Foram exatos dois anos de espera – de 13 de junho de 2023, data do anúncio do negócio, a 13 de junho de 2025 – e uma série de obstáculos a serem vencidos.
O último deles superado nesta sexta-feira com a informação de que as autoridades antitruste chinesas aprovaram os termos da aquisição da Viterra pela Bunge, criando uma megatrading com negócios somados de US$ 110 bilhões anuais, com mais 180 milhões de toneladas de grãos comercializadas.
O sinal verde da China foi confirmado pela Bunge, que estimou a data de 2 de julho para o fechamento definitivo da transação, segundo informou a agência Bloomberg.
"Esta aprovação ressalta a lógica estratégica por trás da união da Bunge e da Viterra para criar uma empresa global líder em agronegócios", disse o CEO da Bunge, Greg Heckman, no comunicado.
Há dois anos, a Bunge ofertou US$ 18 bilhões à suíça Glencore pelos ativos da Viterra, trading com sede no Canadá e atuação global, inclusive no Brasil. O pagamento incluía um pacote de 65,6 milhões de ações da Bunge, com valor estimado na ocasião em US$ 6,2 bilhões, e os demais US$ 2 bilhões em dinheiro. Além disso, Bunge também concordou em assumir outros US$ 9,8 bilhões em dívidas da companhia suíça.
Pela sua extensão global, o negócio teve de ser apreciado em cerca de 40 países, sendo que uma negativa em alguns deles teria o poder de inviabilizar o negócio. Na data do anúncio da transação, a Bunge informou que esperava ter as aprovações nesses mercados em um ano, concluindo a aquisição em meados de 2024.
Entre os principais mercados, Estados Unidos e Brasil estiveram entre os primeiros a dar autorização para o negócio, dentro do prazo estimado pela Bunge. A própria companhia, que é registrada na Suíça mas tem sua sede corporativa nos Estados Unidos, e analistas esperavam que as principais dificuldades viriam do Canadá e na União Europeia, onde havia preocupações com uma possível concentração em mercados específicos.
E, de fato, elas ocorreram. Na Europa, uma das preocupações era de que a união das duas empresas poderia afetar as cadeias de suprimento das indústrias de alimentos, rações e biocombustíveis nesses países. Por isso, a aprovação da comissão antitruste da União Europeia, dada em agosto do ano passado, foim condicionada à venda do negócio de oleaginosas da Viterra na Hungria e na Polônia.
O mesmo aconteceu no Canadá, cuja decisão só saiu em janeiro de 2025. Lá, além da forte presença da empresa comprada, a Bunge também possuía uma participação na G3 Global Holdings, joint venture com uma empresa saudita.
Os órgãos de análise da concorrência entenderam que isso poderia gerar uma concentração maior do que o desejado no segmento de aquisição e armazenagem de grãos. Por isso, determinaram que a Bunge teria de se desfazer de alguns ativos da companhia, se comprometer a fazer investimentos e não tirar do Canadá a sede da empresa adquirida.
A maior dificuldade, porém, veio de onde, a princípio, não se esperava nenhum contratempo. Na China, a participação somada das duas companhias não geraria nenhuma concentração importante de mercado e, por isso, entendia-se que a aprovação deveria ser rápida.
Mas a burocracia chinesa e as tensões comerciais com os Estados Unidos fizeram com que o processo de análise se arrastasse por muito mais tempo que o esperado.
Com a aprovação chinesa, dos principais mercados fica faltando apenas a Argentina, mas como a legislação daquele país permite que o negócio seja selado e, posteriormente, feitos eventuais ajustes necessários, o fechamento da transação está marcada.
Com a incorporação da Viterra, a Bunge deve reforçar suas operações com grãos como trigo e milho, em que a empresa canadense tem presença global, com uma ampla rede de instalações de armazenamento e terminais portuários.
No Brasil, o negócio deve marcar a entrada da Bunge no mercado de algodão, outro destaque do portfólio da Viterra.
“Sempre me perguntavam aqui no Brasil: ‘Argentino, quando vocês vão entrar em algodão?’ Aqui está resposta”, brincou o argentino Julio Garros, co-presidente global de Agribusiness da Bunge, em um evento realizado em São Paulo pouco mais de um mês depois do anúncio do negócio, em 2023, como registrou reportagem do AgFeed.
Na ocasião, ele apresentou um gráfico apontando a complementaridade das operações de Bunge e Viterra. Enquanto a primeira – maior processadora de oleaginosas do mundo – é uma potência na soja, milho e canola, com protagonismo em países como Brasil, Argentina e Estados Unidos, a Viterra é líder em trigo, cevada e algodão.
“A Viterra nos completa o portfólio de produtos. Vamos participar em todas as culturas agrícolas, até mesmo lentilhas e outros que não consigo nem pronunciar”, completou.
Resumo
- Oferta de US$ 18 bilhões envolvia US$ 6,2 bilhões em ações, US$ 2 bilhões em dinheiro e o compromisso de assumir dívidas da Viterra
- Conclusão do negócio cria uma gigante de US$ 110 bilhões em receitas anuais, com mais 180 milhões de toneladas de grãos comercializadas.
- No Brasil, compra da Viterra deve marcar a entrada da Bunge no mercado de algodão