As explicações do alto comando da Cosan, holding do bilionário Rubens Ometto, que controla Raízen e Rumo, para a operação que vai injetar R$ 10 bilhões no caixa da companhia, foram mal recebidas pelo mercado.

As ações da companhia abriram com queda de mais de 20% no pregão desta segunda-feira, dia 22 de setembro, chegaram a entrar em leilão, e às 11h10, estavam cotadas a R$ 6,12, queda de 18,40%.

O descontentamento dos investidores provavelmente está vinculado à precificação de R$ 5 por ação na oferta-base do consórcio de investidores formado pelo banco BTG Pactual, a gestora Perfin e a Águassanta, family office de Rubens Ometto.

Apesar de a ação ser cotada a R$ 7,50 na sexta-feira, a direção da Cosan avaliou, em teleconferência a investidores na manhã desta segunda-feira, que o desconto “não é tão relevante”.

“Quando a gente estica um pouco essa janela para um período um pouco maior do que só o curtíssimo prazo, a gente observa que, de fato, as ações da companhia já vinham sofrendo um desconto relevante, principalmente em função das incertezas envolvendo a solução das estruturas de capital, como adequar as estruturas de capital da companhia”, disse o CFO da companhia, Rodrigo Araújo, que reforçou a importância da operação para desalavancar o caixa da companhia.

A operação, na avaliação dos executivos, vai permitir mais segurança à companhia para gerar valor e, eventualmente, se achar interessante, também vender ativos.

"Uma coisa é você desinvestir quando você precisa desinvestir. Outra coisa é você desinvestir quando você acha as condições adequadas", disse Araújo.

A capitalização veio após uma tentativa da companhia de vender seus ativos, que acabou frustrada, após o comando da Cosan avaliar que as condições de mercado estavam “bastante ruins”.

“As condições dos potenciais transações foram todas bastante aquém daquilo que a gente acha que seria adequado do ponto de vista de geração de valor e bastante detrimentais à manutenção de portfólio de alta qualidade, que seria obviamente atraente para os nossos acionistas atuais e para acionistas futuros”, complementou o CEO, Marcelo Martins.

"Acho que a gente não perde o senso de urgência, vamos dizer assim, no sentido de que a gente desalavanca a companhia, mas você tem um fôlego muito grande para que a gente observe os melhores momentos, as melhores condições de mercado, quais ativos são mais ou menos impactados pelo ambiente macro, quais oportunidades são mais ou menos tempestivas em termos de criação de valor", emendou Martins.

Ainda que os recursos da operação não sejam utilizados para a capitalização da Raízen, como a Cosan já havia dito ontem e reforçou diversas vezes ao longo da call, Araújo, o diretor financeiro da companhia, disse que a Cosan segue firme na missão de buscar novos sócios para a Raizen.

"Isso não mudou, isso continua. O nosso esforço de atrair um novo investidor para um potencial capitalização de Raízen segue, como vinha sendo feito, não há nada de diferente", disse Araújo.

"A gente já vinha dizendo ao longo do tempo que não haveria e não havia previsão de qualquer tipo de capitalização de Raizen por parte da Cosan, até porque a Cosan tem seus próprios riscos de estrutura de capital. Então, essa transação busca endereçar a adequação da estrutura de capital de Cosan."

Ainda assim, a operação anunciada nesta segunda-feira traz uma novidade para a Raízen - e também para a Rumo e demais empresas controladas para a Cosan.

Isso porque o acordo prevê que o consórcio de investidores participe do conselho das empresas controladas pela Cosan – ou seja, nessa lógica, o BTG Pactual poderia participar do conselho da Raízen, por exemplo.

Próximos passos

A companhia convocará até amanhã uma Assembleia Geral Extraordinária de investidores a ser realizada no próximo dia 23 de outubro.

Na pauta, estarão a aprovação da dispensa da cláusula de poison pill para o consórcio de investidores e do aumento de capital autorizado, que viabiliza a captação de até R$ 10 bilhões. Se aprovadas as matérias, a companhia dará início imediatamente à primeira fase da emissão.

A primeira etapa será uma oferta pública (EGEM), sem prioridade, no valor de R$ 7,25 bilhões, ao preço de R$ 5 por ação, totalmente subscrita pelo consórcio de investidores, que aceitaram um lock-up de quatro anos – período no qual não podem vender suas ações.

Há a previsão ainda de uma oferta adicional, de R$ 1,81 bilhão, que contará com roadshow de sete dias úteis e terá sua precificação em 3 de novembro. Essa oferta será restrita aos atuais acionistas, sem a participação dos investidores âncora.

Também no dia 3 de novembro, será lançada a segunda oferta, prioritária, que poderá captar até R$ 2,75 bilhões, a depender do montante da primeira oferta.

Essa tranche terá como referência a base acionária de 19 de setembro e será restrita aos atuais acionistas, sem a participação dos investidores âncora.

O preço por ação será o mesmo da primeira emissão, mas, diferentemente dela, não haverá lock-up. A etapa seguirá em processo de bookbuilding e roadshow, com precificação prevista para o próximo dia 11 de novembro.

Todo o processo será concluído utilizando as informações financeiras do segundo trimestre de 2025, antes da divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2025, previstas para acontecer no próximo dia 14 de novembro.

Além de apresentar os planos de capitalização, os executivos também trouxeram mais detalhes sobre a sucessão de Rubens Ometto, que ficou com 50,01% do comando da companhia.

BTG Pactual e Perfin concordaram que Ometto - ou outra pessoa apontada por ele - permanecesse como presidente do conselho da Cosan até 2031, com três mandatos de dois anos cada.

Depois disso, a ideia é fazer uma "fazer uma transição estruturada na sucessão do acionista controlador", explicou Marcelo Martins, CEO da companhia.

"Durante esses seis anos iniciais, não há mudança nessa estrutura que a gente mencionou, a partir daí, há possibilidade de se vincular ações neste acordo e, eventualmente, mudando o desenho inicial que foi estabelecido."

"Resolver a questão da sucessão no tempo era urgente. O próprio Rubens sabe que, com o tempo, a gente precisa construir um modelo de perenidade, de sustentabilidade para a companhia e para os sócios/investidores/acionistas que estarão presentes no decorrer do tempo", emendou Martins.

Resumo

  • O anúncio da Cosan, de uma capitalização de até R$ 10 bilhões com preço-base de R$ 5 por ação, provocou forte reação negativa no mercado
  • Operação será feita em etapas, começando por uma oferta pública de R$ 7,25 bilhões já integralmente subscrita pelo consórcio BTG Pactual, Perfin e Aguassanta
  • Uma assembléia extraordinária de acionistas será marcada para o próximo dia 23 de outubro para aprovar a capitalização e dispensa de poison pill