Separados por quatro dias, dois anúncios - um no início e outro no final desta semana - ilustram o momento da Raízen.

Primeiro, na segunda-feira, dia 10 de novembro, a companhia do grupo Cosan informou que vendeu, por R$ 750 milhões a usina Continental para o Grupo Colorado. O movimento é apenas mais um do “feirão” de ativos que a companhia tem promovido e que já soma R$ 4 bilhões.

Nesta sexta-feira, 14 de novembro, a companhia divulgou seu balanço referente ao segundo trimestre da safra 2025/2026, período de julho a setembro, e o que se viu foi a ampliação de seu prejuízo em um ano.

De acordo com o documento, a Raízen encerrou o trimestre com uma perda líquida de R$ 2,3 bilhões, um salto significativo na comparação aos R$ 158 milhões registrados um ano antes.

Somado a isso, a companhia reportou receita líquida de R$ 59,9 bilhões, um recuo de 17,8% na comparação anual, refletindo, de acordo com o balanço, uma queda nos volumes de açúcar e etanol e a redução das operações de trading.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) teve uma queda de 39,7% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, ficando em R$ 2,7 bilhões.

O drama operacional

No trimestre, as vendas próprias de açúcar caíram 28,5% na comparação anual, para 1,5 milhão de toneladas, frente a 2,1 milhões um ano antes. O movimento reflete uma menor disponibilidade de produto e um perfil de comercialização menos concentrado na primeira metade da safra.

No etanol, a queda também foi expressiva: os volumes próprios recuaram 16,1%, para 817 mil metros cúbicos, ante 974 mil metros cúbicos no mesmo período de 2024, impactados pela menor moagem acumulada, mas também por uma opção de um mix mais açucareiro.

A Raízen até processou mais cana, foram 35,1 milhões de toneladas no trimestre, alta de 6,7% na comparação anual. Apesar disso, viu uma queda na produtividade, com o ATR (Açúcar Total Recuperável) por tonelada caindo 3,7% em um ano, em 141 quilos por tonelada.

No acumulado dos seis primeiros meses da safra, a moagem bateu 59,6 milhões de toneladas de cana, uma baixa de quase 10% frente às 63,7 milhões de toneladas da temporada anterior.

Ainda na noite desta sexta-feira, a Raízen promoveu uma conferência com analistas para comentar os resultados e a direção destacou que a moagem recuou porque a base de comparação ainda contava com usinas que ela já não opera mais, como por exemplo a Usina Santa Elisa.

Na comparação com as mesmas usinas, a moagem se manteve estável em 58 milhões de toneladas de cana.

A fabricação de açúcar avançou 12,1%, alcançando 2,69 milhões de toneladas, enquanto a produção de etanol caiu 10,3%, para 1,24 milhão de metros cúbicos. O mix ficou em 56% para o adoçante e 44% para o biocombustível..

A queda na produtividade agrícola ocorre, segundo a empresa, ainda pelo efeito das queimadas no Centro-Sul na safra anterior, além de um pior regime de chuvas e até geadas no começo do ano.

A direção da empresa também comentou na conferência com os analistas de mercado o motivo de optar por uma safra mais açucareira. Segundo os executivos, a companhia já fixou a safra de açúcar em 111 centavos de real por libra-peso. Para a temporada 2026/27, já foi fixada quase metade do adoçante.

Na distribuição, a empresa citou margens comprimidas na Argentina com uma depreciação do peso, além de uma inflação elevada e uma parada programada em uma refinaria.

A operação de distribuição no Brasil foi o único destaque positivo, com avanço de margens e redução de despesas logísticas.

O drama financeiro

Do lado financeiro, a empresa também viu o endividamento subir, acompanhada de um maior custo na dívida. A dívida líquida avançou para R$ 53,4 bilhões, alta de 48,8% em relação ao ano anterior.

Com isso, a alavancagem medida pela relação da dívida líquida e o Ebitda ajustado dos últimos 12 meses subiu para 5,1 vezes, ante 2,6 vezes no mesmo período de 2024.

O resultado financeiro líquido se deteriorou e chegou a R$ 2,72 bilhões negativos, um salto de 61% impulsionado pelo CDI mais alto (14,9% ante 10,4%) e pelo maior estoque de dívida.

O resultado do trimestre também foi impactado por uma série de efeitos não recorrentes ligados ao processo de simplificação do portfólio. A companhia reconheceu cerca de R$ 1 bilhão em impactos negativos associados à hibernação e à venda de ativos.

Além disso, cita uma reavaliação de ativos biológicos, somando R$ 358 milhões negativos, bem acima dos R$ 31 milhões registrados no mesmo trimestre do ano anterior.

Na coletiva, o CEO da empresa, Nelson Gomes, relembrou que está no posto há um ano. O comunicado da troca de comando e diretoria da Raízen foi feito no dia 21 de outubro do ano passado.

“O objetivo para esse ciclo é gerar valor através de eficiência operacional e foco no core business. Estamos voltando a fazer o básico bem feito, algo que um dia a empresa já fez no passado”, disse.

“Passado o primeiro ano, do meu ponto de vista, quando isolamos os resultados operacionais recorrentes deste ano e comparando com o do ano passado, já enxergamos evolução”, acrescentou.

Gomes citou que a empresa tem preservado a posição de liquidez e relembrou que a posição de caixa da empresa, que está em R$ 18,6 bilhões, veio acima do montante do primeiro trimestre desta temporada, que estava em R$ 15,7 bilhões.

O CEO ainda relembrou que anunciou, na quinta-feira, 13 de novembro, a contratação de um crédito rotativo de US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões pela cotação atual), com um prazo de cinco anos.

Dos desinvestimentos, Gomes citou que a empresa já registrou R$ 900 milhões em entradas de caixa provenientes de vendas já concluídas. Outros R$ 4 bilhões devem entrar em caixa nos próximos meses.

Resumo

  • Raízen fecha o trimestre com prejuízo de R$ 2,3 bilhões, queda de receita para R$ 59,9 bilhões e Ebitda quase 40% menor
  • Operação segue pressionada por moagem apenas estável nas usinas mantidas, ATR menor e mix mais açucareiro
  • Estrutura financeira piora com dívida líquida em R$ 53,4 bilhões e alavancagem de 5,1x, apesar do reforço de caixa para R$ 18,6 bilhões