O perfil conservador dos produtores de cana-de-açúcar parece ter dado lugar à confiança nos resultados de mais produtividade prometidos pelas novas variedades desenvolvidas pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).
Essa mudança na visão foi um dos fatores principais para os resultados financeiros recordes da instituição de pesquisa no segundo trimestre e no acumulado do primeiro semestre da safra 2025/2026.
De acordo com balanço divulgado nesta quinta-feira, 13 de novembro, o CTC reportou lucro líquido de R$ 67,8 milhões 2T26, 41,2% superior ao do 2T25. No acumulado do semestre, o lucro líquido foi de R$ 117 milhões, aumento de 39,6% em relação aos seis primeiros meses da safra anterior.
Segundo Paulo Geraldo Polezi, diretor Financeiro e de Relações com os Investidores do CTC, dois fatores principais contribuíram para para os resultados recordes: o avanço do market share em 4 pontos porcentuais, para 30% dos canaviais com variedades CTC, ligado à estratégia agressiva de acelerar a adoção dos clientes.
“Hoje temos 80% do plantio com variedades novas, as que foram lançadas há menos de cinco anos. O produtor testa mais, confia mais na gente e utiliza uma variedade mais nova, sem ter um pouco aquela conversa do vizinho, que plantou porque outro vizinho plantou também”, resumiu Polezi em entrevista ao AgFeed.
De acordo com o executivo, no passado os produtores demoravam até quatro anos para atingir o nível de penetração de 80% de plantio com variedades. “Hoje a gente está atingindo esse índice no primeiro ano, graças ao trabalho que o CTC tem feito junto aos clientes”, afirmou.
No aumento do market share, o Polezi destacou a região do Oeste de São Paulo, que se tornou uma das principais produtoras de cana nos últimos 20 anos. Por lá, a fatia saiu de 27% para 34% das lavouras com variedades CTC.
Para o executivo, a perda na produtividade dos canaviais nas últimas duas safras, principalmente por questões climáticas, se transformou em uma oportunidade para o CTC, no contexto em que o produtor tem adotado variedades novas mais rapidamente.
Ele citou, por exemplo, a CTC Advana, que promete 14% a mais de produtividade, lançada em julho. Até o final da safra 2025/2026 a instituição espera lançar quatro variedades, duas para o Centro-Sul e duas para o Nordeste. “Os clientes mesmo, tendo momentos difíceis, têm acelerado a adoção de novas tecnologias”.
Outro fator que turbinou os resultados financeiros na safra atual foi a recuperação de um crédito fiscal de R$ 14 milhões em PIS/Cofins por parte do CTC no período. Mesmo sem considerar esse valor, os resultados seguiriam positivos, de acordo com a instituição.
“Conseguimos ainda manter estáveis e a receita cresceu bastante, sinal de boa gestão”, avaliou o diretor do CTC. A receita líquida somou R$ 117,2 milhões no trimestre passado, alta de 17,1% ante igual período de 2025. Já no acumulado do semestre a receita líquida foi de R$ 227,8 milhões, crescimento de 16,7%.
O Ebitda alcançou R$ 62,3 milhões no trimestre, alta de 48% na mesma base de comparação, com expansão da margem de 11,1 pontos porcentuais em relação ao segundo semestre do período passado, atingindo 53,2%. No semestre, o Ebitda foi de R$ 116,4 milhões.
Os investimentos em pesquisa e tecnologia somaram R$ 61,1 milhões no segundo trimestre de 2025/2026, alta de 12,8% na comparação trimestral, puxado por projetos em melhoramento genético, biotecnologia e sementes sintéticas.
No acumulado do semestre, os investimentos alcançaram R$ 119,4 milhões, 18,5% acima do mesmo semestre do ano passado. O capex totalizou R$ 21,3 milhões no trimestre e R$43,3 milhões no semestre, com destaque para o ritmo acelerado das obras da planta demonstrativa de sementes sintéticas.
Com investimentos de R$ 100 milhões em uma planta de produção, o CTC desenvolveu quatro variedades da semente sintética de cana em laboratório, já aprovadas e em fase de testes em lavouras de 11 clientes.
“A obra está com um avanço físico financeiro de 70% e nós pretendemos atingir um volume de produção para plantar 20 hectares ainda dentro dessa safra para tentar antecipar ao máximo a possível a decisão, o ‘go-to-market’ do produto”, afirmou o executivo. Para a próxima safra a área de testes deve ser ampliada para 100 hectares.
Paralelamente às novas variedades tradicionais e às sementes sintéticas, o CTC caminha para pedir o registro da VerdPRO2, variedade geneticamente modificada para dar, ao mesmo tempo, resistência à broca da cana e tolerância a herbicidas. A instituição espera fazer o pré-lançamento na próxima safra e levar a variedade transgênica ao mercado em 2027
Com o desafio de dobrar a produtividade nos canaviais até a próxima década e com investimentos de 50% da receita para desenvolver e entregar novas variedades, o CTC ainda aguarda a primeira janela de oportunidade para abrir o capital com ações negociadas na B3.
“Não consigo precisar quando vai ser a janela, mas o mais importante é que isso continua sendo uma prioridade para a companhia, o que a gente chama de evento de liquidez”, afirmou Polezi. “E nós estamos usando esse tempo enquanto o mercado não abre para preparar melhor a empresa”, completou.
Ainda no trimestre passado, o executivo destacou a conclusão do estudo que confirmou o fungo Colletotrichum falcatum como agente causal da murcha da cana, uma das novas doenças que preocupam o setor. A descoberta, segundo ele, deve direcionar novas pesquisas em resistência e manejo da cultura.
Além disso, o CTC lançou o movimento Esfera, um espaço colaborativo, reunindo cientistas, consultores, produtores e clientes em debates técnicos que possam trazer soluções práticas para os problemas da cultura da cana-de-açúcar, com quatro encontros anuais.
Líder global em ciência da cana-de-açúcar e detentor do maior banco de germoplasma, com mais de 5 mil variedades, o CTC foi criado em 1969, ainda sob o controle da Copersucar, mas se tornou uma Sociedade Anônima em 2011, com a abertura acionária para outras usinas e produtores.
Resumo
- CTC registra lucro líquido de R$ 67,8 mi (+41%) no 2º tri e R$ 117 mi no semestre, impulsionado por avanço de 4 p.p. no market share
- Novas variedades já representam 80% dos plantios; produtores aderem mais rápido às tecnologias da instituição
- Receita cresce 17%, Ebitda sobe 48% e investimentos em P&D alcançam R$ 119 mi, com foco em biotecnologia e sementes sintéticas