Era dia 7 de março de 2024 quando o CEO da SLC Agrícola, Aurélio Pavinato, fez uma previsão aos analistas de bancos e corretoras que acompanhavam a call da empresa para mostrar os números do ano de 2023 para investidores: Com La Niña na temporada 2024/2025, a safra seria cheia e ajudaria os resultados da SLC.

A La Niña bem que ameaçou vir com intensidade, mas perdeu força. A previsão do executivo, porém, dita e feita. No primeiro trimestre de 2025, período em que a empresa realizou a primeira parte de sua colheita, com foco na soja, os números vieram acima do ano passado, e ajudaram o balanço da companhia a apresentar receitas e lucro em alta.

No primeiro trimestre de 2025, a receita líquida da companhia atingiu R$ 2,3 bilhões, uma alta de 19% em comparação ao mesmo período em 2024. O faturamento ajudou a turbinar o lucro líquido, que encerrou o período terminado em março em R$ 510 milhões, alta de 123%.

De acordo com o CFO da empresa, Ivo Brum, o grande fator para esse aumento anual nos números foi a produtividade da soja. “Ano passado tivemos um pouco de perdas pelo clima, mas esse ano recuperamos. Além do aumento de área, que com algumas aquisições, incorporamos 60 mil hectares extras na safra 24/25”, disse, em uma pequena coletiva para apresentar os resultados do trimestre.

Além da produtividade, a empresa vendeu mais soja em volume, e registrou menos custos do que no ano anterior. A SLC Agrícola cultivou a oleaginosa em 377 mil hectares, área 18% do que na temporada anterior.

A produtividade foi de 3,9 toneladas por hectare, 21,3% acima do que no ano passado. Considerando a produtividade média e a área divulgada, a SLC colheu algo em torno de 1,4 milhão de toneladas do grão. Em termos comerciais, a SLC comercializou 664,4 mil toneladas da oleaginosa por um preço médio de R$ 1,8 mil por tonelada no trimestre, patamar até levemente abaixo do que na temporada passada.

O aumento da lucratividade não foi só pelo volume mais alto, mas também por uma margem melhor, próxima de 49% na oleaginosa. O custo por tonelada de soja caiu 29,5% em um ano com a produtividade maior.

Nas outras culturas, com destaque para o algodão e o milho, Ivo Brum relembrou que são culturas que “ainda estão no campo”, e que o resultado da safra 2024/25 deve vir em linha com o ano anterior. Ele cita que houveram chuvas recentes no Mato Grosso que podem aumentar a produtividade para as culturas de inverno. “O milho safrinha deve ter um ganho expressivo”, disse.

Em termos de preço, deve haver um incremento apenas na pluma, no patamar de 5,6% em um ano. No algodão, o resultado do cultivo da primeira safra veio abaixo no âmbito operacional. Foram 95 mil hectares dedicados à pluma na primeira safra, uma área 10% menor do que no ano passado.

A produtividade foi levemente menor, em 1,9 tonelada por hectare. A companhia, contudo, vendeu um volume 25,9% maior na cultura na comparação anual, em 96 mil toneladas.

O custo do aumento de área

A SLC encerrou o trimestre com um fluxo de caixa negativo em R$ 1,4 bilhão, refletindo investimentos feitos em terras no período.

Brum cita os 40 mil hectares da Fazenda Paladino, na Bahia, e na Pamplona, em Minas Gerais, além da compra do percentual da Mitsui na Joint Venture SLC Mit.

“Esses pagamentos totalizaram mais de R$ 1 bilhão em Capex, e fundamentam esse caixa negativo”. A compra da Sierentz, que foi anunciada em março passado, só terá efeito no balanço no segundo semestre, conforme a SLC realizar o pagamento.

Dessa forma, a empresa entra na safra 2025/2026 com 837 mil hectares, já considerando os 100 mil da Sierentz. O mix ficará em 38% de áreas próprias e o restante arrendado, mostrando a estratégia asset light da companhia.

“A preferência pro futuro é arrendar, pois isso permite crescer mais em hectares. O momento, contudo, é de gerar caixa e reduzir a dívida”, completou Ivo Brum. A SLC encerrou o primeiro trimestre com uma dívida líquida de R$ 5,1 bilhões, uma alta de 41% em um ano.

A alavancagem, medida pela relação entre essa dívida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação), encerrou março em 2,27 vezes. Há um ano, estava em 1,8 vez. Brum ressalta que, como a empresa tradicionalmente gera caixa, o patamar atual de alavancagem ainda é confortável.

Nos covenants que baseiam os empréstimos que a empresa toma no mercado, o limite é de 4 vezes. “Acima de 2 vezes, reduzimos a velocidade de crescimento e focamos na geração de caixa”, diz.

Olhando para a safra 2025/2026, que se inicia em julho, a SLC já comprou 57% dos seus defensivos. A empresa estima que já investiu em 82% de todo cloreto de potássio, 69% nos fosfatados e 57% nos nitrogenados.

Se há pouco mais de um ano o CEO Aurélio Pavinato olhava para um futuro otimista, o CFO Ivo Brum repete a dose ao olhar para 2025/26. Além do aumento de área e de um potencial que ele vislumbra nas lavouras, ele cita que não prevê um aumento no custo dos insumos, o que é bom para as margens.

No clima, Ivo Brum prevê um cenário neutro com uma possível La Niña. Mesmo se o Brasil enfrentar o fenômeno climático, a SLC vê que o aumento de chuvas no Cerrado pode ajudar na produção.

O preço dos grãos, contudo, já é mais incerto dado o cenário externo, que hora precifica uma guerra tarifária entre China e EUA e outrora possíveis acordos comerciais envolvendo os dois países.

“Uma hora Chicago cai, aí vemos os prêmios internos subirem para estimular entregas. No outro dia, um suposto acordo pode sair do papel e Chicago sobe e o prêmio cai. Apesar disso, o nível está razoável entre R$ 110 e R$ 120 por saca, o que pode manter a margem. Só que termos ganho com aumento de área”, diz o CFO.

Resumo

  • Empresa somou R$ 2,3 bilhões em receita, alta de 19% em um ano. No lucro, avanço foi de 123%, e indicador bateu R$ 510 milhões
  • Ivo Brum, CFO da empresa, atribuiu o resultado positivo ao aumento de produtividade na soja, que por hectare, foi de 3,9 toneladas
  • Para a safra 2025/26, empresa já comprou 57% dos defensivos, e com mais área, prevê novo ano positivo