A expectativa em torno da fusão entre Marfrig e BRF tem movimentado o mercado de ações no País nos últimos dias.
Mesmo com o segundo adiamento, na sexta-feira, 11 de julho, da assembleia de acionistas que poderia sacramentar a operação, tanto a controladora Marfrig quanto minoritários fizeram movimentos relevantes, alterando suas posições no quadro acionário da BRF à espera de ganhos futuros com a transação.
É o caso do banco BTG Pactual, que segundo comunicado divulgado pela BRF na manhã desta segunda-feira, dia 14 de julho, passou a deter aproximadamente 7,79% do capital social da companhia, somando 131.005.400 ações ordinárias da BRF.
Não foi divulgada qual era a participação anterior do banco de André Esteves na companhia de alimentos. O anúncio da nova posição cumpriu a uma obrigação legal, já que as empresas são obrigadas pela CVM a divulgar ao mercado quando ultrapassam uma posição de 5% em companhias listadas.
O que se pode afirmar, entretanto, é que o investimento do BTG Pactual na aquisição das ações foi bilionário. Caso o banco tivesse antes um total de 4,99% de participação (patamar máximo para não ter de comunicar ao mercado), para atingir a nova posição teria desembolsado em torno de R$ 1,035 bilhão, considerando um preço de R$ 22 por ação, preço de fechamento do mercado na última sexta-feira. O valor, porém, pode ser diferente, uma vez que a compra pode ser feita em diferentes lotes.
Com os atuais 7,79% o BTG Pactual aparece aparece como a terceira maior acionista da BRF, atrás apenas da controladora Marfrig e do fundo árabe Salic, que detém 11,03% do capital da companhia.
Em correspondência à diretoria da empresa, o banco informou que o aumento da participação tem como objetivo "a mera realização de operações financeiras" e que não tem intenção de "alterar a composição do controle ou a estrutura administrativa" da BRF.
O BTG Pactual concluiu dizendo que "não tem o objetivo de atingir qualquer participação acionária em particular."
Além disso, o banco também informou que possui 106.938.850 opções de venda compradas, por meio de liquidação física, e 3.066.550 opções de venda compradas, por meio de liquidação financeira.
Com essa estratégia de opções, na prática, 81,6% da posição acionária atual (que soma 131 milhões de ações) está potencialmente já protegida ou direcionada para venda futura.
Dessa forma, o BTG pode estar protegendo seu investimento contra eventuais quedas de preço ou ainda ter comprado ações já com planos de vender futuramente a um preço garantido.
Do lado da equipe de research do BTG Pactual, a instituição financeira mantém recomendação neutra para os papéis da BRF, pois acredita, segundo relatório divulgado em maio passado, após o anúncio da fusão entre Marfrig e BRF, que o bom desempenho da companhia ao longo do último ano foi “em grande parte impulsionado por um ciclo excepcionalmente favorável do frango, que esperávamos que eventualmente se normalizasse.”
Mais ações à espera da fusão
Além do movimento do BTG, também a controladora Marfrig aumentou sua participação na BRF de 51,44% para 58,87% do capital social, conforme divulgado pela companhia de Marcos Molina no último sábado.
Usando a mesma lógica do cálculo feito no caso do BTG Pactual, essa elevação na participação teria custado cerca de R$ 2,75 bilhões.
Parte dessas novas ações podem ter sido compradas diretamente daquela que, até o novo investimento do BTG Pactual, constava como a terceira maior acionista: a Previ. O fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, um dos que questionava os termos da fusão com a Marfrig, decidiu se desfazer de suas ações, que somavam 4,93% do capital, zerando sua posição na BRF.
Segundo informações publicadas pelo site InvestNews, a Marfrig teria acertado, na sexta-feira, pagar R$ 23 por ação para comprar os papeis em posse da Previ.
A transação teria sido fechada pouco após a Marfrig receber a notificação da CVM para adiar a assembleia que iria decidir o futuro da fusão com a BRF, marcada originalmente para acontecer nesta segunda-feira, 14 de julho.
O órgão regulador do mercado de capitais deferiu pedido da própria Previ e do acionista Alex Fontana, que alegavam não ter recebido das duas empresas informações suficientes para avaliar os impactos da fusão.
O encontro dos acionistas já tinha sido adiado pela CVM, pelo mesmo motivo, no mês passado. No dia 17 de junho, um dia antes da data inicial marcada para a reunião, a comissão anunciou que iria adiar a assembleia por 21 dias, até que as empresas apresentassem mais informações sobre a relação de troca.
O principal questionamento dos minoritários diz respeito à relação de troca das ações da BRF pelas da MBRF, companhia que surgiria a partir da fusão com a Marfrig. Na proposta apresentada pelas companhias, essa relação era de 0,85 ação da nova companhia para cada uma da BRF.
Ainda não há nova data para a assembleia. O despacho da CVM indica que ela deverá acontecer 21 dias após a entrega, pelas empresas, dos documentos solicitados.
Às 12h30 desta segunda-feira, as ações da BRF recuavam 3,82% na B3, cotadas a R$ 21,16. Já os papéis da Marfrig apresentavam queda maior, de 5,35%, cotadas a R$ 21,77.
Resumo
- BTG Pactual elevou sua participação na BRF para 7,79%, mantendo opções para proteger ou vender parte do investimento no futuro
- Controladora Marfrig também ampliou participação, de 51,44% para 58,7%
- As operações foram informadas ao mercado pouco depois de novo adiamento, por determinação da CVM, da assembleia que votará a fusão