Demorou mais do que o previsto, foi mais difícil do que se imaginava, mas está perto do fim a via crucis da Bunge pelos órgãos regulatórios dos principais mercados do mundo para obter a aprovação da compra da Viterra.

Anunciada em junho de 2023 e inicialmente prevista para ser concluída no primeiro semestre de 2024, o fechamento da aquisição – avaliada em US$ 18 bilhões (sendo US$ 8 bilhões em compra de ações e o restante assumindo dívidas) – recebeu nesta terça-feira, 14 de janeiro , o sinal verde das autoridades canadenses.

Desde a comunicação do negócio, há mais de um ano e meio, a aprovação no Canadá era tida como a mais complexa. Lá, além da forte presença da empresa comprada, a Bunge também possui uma participação na G3 Global Holdings, joint venture com uma empresa saudita.

Para os órgãos de análise da concorrência, isso poderia gerar uma concentração maior do que o desejado no segmento de aquisição e armazenagem de grãos e, por isso, esperava-se que fossem impostas condições para que o acordo fosse aprovado.

A negociação com o governo canadense foi longa e, de fato, resultou em um “sim” seguindo de um “porém”. Sim, a Bunge poderá incorporar as operações da Viterra no país norte-americano. Porém, precisará se desfazer de alguns ativos da companhia, se comprometer a fazer investimentos e não tirar do Canadá a sede da empresa adquirida.

Assim, a Bunge comunicou que deve, como acordado, vender seis elevadores de grãos e que aceitará um maior controle do estado sobre a sua participação minoritária na G3, Já o compromisso de investimento é de cerca de US$ 362 milhões nos próximos cinco anos.

“Este é um marco importante no processo para concluir a transação Bunge-Viterra”, disse a Bunge em uma declaração. “Com a aprovação canadense, estamos quase concluindo o processo regulatório e esperamos fechar no início de 2025.”

A aprovação do Canadá era a maior pedra no caminho da formação de uma supertrading avaliada em US$ 25 bilhões. No ano passado, outros mercados importantes para a companhia, como Brasil, União Europeia e Estados Unidos, já haviam liberado o fechamento da transação.

Agora, resta a China, que não era considerada um entrave relevante pelas empresas, já que as operações das duas empresas, somadas, não representariam risco de concentração no país asiático.

A demora no processo, entretanto, pode ter trazido à mesa um componente que, quando o negócio foi anunciado, não estava no radar da Bunge: a possibilidade de uma guerra comercial entre Estados Unidos e China.

Com a volta de Donald Trump à Casa Branca, no próximo dia 20 de janeiro, espera-se o acirramento das tensões entre os dois países, com o agronegócio ocupando lugar de destaque nesse cenário.

No primeiro mandato de Trump, por exemplo, os chineses reduziram as importações de commodities agrícolas americanas em resposta à elevação de tarifas impostas aos seus produtos pelos EUA.

Agora, Trump ameaça reeditar a medida. A reação dos chineses pode envolver retaliações inclusive a empresas americanas. Para a Bunge, a tensão continua.