Enquanto boa parte das empresas de máquinas contabilizava queda nas vendas, até o ano passado, há um setor que seguiu crescendo “dois dígitos” no mercado brasileiro.

São os fabricantes da chamada linha amarela, que inclui escavadeiras e carregadeiras, muito comuns na construção, mas também cada vez mais demandadas na cadeia do agronegócio.

Uma das gigantes globais do segmento é a japonesa Komatsu, presente do Brasil há 50 anos – no começo vendia tratores por aqui, mas logo se tornou referência na linha amarela.

No balanço global divulgado semana passada a Komatsu reportou uma receita de US$ 28,4 bilhões, alta de 6% em relação ao resultado do ano anterior.

Em entrevista exclusiva ao AgFeed, o CEO da Komatsu, Guilherme Santos, disse que 70% do faturamento da companhia vem de fora do Japão e o Brasil, que sempre foi um negócio importante para o grupo, agora virou “estratégico”.

Um dos motivos é o potencial de crescimento do agronegócio, que vinha aquecendo as vendas nos últimos anos. Ele não revela quanto a receita da Komatsul avançou em 2024, diz apenas que foi um percentual de “dois dígitos”, o que inclui construção e mineração.

Na conversa com o AgFeed, no movimentado estande da Komatsu durante a Agrishow, em Ribeirão Preto, um outro executivo da empresa, Paulo Torres, VP da divisão de equipamentos de construção, admitiu que a quebra de safra em Mato Grosso e outros problemas climáticos no Brasil, levaram a um recuo das vendas “agro” em 2024.

Para este ano, porém, a expectativa é otimista. O grupo espera um crescimento no agro de até 8%, enquanto no negócio como um todo o avanço pode ficar entre 3% e 4%.

Investimento de R$ 300 milhões

A decisão da Komatsu de colocar o Brasil como prioridade estratégica aparece em algumas ações recentes da companhia. Foi inaugurada uma nova unidade em Parauabebas (PA) e está sendo construída mais uma planta em Contagem (MG), que deve ser concluída em 2026.

No caso do segmento de construção – que tem 20% das vendas relacionadas ao agro – foco é a fábrica de Suzano (SP).

Na unidade, investimentos vêm sendo feitos para ampliar a capacidade produtiva e, até o ano que vem, para passar a produzir no Brasil um equipamento que por enquanto ainda é importado.

Segundo Leandro Bueno, gerente geral de marketing da divisão de equipamentos de construção da Komatsu, a expectativa é que 30% da produção da carregadeira de rodas WA150, que passará a ser fabricada aqui, sejam vendidas aos clientes do agronegócio.

O modelo foi um dos lançamentos apresentados pela empresa na Agrishow e, segundo os executivos, pode ser adaptado para diferentes culturas para transportar feno, grãos ou algodão. Outro segmento importante para a Komatsu é a cana-de-açúcar.

O início da fabricação deste item está no pacote de R$ 300 milhões em investimentos que a Komatsu iniciou em 2023 e encerrará no próximo ano, de acordo com o CEO.

Além disso, o País já hoje o principal mercado para a sua divisão florestal, graças ao crescimento expressivo do setor de florestas plantadas para a produção de celulose.

Efeito Trump

O tarifaço de Donald Trump, que vem afetando diferentes países e setores da economia, também está no radar da Komatsu. Na visão de Guilherme Santos, podem surgir oportunidades de exportar mais produtos para os Estados Unidos, por exemplo.

“Nenhum fabricante ainda tem certeza, mas possivelmente os custos de produção nos Estados Unidos devem aumentar. Aí, a flexibilidade que a Komatsu tem em ter plantas em diversos países nos permite buscar a melhor composição, otimização, para que a gente possa minimizar o máximo possível esses aumentos de custo”, avaliou.

Ele diz que um fator positivo é a tarifa mais baixa que foi aplicada ao Brasil, de 10%, enquanto outros países enfrentam percentuais bem mais altos.

“Nós importamos, aqui no Brasil, a maior parte das nossas peças do Japão. Então nós temos pouca influência na relação das tarifas. O que pode acontecer é uma exportação maior. Para quem fabrica no Brasil e exporta para os Estados Unidos pode ser uma opção”, afirmou.

Embora produzir mais nas fábricas brasileiras seja um cenário possível, o executivo admite que também há preocupações com uma possível recessão global, que reduziria a demanda pelas máquinas.

Paulo Torres, VP da área de construção, concorda que vem lidando com um cenário de incerteza relatado por grandes clientes.

“Essa incerteza, para clientes que trabalham com exportação, posterga algumas decisões. Renovações de contrato, por exemplo, com locadores, que é um segmento que a gente tem”, cita. Nesse caso, empresas estariam realizando apenas aditamento. “Então isso também causou uma retração”.

Resumo

  • Crescimento da empresa no agronegócio deve ser o dobro do registrado em outros segmentos
  • Companhia abriu duas fábricas e deve iniciar produção de nova carregadeira, que pode ser adaptada ao transporte de feno, grãos e algodão
  • No balanço global divulgado semana passada a Komatsu reportou uma receita de US$ 28,4 bilhões