Que a safra passada não foi generosa com a cana no Centro-Sul, todo mundo já sabe. A questão é que, levando em consideração balanços de empresas do setor, a temporada atual promete repetir a dose.

No período que foi da entressafra no começo do ano até o primeiro trimestre da temporada, os canaviais mostraram atraso no desenvolvimento, sofreram com chuvas irregulares e queda nos indicadores de produtividade, como o TCH e o ATR.

Num cenário de baixa, qualquer percentual de aumento de produtividade faz a diferença. Enquanto a cana patina, a Canac avança. E é nesse cenário que a startup, que utiliza dados de produção, umidade e clima e os transforma em indicadores agroclimáticos, gerando recomendações de manejo para canavicultores, tem atuado e crescido.

Segundo revelaram os dois fundadores da empresa, Eduardo Salvador e Ricardo Inojosa, ao AgFeed, nos últimos dois anos, a agtech triplicou a quantidade de hectares monitorados com seu programa.

Da conversa anterior com o AgFeed, em dezembro de 2023, até agosto de 2025, a área passou de 150 mil hectares para 400 mil hectares. O faturamento, apesar de não revelado, acompanha o avanço de área plantada, já o modelo de negócio da startup leva em consideração o número de hectares monitorados.

Somado a isso, a agtech aumentou substancialmente sua cartela de clientes, e tem hoje uma atuação junto a nove usinas. Além da mineira Cerradão e da paulista Alta Mogiana, agora tem como clientes os grupos Da Mata (SP), Araporã Bioenergia (com operações entre Minas Gerais e Goiás), Itaperucu (MA) e as usinas da Bunge em Junqueirópolis e Guararapes, que antes pertenciam à Viterra.

Segundo os eempreendedores, dois novos contratos com grandes grupos estão em fase final de assinatura. “Operamos agora em diferentes regiões e diferentes perfis de cliente, desde uma empresa com ‘perfil de dono’ até grupos grandes de capital extrangeiro”, pontuou Ricardo Inojosa.

Os executivos afirmam que a empresa já gera caixa desde o final de 2023, e por isso, não vislumbra uma rodada de investimentos num futuro próximo. No passado, a companhia já recebeu investimento de dois investidores-anjo: Luiz Silvestre, head de trade da Sucden, e John Zarb, da IBP Consultoria.

Além do aporte, o conhecimento dos dois sobre o setor também ajudou a empresa a conquistar os primeiros clientes.

No primeiro aporte, entre 2021 e 2022, o valor da empresa (valuation) estava em R$ 7 milhões, e no segundo cheque, ao final de 2023, esse valuation saltou para R$ 15 milhões, segundo os executivos.

Na época desse aporte, a companhia acabava de comemorar seu segundo cliente, e atribui esse crescimento a um foco em melhorar sua tecnologia desde então. De lá pra cá, a startup dobrou o número de funcionários de cinco para 10 pessoas. “Focamos esse último ano e meio em melhorar o app de campo e nos tornamos uma empresa de tecnologia, sendo 100% voltada para usinas de cana”, disse Inojosa.

A Canac surgiu em 2016 como uma consultoria idealizada pelos dois sócios, que se conheceram na época que estudaram juntos na Esalq/USP.
Enquanto atuavam diretamente em algumas usinas, eles perceberam que, para compensar os poucos anos de carreira profissional, tinham que agregar um valor tecnológico no serviço.

Com isso, os dois agrônomos se depararam com uma dificuldade técnica, e passaram a terceirizar para desenvolvedores algumas ferramentas. Em 2019, a usina Cerradão provocou os empresários com um pedido de uma ferramenta que ajudasse a projetar o tamanho da safra.

Hoje, com um posicionamento tecnológico, tem um app utilizado por cerca de 500 pessoas no campo.

O sistema integra informações de produção, umidade e clima para gerar indicadores agroclimáticos que ajudam a definir desde a sequência de colheita até a aplicação variável de insumos.

Em épocas de escassez de chuva e canaviais se recuperando das queimadas de 2024, uma das funcionalidades desenvolvidas nesse último ano e meio envolve um uso otimizado do biofertilizante feito a partir do resíduo da vinhaça, coproduto da geração de cana.

“Desenvolvemos uma calculadora que entrega essa ‘irrigação variável’. O programa olha para o solo como uma caixa d’água, e faz essa aplicação conforme a necessidade de cada talhão”, disse Ricardo Inojosa.

“Reduzir 10 milímetros de déficit hídrico pode parecer pouco, mas quando se multiplica isso por 70 mil hectares, o impacto é enorme”, acrescenta Eduardo Salvador.

Resumo

  • Canac triplicou sua área monitorada em dois anos, passando de 150 mil para 400 mil hectares, mesmo com queda de produção nos canaviais
  • Carteira de clientes também aumentou para nove usinas, incluindo Cerradão, Alta Mogiana, Da Mata, Araporã Bioenergia, Itaperucu e Bunge
  • Agtech utiliza dados de produção, umidade e clima e transforma em indicadores agroclimáticos, gerando recomendações de manejo para canavicultores