Nas apresentações de executivos do grupo Amaggi, um dos maiores conglomerados agroindustriais do Brasil, é comum a apresentação de um mapa mostrando a presença das várias divisões de negócios da companhia pelo País.
A imagem reflete o presente do grupo, uma potência de receitas de 45 bilhões e negócios que vão da produção agrícola ao mercado financeiro.
Ao longo das últimas cinco décadas, o império fundado por André e Lucia Maggi a partir de uma sementeira criada em São Miguel do Iguaçu, no Paraná, espalhou seus tentáculos pelo Mato Grosso e, dali, olhou para o Leste e o Norte, levando suas operações para os estados do Matopiba, escoando seus grãos pelo Arco Norte e viabilizando a exportação através dos rios da bacia amazônica.
Assim, o mapa do Brasil da Amaggi mostra uma grande concentração de fazendas, escritórios, armazéns, indústrias, bases logísticas, portos e estaleiros em sua parte mais setentrional. E espaços vazios na metade meridional, mais ocupada por linhas que indicam corredores por onde a companhia escoa parte de suas operações.
Em alguns anos, as novas apresentações devem mostrar um geografia bem diferente. A ocupação do centro-norte do País continuará sendo intensa.
Mas é para o Sul de Cuiabá, onde a fica a sede do grupo, que seus executivos têm se voltado com mais atenção nos últimos meses, em uma estratégia coordenada de expansão com suas diferentes frentes de negócios.
O movimento é tão discreto quanto possível para um gigante do porte da Amaggi. Publicamente, o grupo cita apenas ações isoladas, em comunicados sintéticos ou mesmo em postagens feitas em redes sociais.
Quando se olha essas ações em conjunto, pode-se conectá-las e vislumbrar um plano para transformar as consolidadas áreas agrícolas das regiões Sul e Sudeste em oportunidades para crescimento para operações como as de originação e comercialização de grãos, vendas de insumos e até mesmo oferta de serviços financeiros com o AL5, banco pertencente ao grupo.
A mais visível dessas ações foi anunciada na semana passada, na véspera do feriado do Dia do Trabalho. Em um comunicado, a Amaggi anunciou ter sido vencedora, em conjunto com a também gigante trading LDC, no leilão para a outorga de um dos lotes de terminais no Porto de Paranaguá, no Paraná, um dos principais polos de exportação de grãos do País.
O lance pelo terminal portuário PAR25 incluía um desembolso de R$ 219 milhões apenas pela outorga, mas o projeto como um todo envolve investimentos superiores a R$ 1 bilhão ao longo da concessão, que deve durar 35 anos.
“Esse movimento estratégico marca um avanço importante para nossas operações de originação, comercialização e escoamento de grãos, especialmente no Sul do Brasil, região que ganha ainda mais protagonismo em nossa cadeia de valor”, escreveu Dante Pozzi, diretor de Commodities da Amaggi em uma postagem no LinkedIn.
“O Paraná tem relevância histórica para a Amaggi, já que foi lá onde tudo começou, há 48 anos”, lembrou. “E, agora, passa a ter ainda mais peso na nossa estratégia de crescimento sustentável e expansão comercial”.
A rota Sul já foi relevante para o escoamento da produção do Centro-Oeste décadas atrás, até que investimentos em alternativas rodoviárias e hidroviárias abriram caminhos mais competitivos em direção ao Norte.
A Amaggi foi uma das protagonistas nessa jornada rumo às saídas pelo Arco Norte, com a implantação do porto de Itacoatiara, no Amazonas, e o investimento na companhia de navegação Hermasa para utilizar as hidrovias da bacia amazônica.
Quando olha para o Sul, a lógica econômica indica usar a nova estrutura de Paranaguá para exportar grãos originados em áreas em que a estrutura logística torne essa rota mais eficiente e barata.
“O terminal em Paranaguá reforça nossa capacidade de oferecer soluções logísticas integradas e eficientes, com impacto direto na competitividade dos nossos produtos nos mercados nacional e internacional”, reforçou Pozzi na sua publicação.
Dias antes, na mesma rede social profissional, a própria Amaggi havia indicado que o caminho para o Sul, no sentido inverso ao realizado há cinco décadas pela família fundadora, estava pavimentado e começaria a ser cada vez mais parte da estratégia do grupo.
Na postagem, a empresa informava, em texto e vídeo, que estava “expandindo seus negócios”, com a abertura de estruturas nos estados de São Paulo, Goiás e Minas Gerais, onde ofereceria “soluções personalizadas para negociação e comercialização de grãos”, além de insumos e assistência técnica.
Procurada pela reportagem do AgFeed, a Amaggi não disponibilizou executivos para falar sobre essa estratégia. Através de sua assessoria de imprensa, respondeu de forma genérica a questões enviadas, mas com informações que ajudam a preencher o que seria o mapa futuro da companhia a partir da jornada em direção ao Sul.
