A espera de BRF e Marfrig – e seu controlador, Marcos Molina – para formalizar a criação da MBRF, fusão das duas companhias em uma única gigante com receitas de mais de R$ 150 bilhões anuais, vai se prolongar ainda um pouco mais.

Uma última pedra, pequena, surgiu no caminho da transação nesta quarta-feira, 20 de agosto, durante o julgamento do processo que analisa os aspectos concorrenciais do negócio no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Mesmo com maioria formada a favor da aprovação sem restrições da fusão, o julgamento foi suspenso após o derradeiro dos seis conselheiros a votarem, Carlos Jacques Vieira Gomes, pedir vistas, solicitando mais tempo para apreciar o caso e emitir seu voto.

O ponto central do julgamento girava em torno do questionamento da concorrente Minerva Foods, que havia sido aceita como terceira interessada no processo, em torno do papel do fundo soberano da Arábia Saudita, Salic, na nova empresa.

A Minerva alegava que, por ter participação tanto na BRF (que seria transferida para a nova MBRF) quanto na própria Minerva, o Salic estaria em uma posição que poderia criar um alinhamento de interesses para os sauditas.

Isso poderia, segundo recurso apresentado pela Minerva no final de julho, trazer efeitos como a redução de incentivos à competição e riscos de troca de informações sensíveis entre as empresas, considerando que haveria conselheiros indicados pelo fundo saudita nas duas empresas.

O presidente do Cade, Gustavo Freitas de Lima, acatou o recurso e solicitou explicações ao Salic, com esclarecimentos em relação à posição acionária do fundo nas empresas, tanto em relação à participação quanto a direitos de preferência ou exercícios de opção de compra de ações que possam ampliar a participação em cada uma delas.

As respostas do Salic – que apontou não ter intenção de influenciar nas decisões da nova companhia – parecem ter deixado satisfeita a maioria dos conselheiros.

O primeiro a apresentar seu parecer foi o relato do caso, Gustavo Augusto, que votou pela aprovação da fusão. Ele, entretanto, foi o único a impor ressalva: para isso, o Salic teria de abrir mãos de seus direitos políticos na MBRF.

Os demais conselheiros – Victor Fernandes, Diogo Thomson, Camila Cabral Pires Alves e José Levi – divergiram desse aspecto do voto e se manifestaram a favor da aprovação sem análise da participação do fundo.

Assim, quando Vieira Gomes solicitou mais tempo para analisar o caso, o placar já se mostrava amplamente favorável às aspirações de Marcos Molina de unir as companhias em um único conglomerado que se colocaria entre os maiores do mundo nos seus segmentos.

Resta a ele agora ter um pouco de paciência. Segundo o regimento do Cade, o prazo de vista em um processo é de 60 dias. Nesse período, os outros conselheiros podem também rever seus votos, o que, embora pouco provável, ainda deixa algum suspense no ar.

Resumo

  • Julgamento da fusão entre Marfrig e BRF, que criaria a gigante MBRF com receita acima de R$ 150 bilhões, foi suspenso após pedido de vista
  • Cinco conselheiros já votaram pela aprovação da operação, sendo que apenas um sugeriu restrição quanto à participação política do fundo saudita Salic
  • Apesar do apoio majoritário, a análise pode se estender por até 60 dias, mantendo expectativa e algum suspense no mercado