Foram cerca de 11 meses de espera até que o sinal verde fosse dado pelas autoridades brasileiras de análise concorrencial. Nesta sexta-feira, 10 de abril, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, do Ministério da Justiça, concluiu com um voto favorável, sem restrições, o processo de análise da fusão das operações da americana Bunge e da suíça Viterra, duas das maiores tradings do mundo, no Brasil.

O despacho do Cade foi publicado em primeira mão pelo jornalista Rikardy Tooge, em seu perfil no LinkedIn.

A transação foi anunciada no dia 13 de junho do ano passado, com um valor final estimado em cerca de US$ 18 bilhões, que inclui os valores a serem pagos pela Bunge à suíça Glenncore, então controladora, e aos demais acionistas da Viterra, além da dívida da empresa suíça a ser assumida pelo grupo americano, avaliada em US$ 9,8 bilhões.

“Nossos ativos são altamente complementares e criarão uma rede que conecta as principais regiões produtoras do mundo com as que apresentam o mais rápido crescimento no consumo”, afirmou, na ocasião, Greg Heckman, CEO da Bunge e, agora, da nova companhia formada após a fusão.

Juntas, as duas companhias formam uma megatrading com receitas próximas de US$ 110 bilhões, que coloca a Bunge mais próxima das suas principais concorrentes, as também americanas ADM e Cargill. As operações de Bunge e Viterra somam mais 180 milhões de toneladas de grãos comercializadas.

Por suas dimensões globais, o negócio passou pelo crivo de autoridades concorrenciais em 40 países. A aprovação do negócio no Brasil era visto como estratégico pelas empresas, seja pelo tamanho do mercado, seja pela possibilidade de que o Cade identificasse pontos de concentração de mercado e sugerisse restrições para autorizar a fusão.

Não por acaso, foi aqui que, em setembro passado, o co-presidente global de Agribusiness da Bunge, o argentino Julio Garros, falou publicamente pela primeira vez sobre a transação, para um público de cerca de 600 grandes produtores rurais brasileiros reunidos em são Paulo em um evento promovido pela Orígeo, joint-venture da Bunge com a fabricante de insumos indiana UPL.

No envcontro, ele apresentou um gráfico apontando a complementaridade das operações de Bunge e Viterra. Enquanto a primeira – maior processadora de oleaginosas do mundo – é uma potência na soja, milho e canola, com protagonismo em países como Brasil, Argentina e Estados Unidos, a Viterra é líder em trigo, cevada e algodão.

Segundo Garros, somadas as duas companhias teriam “capacidade e abrangência total, perfeita, com volumes absurdos”. Em números atuais, seriam mais de 230 milhões de toneladas de commodities agrícolas movimentadas por ano.

O desafio de aprovação permanece, entretanto, em outros mercados relecantes. O Departamento de Concorrência do Canadá, por exemplo, divulgou há algumas semanas um documento onde afirma ter identificado “grandes preocupações com relação à concorrência em torno da proposta de fusão”.

Para as autoridades canadenses, o acordo “provavelmente resultará em efeitos anticoncorrenciais substanciais e em uma perda significativa de rivalidade entre a Viterra e a Bunge nos mercados agrícolas do Canadá”. O órgão afirma ter identificado que a transação pode prejudicar a concorrência do mercado de compra de grãos no Oeste do país.

Na visão do departamento, uma vez concretizada, a fusão colocaria a Bunge numa posição de influência frente aos concorrentes, já que o grupo americano possui também participação de 25% na G3 Global Holdings, uma joint venture com uma empresa saudita que opera instalações de grãos no Canadá e que é um concorrente local da Viterra.