“Hoje a Amaggi atua em todas as regiões produtoras do Brasil, quer seja com ativos ou com time comercial”, informa, confirmando que, recentemente, a companhia abriu unidades em Uberlândia (MG), Itapetininga (SP) e Pato Branco (PR), para citar algumas fora do eixo Norte e Centro-Oeste.
E confirma que não foram ações isoladas. “Ainda não é possível mencionar as próximas cidades, mas faz parte da estratégia da Amaggi estar presente em todas as regiões cuja economia é impactada direta ou indiretamente pelos produtos e serviços presentes no portfólio da empresa”.
Na visão de altos executivos de indústrias de insumos ouvidos pelo AgFeed, o conglomerado da família Maggi busca se posicionar, assim como algumas cooperativas e tradings, nos espaços deixados pelos grandes grupos que combinavam distribuição de insumos com originação de grãos e que, em função de dificuldades financeiras, vêm encolhendo e fechando unidades nessas regiões.
Por isso, as novas unidades da Amaggi replicam o modelo que a companhia já vinha adotando, com sucesso, junto a seus mais de 30 mil produtores parceiros nas suas principais áreas de atuação, baseado na ampliação do relacionamento através de pacotes que combinam a compra de grãos com a venda de produtos e serviços.
Assim, segundo informa a empresa, “essa presença pode se dar por meio de escritórios de originação, unidades armazenadoras, escritórios de logística, fábricas e outras estruturas que apoiem a empresa em sua atuação no ramo de grãos e fibras”.
A prioridade é pela instalação de estruturas próprias, mas em algumas regiões essa atuação pode se dar “por meio de parcerias com grandes empresas do setor”. A assessoria cita como exemplo o caso da ALZ Grãos, para atuação na região do Matopiba.
A empresa citada, coincidentemente, é uma joint venture da Amaggi com a mesma parceira com a qual participou e venceu o leilão no Porto de Paranaguá, a LDC.
Criada em 2009 pelos dois grupos justamente para operar, com estruturas portuárias e de armazenamento em uma região em que então elas não operavam, a ALZ é hoje uma potência que exporta mais de 3,5 milhões de toneladas de soja e milho e faturou R$ 10 bilhões em 2023.
O que não havia em 2009, mas hoje é parte fundamental da estratégia da companhia, é que onde tem presença da Amaggi tem dois dos negócios mais recentes do grupo: a comercialização de insumos e os serviços financeiros.
Segundo a empresa, a venda de insumos se dá tanto por meio das estruturas físicas, nos escritórios, quanto por meio do e-commerce Amaggi ON.
O modelo digital atende atualmente a produtores nos estados de Mato Grosso, Rondônia, Pará e Roraima, mais ao Norte, mas também já chegou a Minas Gerais e Goiás, mais ao Sul, e deve continuar avançando. “A disponibilidade do serviço tem sido expandida gradualmente”, informa a assessoria.
Também nessa área, a companhia conta com parceiros para a distribuição dos produtos comercializados nas diferentes regiões, o que permite um projeto de expansão mais rápida e com menos investimentos.
“Trabalhamos na maioria com centros de distribuição em que contamos com parceiros especializados em todo processo logístico”, diz a empresa.
Nas regiões onde a Amaggi já atua há mais tempo, “dezenas de escritórios e fábricas” funcionam como pontos de retirada dos insumos adquiridos pelo site.
“Hoje temos mais 30 armazéns espalhados pelo Brasil e o barter é sim uma das ferramentas de negociação utilizadas”, .
No AL5 Bank não é diferente. O grupo ressalta que seu objetivo é levar a instituição “a todas as localidades onde possa apoiar o desenvolvimento da produção agrícola”.
O modelo aqui também é leve. O banco não tem agências, mas conta com representantes instalados dentro das estruturas de outros negócios da companhia. De acordo com a assessoria da empresa, é possível solicitar informações sobre os produtos financeiros do AL5 em qualquer escritório da Amaggi. Inclusive, em breve, mais próximo de onde André, Lucia e os cinco filhos (a origem da sigla AL5) começaram a colocar a Amaggi no mapa do agro mundial.
Resumo
- A Amaggi está executando uma estratégia de expansão para o Sul e Sudeste, com novas unidades em estados como PR, SP, MG e GO.
- Um marco dessa nova fase foi a vitória no leilão do terminal portuário PAR25 em Paranaguá (PR), junto à LDC, com previsão de investimento de mais de R$ 1 bilhão
- A empresa aposta em uma atuação integrada, combinando compra de grãos, venda de insumos e oferta de serviços financeiros, inclusive por meio do banco AL5