS, a estimativa é que apareça entre 3 principais do setor. O plano é a ser a maior empresa no prazo de 5 anos.
O CEO disse ainda que, “nos próximos anos” considera “potencialmente possível chegar em 18 mil toneladas de sementes, praticamente dobrando o market share”.
“O nosso desejo é ser líder, mas a gente traz com a gente o pilar da agricultura regenerativa e a formalização do setor. Eu acho que esse é um grande diferencial. A gente conseguindo atingir esse objetivo, a liderança vem como consequência”, disse.
Um dos pontos fundamentais da união com a Boa Safra, segundo Maschietto, é avançar na formalização do setor de forrageiras, que atualmente ainda está longe da organização vista no mercado de sementes de soja e milho, por exemplo.
A SBS conta hoje 123 mil hectares homologados de campos de produção, “já para a gente poder fazer a internalização dessas sementes”. É praticamente o dobro do que tinha a Semembrás antes da criação da joint venture.
“A SBS hoje já faz parte do grupo Unipasto, que é um grupo que financia a Embrapa para desenvolver novas cultivares”.
A expectativa de crescimento acelerado a partir da união com a Boa Safra leva em conta não apenas o fato de que ambas as empresas podem usar as estruturas já existentes, mas também o calendário da pecuária e da agricultura que, nesse tipo de sementes, têm uma característica complementar.
“As vendas desses dois segmentos não são na mesma época, a gente consegue focar a pecuária agora, que é o início das nossas vendas, e a hora que a gente consegue já fazer as entregas de pecuária é quando começa o mercado da agricultura. Então, a união desse time hoje nos fortalece para a gente crescer nos dois segmentos”, reforçou o empresário.
Previsões para a próxima safra
Tanto na pecuária, quanto na agricultura, a previsão é de mais demanda pelas sementes produzidas pela SBS. Cada segmento, no entanto, tem suas particularidades, explicou Maschietto.
A “safra” em forrageiras de clima tropical se inicia em junho, quando começa a colheita e vai até agosto. Quando se definir a produção e a oferta de sementes é que a empresa decide quanto poderá ampliar o cultivo no próximo ano.
O modelo na SBS é semelhante ao que já tinha a Boa Safra em agricultura. A empresa atua com produtores rurais integrados, que multiplicam as sementes, mas depois faz o trabalho de beneficiamento, armazenagem e comercialização.
“Falando da pecuária, a gente vê um mercado mais aquecido, a gente acredita que vai ter bastante reforma (de pastagens), devido a condições climáticas do ano passado. Então, a gente vê que o investimento tende a ser maior”, afirmou.
Na agricultura, ele diz que uma das cultivares de braquiária mais utilizadas, a ruziziensis, especialmente na integração lavoura e pecuária, teve uma super produção, por isso está com preços mais baixos.
Considerando estas e outras questões de mercado, o CEO da SBS espera um aumento mais expressivo em volume do que em receita, na safra 2025/2026.
“Em 2024 foram cerca de 8 mil toneladas (de sementes). Para a safra 2025/26 projetamos um incremento de 45%”, disse.
No faturamento, ele acredita que pelo menos 25% de avanço deve ser registrado na próxima safra pela empresa.
Atualmente, cerca de 65% da receita da SBS vem da agricultura e 35% da pecuária.
O CEO espera continuar com mix semelhante nos próximos anos. “Não queremos descartar pecuária porque acreditamos muito nela e ela traz um pouco mais de margem”.
De qualquer forma, na agricultura está o mercado promissor por uma característica simples.
“O mercado da pecuária é uma cultura perene. A média hoje do Brasil de reforma de pasto deve estar lá entre quatro e cinco anos. Na agricultura, você faz todo ano”, ressaltou.
Ele lembra que o percentual de uso de plantas de cobertura nas áreas agrícolas no Brasil ainda é muito baixo e que tende a aumentar cada vez mais.
“Daqui a cinco anos, consequentemente, com certeza, a gente vai ter um aumento do mercado bem considerável. Agora, não mais pensando na produção, mas sim na reestruturação do solo. Acho que isso é a grande mudança do setor”.
As próprias revendas, segundo Thiago, até 2018 não comecializavam sementes de braquiária. “Só vendiam produto para matar a braquiária e hoje são nosso principal cliente”.
Segundo Maschietto, nos últimos anos o mercado brasileiro saiu de 90 mil hectares homologados em forrageiras para 300 mil hectares. É um crescimento expressivo justificado em parte pela maior demanda real e, por outro lado, pela maior formalização do setor, com registros que antes não eram feitos.
Oportunidade na exportação
O grande salto da SBS deve se dar pela presença maior nas diferentes regiões do Brasil, em função dos times e centros de distribuição da Boa Safra.
Além desta expansão de vendas no mercado brasileiro, o CEO da SBS diz que também há grande oportunidade de crescer nas exportações.
“Temos como estratégia aumentar nossa exportação, temos sementes temperadas e tropicais, conseguimos trabalhar na América Latina e continente africano, queremos avançar um pouco mais nesse mercado internacional”, afirmou.
Segundo Maschietto, a Semembrás já exportava para países como Angola, Congo, Nigéria, Nicarágua e Honduras.
Como SBS, o plano é ter 10% da receita vindo da exportação. O Brasil é considerado o maior produtor e exportador de sementes forrageiras e o maior importador é a Colômbia, segundo ele. Cerca de 20% da produção brasileira já estaria sendo vendida no mercado externo.
Outro plano que deve ser implantado a partir de 2026 é a produção de forrageiras de inverno – azevém, aveia, triticale, entre outras – para atender melhor a região Sul do Brasil.
Resumo
- Joint venture formada por Semembrás, Sementes Nobre e Boa Safra, a SBS Green Seeds já nasce com faturamento de R$ 150 milhões
- A empresa projeta aumento de 45% no volume de sementes e de 25% em faturamentojá para a safra 2025/2026
- Com suporte da estrutura da Boa Safra, a SBS planeja ampliar presença no mercado interno e entrar no internacional, com meta de 10% da receita vinda de exportações