A BrasilAgro vai ativar a “mão mais compradora”, apostando em propriedades rurais em dificuldades financeiras e com preços mais em conta para executar seu plano neste ano-safra 2025/2026.
Segundo o CEO André Guillaumon, o período deve marcar um ponto de inflexão da companhia, após o período mais vendedor.
“O desafio é ser mais compradora no exercício”, disse Guillaumon. Durante entrevista para comentar os resultados da BrasilAgro no último trimestre e do ano-safra 2024/2025, o executivo citou que faz parte perfil da companhia a capacidade de transformar áreas adquiridas e agregar valor às propriedades para vendas futuras.
O CEO afirmou, no entanto, que os preços das terras “subiram de elevador” na esteira da disparada da soja há duas safras, quando a commodity atingiu R$ 200 por saca, mas “descem de escada”, o que leva a companhia a ter parcimônia na busca de novos investimentos em imóveis rurais.
“Os valores descem de escada porque foi uma safra com preços ruins e é preciso ter vários anos de margem ruim para baixar o preço da terra para os patamares anteriores. Ativos estressados, aí sim, a gente pode comprar com valores atrativos, mas ainda tem mais para cair”, afirmou.
Segundo Guillaumon, a BrasilAgro deve ter uma atuação diferenciada nas operações no Paraguai. Com 100% de área própria, e concentrada em apenas uma região, a companhia deve partir para arrendamentos e ter operações em outras áreas para mitigar riscos, principalmente em relação aos efeitos climáticos.
“Precisamos colocar mais terra arrendada e vender área em lugar e comprar outros ativos para ter mitigação de volatilidade”, explicou.
De acordo com o balanço divulgado nesta quarta-feira, 3 de setembro, a BrasilAgro reportou lucro líquido de R$ 61,3 milhões no quarto trimestre de 2025 (4T25), encerrado em 30 de junho, queda de 74% em relação ao mesmo período de 2024, quando o ganho foi de R$ 232,9 milhões.
No acumulado do ano, o lucro somou R$ 138 milhões, recuo de 39% frente aos R$ 226,9 milhões registrados em 2024.
A receita líquida total da companhia, que inclui operações agrícolas e venda de fazendas, atingiu R$ 362,8 milhões no 4T25, recuo de 34% sobre igual trimestre do ano anterior. Já no acumulado do exercício, houve alta de 12%, para R$ 1,23 bilhão.
O resultado foi impulsionado principalmente por maiores volumes de soja e cana-de-açúcar e pela valorização do quilo do ATR da cana, que passou de R$ 0,98, em 2024, para R$ 1,26, em 2025.
Apesar da pressão sobre o resultado líquido, a BrasilAgro destacou a melhora nas margens da soja e da cana, que contribuíram para o crescimento do resultado bruto anual, de R$ 338,2 milhões, 8% acima de 2024.
O Ebitda ajustado total caiu 73% no trimestre, para R$ 72 milhões, refletindo perdas com operações de derivativos, e acumulou R$ 267,3 milhões no ano, retração de 4% frente a 2024. A receita operacional líquida somou R$ 228,7 milhões no trimestre, estável em relação a 2024, e R$ 877,4 milhões no exercício, alta de 14%.
Na produção, o volume total vendido na safra foi de 2,14 milhões de toneladas, 3% acima de 2024, com destaque para o avanço de 16% na soja e 5% na cana. A pecuária, por outro lado, caiu 31% em volume e 14% em receita.
No segmento imobiliário, a BrasilAgro concluiu a venda da Fazenda Preferência (BA) por R$ 141,4 milhões em junho, operação que gerou ganho contábil de R$ 106,7 milhões. Com isso, a companhia acumula R$ 1,9 bilhão em vendas de terras nos últimos cinco anos.
Em agosto, a BrasilAgro firmou contrato de arrendamento de longo prazo no município de Comodoro (MT). A fazenda integrará a operação já existente no município, onde a companhia opera 4.707 hectares.
A propriedade possui aptidão para segunda safra em até 25% da área e, na safra 2025/2026, serão incorporados aproximadamente 3 mil hectares. O contrato prevê arrendamento de 13 safras, com preço médio de 13,7 sacas de soja por hectare.
O portfólio da companhia soma 249,8 mil hectares no Brasil, Paraguai e Bolívia. O valor de mercado dessas propriedades foi avaliado internamente em R$ 3,1 bilhões, alta de 8% em um ano, enquanto a Deloitte estimou R$ 3,5 bilhões, com preço médio de R$ 29,6 mil por hectare útil. O valor líquido dos ativos por ação ficou em R$ 37,92 ao fim de junho.
“Esse valor está muito atado à capacidade de transformar áreas que a BrasilAgro possui”, afirmou o CEO da companhia.
Segundo Guillaumon, 2024/2025 foi um ano-safra marcado por volatilidade financeira, principalmente cambial, o que prejudicou os resultados da companhia. “Aprovei um dólar de R$ 5,30, quando naquele momento era R$ 4,80 e a companhia começou com estratégia comercial e derivativos. Em 12 meses, o dólar foi a R$ 6,40 e voltou a R$ 5,40”, justificou.
“A Selic saiu de 10% para 15% ao ano e, apesar de termos uma dívida em 92% do CDI, uma coisa é ter um CDI em 10% e outra é de 15%”, completou o CEO da BrasilAgro.
Do lado da produção e das propriedades, o executivo citou a certa estabilidade que trouxe bons resultados nas operações agrícolas, exceto em áreas de algodão na Bahia e Paraguai atingidas por secas.
Com os preços pouco remuneradores, a BrasilAgro carregou praticamente todo o estoque de soja para o segundo semestre, aproveitando a perspectiva de melhora no prêmio pago pela commodity do Brasil na esteira da guerra tarifária entre Estados Unidos e China.
“Foram carregadas cerca de 100 mil toneladas de soja para o segundo semestre, um volume que poderíamos vender com prêmio negativo, mas que hoje temos 80 pontos positivos de média e com prêmios de até 200 pontos. Isso pagou o custo de carrego e sobrou”, afirmou.
Guillaumon avaliou que o cenário de prêmios remuneradores pela soja brasileira pode ser revertido no curto prazo com a entrada da safra de soja norte-americana no mercado internacional.
“A colheita começa e, se houver um acordo entre Estados Unidos e China, a Bolsa de Chicago sobe e o prêmio despenca. O jogo da aposta está do meio para o fim e, se tiver prêmio bom nos próximos 30 dias, o produtor deve realizar”, concluiu.
Para 2025/2026, a BrasilAgro tem cerca de 50% da soja travada em US$ 10,69 por bushel e 42% do câmbio a R$ 6,19 por dólar, o que dá tranquilidade para a companhia no período, de acordo com o CEO.
O custo de produção deve sair de R$ 3,5 mil a R$ 3,6 mil hectare, para R$ 4 mil por hectare, principalmente por causa do dólar. A alta, no entanto, deve ser neutralizada, justamente pelos ganhos cambiais na proteção feita pela companhia.